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    Onde estão as outras vacinas?
    Autor: Editorial SindSaúde-SP
    22/01/2021

    Durou pouco a alegria dos brasileiros esta semana, quando, finalmente, demos início à vacinação contra a Covid-19. A vacina chegou, mas veio atrasada. E na segunda-feira seguinte àquele histórico 17 de janeiro, quando testemunhamos a primeira profissional da saúde ser vacinada contra a Covid-19 (a enfermeira Mônica Calazans, do Emílio Ribas), acordamos com uma espécie de ressaca moral. Ao despertarmos do torpor inicial da vacinação, nos demos conta: onde estão as outras vacinas?

     

    Com apenas 6 milhões de doses da Coronavac - vacina disponível graças aos funcionários públicos do Instituto Butantan, que, num acordo com a chinesa Sinovac, conseguiram colocá-la à disposição da sociedade brasileira -, o ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, após pressão de governadores que viram o governador marqueteiro João Doria Jr. sambar na cara deles, decidiu abraçar a vacina e redistribuí-la aos estados.

     

    A redistribuição obrigou São Paulo a rever seu Plano Estadual de Imunização (PEI), afunilando ainda mais a fila.

     

    Choro

    Assim, o critério de início de vacinação teve que ser revisto. Com pouco mais de 1,3 milhão de doses disponíveis, o estado de São Paulo restringiu a lista inicial aos profissionais de saúde diretamente ligados ao tratamento de pacientes com Covid. Até o início desta noite, pouco mais de 100 mil haviam sido vacinados.

     

    Além da vacina do Butantan, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio de Janeiro, também entrou na parceria Oxford/AstraZeneca. Porém, a inabilidade gerencial e diplomática do governo brasileiro fez com que a Índia, onde as vacinas são produzidas, enviasse somente no fim da tarde desta sexta-feira para o Brasil as 2 milhões de doses previamente acordadas.

     

    O atraso na entrega levou às lágrimas a médica Margareth Dalcolmo, na última terça-feira (19). A médica pesquisadora da Fiocruz, que trabalhou duro para que o país tivesse a vacina da Oxford, não conteve o choro ao dizer que o que aconteceu “foi absoluta incompetência diplomática do Brasil”.

     

    Sindicatos

    De fato. O país tropeçou com a Índia e, também, com a China. A inabilidade para a diplomacia do Chanceler, Ernesto Araújo, fez com que os chineses atrasassem a entrega dos insumos necessários para o Butantan produzir a Coronavac.

     

    Diante da negativa dos chineses (Araújo fez ofensas à China nas redes sociais), outros atores decidiram arregaçar as mangas.

     

    O Fórum das Centrais Sindicais, que inclui a Central Única dos Trabalhadores (CUT), reuniu-se com a direção da federação nacional dos sindicatos da China, a maior do mundo (representa 302 milhões de trabalhadores), pedindo que interceda junto ao governo chinês em favor do Brasil.

     

    Os sindicalistas chineses prometeram ajudar.

     

    Globalização

    Nesta sexta-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso de 4,8 milhões de doses da Coronavac que haviam sido produzidas pelo Butantan (o primeiro lote, de 6 milhões, foi produzido na China).

     

    Por ora, temos, então, cerca de 13 milhões de doses de vacinas. Como são necessárias duas doses para a eficiência da imunização contra a Covid-19, esse volume cobre cerca de 6,5 milhões de pessoas, uma ínfima parte do que esse país gigante necessita.

     

    O Butantan tem capacidade para produzir 1 milhão de doses por dia da Coronavac. Mas, para isso, precisa dos insumos chineses.

     

    O episódio nos mostra que, num mundo globalizado, é muito importante manter boas relações com parceiros estratégicos.

     

    Mas...

    Desde o início da pandemia, o governo brasileiro teve todos os elementos sobre o que não fazer na pandemia. Mas preferiu, ora não fazer nada, ora fazendo tudo errado, como negar a Ciência, a vacina, receitar remédios sem eficácia comprovada e chamar a Covid-19 de gripezinha.

     

    Hoje, graças ao trabalho árduo do funcionalismo público, temos duas vacinas. Mas poderíamos ter mais se, em vez de politizar a pandemia e a vacina, o governo tivesse agido para garantir outras vacinas, como outros países fizeram.

     

    Enquanto outras nações já avançaram na imunização, nós nem temos ainda um calendário definido de vacinação. Estamos à espera do “dia D” e da “hora H” do ministro Pazuello.

     

    Avanço

    A pandemia avança a passos largos. Vivemos a segunda onda. As trabalhadoras e trabalhadores da saúde estão exaustos. Temos mais de 210 mil mortes. Somos o segundo país em número de óbitos no mundo e isso diz muito sobre a falta planejamento, previsibilidade e cuidado na gestão da pandemia pelo governo brasileiro.

     

    O choro de Margareth Dalcolmo nos representa.