Sindicato unido e forte
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    Três anos de muitos desafios
    Autor: Cleonice Ribeiro, presidenta do SindSaúde-SP
    22/12/2021

    Minha querida companheira e meu querido companheiro profissional de saúde:

     

    Estamos encerrando mais uma gestão à frente do SindSaúde-SP, sendo que, desta vez, comigo - mulher, negra e profissional de saúde com mais de 30 anos de ofício - na presidência dessa entidade gigante e desafiadora. Posso dizer-lhes que nem nos meus maiores devaneios poderia imaginar a imensidão de desafios que teríamos pela frente. Foram tempos de pedras – muitas pedras! Também foi um período em que ter esperanças foi um luxo destinado a poucos.

     

    Sob minha gestão à frente do SindSaúde-SP, enfrentamos a pior crise sanitária em cem anos, com inúmeras perdas para nós, trabalhadores(as) da saúde, que contribuímos muito para somar a cruel estatística de vidas perdidas. Eu mesma, assim como muitos de meus companheiros e companheiras do Sindicato, perdemos amigos(as), colegas, pessoas próximas.

     

    Mas, a despeito da pandemia e da necessidade de se manter os protocolos sanitários, não nos isolamos. Estivemos mobilizados o tempo todo, pois, não bastasse a dureza de termos que conviver com esse inimigo invisível que ainda está entre nós – o coronavírus -, fomos surpreendidos por projetos e medidas do governo de João Doria Jr., retirando direitos e desmantelando a estrutura pública da saúde.

     

    Durante a pandemia, realizamos muitos atos e lives debatendo a saúde pública e lutando para que os profissionais de saúde – que foram chamados de heróis e recebidos com palmas por governantes e toda a sociedade – não perdessem seus direitos e pudessem trabalhar com dignidade, respeito e a segurança que o momento exigia.

     

    Há anos, as trabalhadoras e trabalhadores públicos da saúde do estado de São Paulo lutam por reconhecimento, melhores condições de trabalho e salário, mas o que vimos é que, o mesmo governo que os chamava de heróis, arrancava-lhes os direitos.

     

    EPI’s

    Nesses três anos de gestão à frente do Sindicato, fomos várias vezes pegos de surpresa por projetos, decretos, medidas lançadas na calada da noite que desmancharam direitos e benefícios.

     

    Enquanto gastava milhões na construção de hospitais de campanha tocados por organizações sociais, o governo do estado retirava recursos da saúde pública, deixando a população mais carente sem atendimento digno.

     

    Nesse período, o SindSaúde-SP se mobilizou todo o tempo para exigir do governo do estado a aplicação dos recursos na saúde pública e na compra de materiais para proteger os profissionais de saúde da linha de frente da Covid-19. Sabemos que a pandemia só não foi mais drástica no Brasil graças ao Sistema Único de Saúde (SUS), o qual o SindSaúde-SP defende com todo o fervor.

     

    No começo da pandemia, abrimos um canal de denúncias em nosso site para que as trabalhadoras e trabalhadores da saúde pudessem denunciar a falta de equipamentos de proteção individual (EPI’s). No começo da crise sanitária, recebemos diversas reclamações de que as máscaras, por exemplo, não tinham boa qualidade e não eram fornecidas em quantidade suficiente para que fosse feita a troca no tempo mínimo (a cada duas horas).

     

    Ingressamos, então, com uma queixa no Ministério Público do Trabalho (MPT) para exigir que o governo do estado comprasse EPI’s de qualidade e quantidade suficiente para dar segurança às trabalhadoras e trabalhadores. Somente após a nossa intervenção, a situação foi normalizada.

     

    Salário indigno

    Há anos o funcionalismo público do estado está sem reajuste e reposição de perdas salariais. Nas campanhas salariais de todos os anos, faz parte de nosso pleito a exigência de que o governo do estado cumpra a data-base de 1º de março, conforme previsto na Lei 12.391, de 23 de maio de 2006, e sente na mesa para ao menos ouvir o que temos a dizer, algo que o governo Doria nunca fez.

     

    Este ano, finalmente, a direção do SindSaúde-SP conseguiu ser recebida pelo secretário de Estado da Saúde, Jean Gorinchteyn, para um início de conversa. Ainda não podemos celebrar definitivamente – afinal, nossa pauta ainda não foi atendida -, mas, ao menos, um grande primeiro passo foi dado.

