SindSaúde-SP lança Campanha de Combate ao Racismo durante o 13º Congresso: SOMOS AS ESTRELAS DO SUS
    Autor: Redação SindSaúde-SP
    15/12/2022



    No dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, o SindSaúde-SP realizou o ato de lançamento da campanha “Basta de Racismo!”. O evento, realizado durante o 13º Congresso: SOMOS AS ESTRELAS DO SUS, foi conduzido pela secretária de Igualdade de Oportunidades, Renata Scaquetti, e contou com a participação da presidenta do Sindicato, Cleonice Ribeiro; da secretária-geral, Célia Regina Costa; da diretora da região do ABC, Gilvânia Santos Santana; e do diretor da região Oeste I da capital, José Carlos Salvador. Confira o vídeo do ato no final do texto.

     

    Na abertura do evento, foi realizada uma intervenção artística por delegadas e delegados do 13º Congresso: eles declamaram, em forma de jogral, a letra da música A Carne, composta por Seu Jorge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette, que virou um símbolo de resistência na voz de Elza Soares.

     

    Após a intervenção, as representantes do SindSaúde-SP se pronunciaram sobre o racismo, as diferentes formas de discriminação, a importância da campanha Basta de Racismo e da luta sindical no combate às desigualdades.

     

    A presidenta Cleonice falou das dores e dificuldades dos grupos minorizados e também sobre a importância de denunciar o racismo e todas as formas de discriminação. “Só sente a dor aquele que está na pele. Mas a gente não pode abaixar a cabeça! Aqui, são homens e mulheres guerreiras, que estão no dia a dia em seus locais de trabalho, e temos que ter a coragem de denunciar”, disse a presidenta. E completou: “Só quem sabe o suor que escorre, o chicote invisível no lombo, somos nós! Não abaixe a cabeça, pelo contrário, vamos andar de cabeça erguida. Com muita luta e muita garra.”

     

     

    A campanha

     

    Para a secretária Renata, o combate ao racismo é o lugar de luta de todos, sejam brancos, pretos, indígenas ou amarelos. “Todos nós, que queremos uma sociedade justa e igualitária, cabemos na luta antirracista. Os movimentos sociais reafirmam: ‘nada sobre nós sem nós’. De fato, existe a questão do lugar de fala, mas o lugar de luta é de todos, de todas e de todes”, defendeu.

     

    Renata ainda lembrou o importante papel do SindSaúde-SP no combate à discriminação, tendo a Secretaria de Igualdade de Oportunidades do Sindicato como impulsionadora de ações propositivas. “Se nós somos um sindicato e representamos os trabalhadores, este é o nosso lugar de luta!” Ela explicou que essa Secretaria tem o papel de desenvolver políticas de igualdade de oportunidades e combate à discriminação: “igualdade de oportunidades parte da ideia de que todo mundo na sociedade, no mundo, no trabalho, tem que ter as mesmas oportunidades. E combate à discriminação, porque nós não podemos tolerar nenhum tipo de preconceito e discriminação. É um debate muito fundamentado nas políticas da CUT e da ISP, que sempre tiveram esse trabalho com os coletivos”. Renata ressaltou que o Sindsaúde-SP sempre teve o olhar voltado para a interseccionalidade entre os segmentos de juventude, combate ao racismo, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e mulheres: “são coisas que acrescentam, trazem especificidades, mas também trazem muitas desigualdades sociais. Enquanto sindicato, a gente tem que ter um olhar para todas essas questões. Porque o trabalhador também quer enxergar a sua luta e suas questões específicas dentro do sindicato.”

     

    A dirigente sindical ainda contou que a ideia da campanha “Basta de Racismo!” do SindSaúde-SP surgiu devido ao caso de racismo sofrido por Rosana Rodrigues, Delegada Sindical de Base (DSB) e trabalhadora do PAM Várzea do Carmo, e explicou que o Sindicato exerce a função de dar respaldo para os(as) trabalhadores(as) que sofrem racismo ou injúria racial. “É importante fazer a denúncia de forma correta, procurem o SindSaúde-SP para que a gente possa auxiliar nesse processo, porque é nosso papel amparar o trabalhador nesta luta. Esta campanha está à disposição de todos os locais de trabalho, de todas as regiões. A gente precisa debater, conversar sobre racismo, tem que ter ações preventivas para evitar que essas situações aconteçam”, concluiu Renata.

