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    Agrotóxicos e a saúde pública
    Autor: Janaína Luna Santos, dir. Região Centro
    07/12/2021

    No último dia 3 de dezembro, foi celebrado o Dia Internacional do Não Uso de Agrotóxicos. Para nós, funcionários públicos da saúde, este tema é essencial pois se insere no campo da saúde pública, ainda mais no Brasil, país campeão no uso do que se chama por aí de defensivos agrícolas, uma maneira suave de dizer "veneno".

     

    Para se ter uma ideia, nos últimos três anos foram aprovados no Brasil mais de 1.400 agrotóxicos, muitos deles proibidos na Europa por serem uma ameaça à saúde da população. Muitos desses produtos estão associados a doenças como o câncer, podendo gerar também malformações em fetos e provocar danos neurológicos em trabalhadores(as) que aplicam esses insumos.

     

    Ao participar do programa “Opinião”, da TV Cultura, recentemente, a médica sanitarista Telma Nery salientou que, nos últimos quatro anos, foram autorizadas no Brasil 2 mil novas substâncias para uso na agroindústria. “E a fome reduziu no Brasil? Não, pelo contrário”.

     

    Grande parte desses defensivos agrícolas estão no café, tomate, frutas, legumes, verduras e outros itens de necessidades básicas, envenenando a conta gotas os brasileiros e, além disso, o meio ambiente.

     

    Ainda segundo a médica, 30% dos agrotóxicos utilizados no Brasil com o argumento de fomentar a produção de alimentos foram banidos na Europa, como a substância atrazina, que é cancerígena.

     

    Como a produção de soja, milho, café e outros produtos agrícolas correspondem a grande parte das exportações brasileiras, esse setor tem muita força no Congresso Nacional. A bancada ruralista está lá para defender a riqueza do agro e de multinacionais que produzem os defensivos agrícolas que contaminam nossos corpos, nosso solo e meio ambiente. Vale lembrar que grande parte desses conglomerados também produzem os remédios que ingerimos (veneno e remédio. Entendeu?).

     

    Falta fiscalização

    Fazendo o contraponto dos argumentos da doutora Telma, também participou do programa Christian Lohbauer, presidente executivo da Croplife Brasil, e candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo banqueiro João Amoêdo, nas eleições de 2018. A Croplife é uma associação que reúne especialistas, instituições e empresas que atuam na pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para o campo, incluindo os tais defensivos agrícolas.

     

    No programa da Cultura, ele tentou desqualificar as falas da médica, dizendo que os estudos correlacionando doenças com o uso de agrotóxicos são infundados. No entanto, ele mesmo caiu em contradição, quando disse que muitos dos defensivos usados no Brasil foram banidos lá fora por terem tecnologias ultrapassadas. Além disso, concordou com a médica quando ela disse que falta fiscalização no campo para verificar quanto e como essas substâncias são aplicadas, colocando em risco a vida do consumidor, a saúde do trabalhador do campo e a do meio ambiente.

     

    Telma Nery lembrou que estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, mesmo usando equipamentos de proteção individual (EPI’s), os(as) trabalhadores(as) do campo tem agravos à saúde.

     

    Isso me fez pensar nas trabalhadoras e trabalhadores da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), tão expostos a venenos para o controle de pragas urbanas. A saúde desses(as) profissionais é monitorada como deveria? Sabemos que não. O próprio SindSaúde-SP acompanhou o adoecimento e morte de alguns profissionais.

     

    Por fim, sabemos que o uso de substâncias químicas contra pragas no campo permitiu a evolução na produção de alimentos no Brasil e no mundo, embora o Brasil tenha voltado ao mapa da fome, em uma demonstração de que está em curso uma inversão de valores.

     

    Sabemos também que os alimentos orgânicos, produzidos dentro de parâmetros mais naturais, com mais respeito à terra, ao meio ambiente e ao consumidor, ainda é restrita a uma camada mais abastada da população, pois os preços ainda são impeditivos. Boa parte desses alimentos é produzida por pequenos agricultores, cooperativas ou organizações sociais, como o Movimento dos Sem Terra.

     

    Enquanto o acesso a esses produtos agroecológicos não chega a todos, cabe a nós nos mobilizarmos contra o lobby do veneno, que coloca nossa saúde e vidas em risco.