     

    Na nossa pauta de reivindicações deste ano estão reposição salarial de 17,82%; aumento real dos salários de 2%; reajuste do vale-refeição para R$ 35,13; prêmio de incentivo; gratificações e jornada máxima de 30 horas.

     

    Entendemos que esse pleito é o mínimo necessário para dar um pouco de dignidade aos profissionais de saúde, que têm sido tão sobrecarregados pela falta de concursos públicos e de reconhecimento, e pela pandemia.

     

    Ações a favor das(os) trabalhadoras(es)

    Em nossa gestão, buscamos meios de estarmos mais próximos de nossa base. Criamos um boletim via WhatsApp com notícias de interesse da categoria; entre o fim de 2019 e início de 2020, realizamos um curso de formação de delegados sindicais de base (DSB’s), em Cajamar, o qual foi extremamente importante para nós, pois entendemos que os DSB’s têm papel relevante dentro da estrutura sindical.

     

    Realizamos, também, diversas mobilizações. Em fevereiro deste ano, por exemplo, o SindSaúde-SP organizou um grande ato, que teve apoio de ex-pacientes, mães de pacientes e a comunidade local contra a venda do terreno onde hoje está o Hospital Infantil Darcy Vargas, no Morumbi, zona sul da capital paulista. Após a mobilização, a direção do hospital desistiu da mudar o local de endereço.

     

    Aliás, vender/terceirizar/sucatear a coisa pública está na cartilha do governo Doria, que cogitou, por exemplo, tirar recursos do Instituto Butantan. Ainda bem que o governo não conseguiu concretizar seu plano! Não fosse o instituto, não teríamos a primeira vacina contra a Covid-19 disponível no país.

     

    Também lutamos incansavelmente contra a reforma da previdência estadual, em março de 2020, quando a pandemia começava no país. Fizemos um grande ato no prédio da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), onde fomos recebidos com bomba de gás lacrimogênio pela tropa de choque do governo. Infelizmente, apesar de toda nossa mobilização, o projeto foi aprovado, piorando as regras da aposentadoria e aumentando as alíquotas de contribuição.

     

    Realizamos atos em frente à Secretaria de Estado da Saúde, dentro da Campanha Salarial 2020, contra o fechamento e terceirização dos hospitais de São Matheus e do Guaianases; um grande ato em homenagem aos trabalhadores da saúde vítimas da Covid-19; e outro quando o país chegou à triste marca de 100 mil mortos.

     

    No fim do ano passado, também nos mobilizamos fortemente contra a primeira reforma administrativa e fiscal do estado – o famigerado Projeto de Lei 529, que virou a Lei 17.293, de 16 de outubro de 2020 -, que acabou com a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) e aumentou as alíquotas do IAMSPE. Infelizmente, nossa luta não foi suficiente para vencer a velha política, já que o governo Doria tem maioria na Alesp.

     

    Um ano depois, fomos surpreendidos com a segunda reforma administrativa, o Projeto de Lei Complementar 26, que virou a Lei 1.361, de 21 de outubro de 2021, destruindo direitos duramente conquistados, como a correção automática do adicional de insalubridade, tão importante aos trabalhadores e trabalhadoras da saúde.

     

    Novo tempo

    Fiz apenas um breve resumo de todos os desafios que enfrentamos. Em janeiro de 2022, iniciaremos uma nova gestão no Sindicato, comigo na presidência da entidade novamente.

    Sabemos que 2022 continuará sendo um ano muito desafiador. Adentraremos no terceiro ano de pandemia, teremos nova Campanha Salarial, eleições para DSB’s e, o mais importante de tudo, as eleições presidenciais.

     

    Nós, do SindSaúde-SP, temos conversado muito com trabalhadoras e trabalhadores de todo o estado, sobre a importância desse momento. Afinal, por meio do voto democrático, teremos a chance de tirar quem vota e age contra os(as) trabalhadores(as) e de não deixar entrar aqueles que também são contra nós.

     

    Por tudo isso, quero deixar uma mensagem de esperança, mas uma esperança no agir. Precisamos nos mobilizar juntos. Precisamos, mais do que nunca, um do outro. Precisamos, mais do que nunca, nos fortalecermos. E a força do nosso voto é o instrumento mais importante que temos no ano que vem.

     

    Do fundo do coração, desejo a vocês, trabalhadora e trabalhador da saúde, um Natal de paz e harmonia, e um Ano-Novo com muita saúde, emprego e comida na mesa.

     

    Lembrem-se sempre: juntos, somos mais fortes!