     

     

    Sem medo de denunciar

     

    Rosana, que estava na Praça Carlos Neder, palco do 13º Congresso, relatou a situação de racismo que sofreu no seu local de trabalho. “Fui lavar minha salada na copa. Só estava eu e a diretora técnica. Coloquei a salada de molho e ela falou: ‘Nossa, você vai deixar aí de molho? Olha, que tem situações aqui que some mistura da marmita.’ Deixei a salada de molho e disse: ‘Se a pessoa pegar é porque está com fome. Já passei fome na vida e sei como que é’. Saí e meia hora depois voltei. Ela já não estava sozinha. Havia um colega dela do lado esquerdo e outro na sua frente. Entrei comentando do cheiro de água sanitária e virei as costas para esquentar minha comida. Nesse momento, ela virou para mim com ar de deboche e falou ‘que era para matar as blacktérias’. O colega que estava de frente para ela zombou da situação e ainda falou assim: ‘hahaha para matar as blacktérias, essa é boa’”, relatou.

     

    Rosana ainda relatou que ficou sem ação. “Eles levantaram correndo e saíram. Eu peguei a minha marmita, que eu ia esquentar, e joguei tudo dentro do lixo e comecei a chorar. Então, eu liguei para o Paulo, o diretor do SindSaúde-SP da minha região, e ele disse: ‘Rosana, isso é um ato de racismo!’”, descreveu.

     

    “Sou delegada sindical e também sou da Comsat da minha unidade de saúde. Relatei o ocorrido para a Comsat. Uma das pessoas perguntou para mim se tinha testemunha e eu respondi que não, porque as duas pessoas que estavam lá são amigos dela. Mesmo assim foi uma comoção muito grande. O Várzea do Carmo é grande, ninguém estava lá e todo mundo acreditou, porque está todo mundo cansado dos assédios dela”, concluiu Rosana.

     

    Organização sindical no combate ao racismo

     

    A secretária-geral do SindSaúde-SP falou sobre a diversidade de trabalhadores(as) da saúde e sobre a importância de erguer a cabeça e seguir enfrentando o racismo e as outras discriminações. “A nossa categoria é composta de uma maioria de mulheres, que sofrem machismo. Grande parte da nossa categoria é LGBTQIA+. A nossa sociedade é preconceituosa e racista, nós temos que admitir isso. Porque na hora que nós admitirmos isso, nós teremos condição de transformar a sociedade, como nós estamos fazendo neste momento, conversando aqui com vocês e fazendo este ato no dia 20 de novembro em combate ao racismo no Brasil. É só dessa maneira, porque existem as leis, mas elas não são cumpridas. E por que não são cumpridas? Porque nada neste país é cumprido de uma forma em que os trabalhadores não estejam organizados”, avaliou Célia.

     

    Para ela é papel de toda a categoria combater todo o tipo de discriminação. “Nós, da área da saúde, temos um papel estratégico com a nossa força de trabalho, de transformar o nosso local de trabalho num lugar sem nenhum tipo de discriminação. Vocês já viram quem são os diretores dos seus locais de trabalho? Em sua maioria ou são homens brancos ou são mulheres brancas, são poucos diretores em local de trabalho que são negros, pois o racismo existe. Mas não vamos ficar chorando, ergueremos a cabeça e vamos à luta!”, concluiu.

     

     

    Representatividade importa

     

    A diretora do ABC falou sobre sua representatividade e sobre o convite para iniciar o trabalho de recomposição do Coletivo Estadual de Combate ao Racismo que virá no próximo período. “Hoje, eu represento uma coletividade, mulheres negras, mulheres guerreiras, mulheres trabalhadoras, a gente tem que fazer a luta, a gente tem que acreditar naquilo que a gente está fazendo”, ponderou Gilvânia. E completou: “Sou auxiliar de enfermagem, trabalho no Hospital Nardini, do município de Mauá, e, pela minha luta, a direção do SindSaúde-SP me fez o convite, estou aqui e a categoria me reconheceu para estar lutando aqui pelos trabalhadores, estar lutando pelas trabalhadoras e agora na igualdade racial. Nós estamos montando este coletivo para que a gente defenda os nossos direitos nos locais de trabalho. Mas se vocês não abraçarem esta luta e não fizerem este diálogo com os nossos colegas, o nosso trabalho será em vão”, pediu.

     

    “Então, peço a vocês que nos ajudem, dentro dos locais de trabalho, fazendo a denúncia, não deixem nossos colegas tristes, não deixem nossos colegas adoecerem. Deixem que eles saibam que o SindSaúde-SP sempre teve este espaço e agora está abrindo mais uma porta para o trabalhador fazer a sua reclamação. O SindSaúde-SP é composto em sua maioria por mulheres negras, e nós jamais vamos abandonar a luta. Basta de Racismo!”, finalizou Gilvânia.