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    Três anos depois, a luta em Mariana contra o esquecimento
    Autor: Carta Capital - Nádia Pontes
    05/11/2018

    Crédito Imagem: SindSaúde-SP

    A real dimensão do maior desastre ambiental da história brasileira ainda é desconhecida e as críticas sobre a reparação dos danos persistem

    Nos dias chuvosos, os impactos do maior desastre ambiental do Brasil voltam à tona em Mariana. A água do rio Gualaxo do Norte ganha um tom marrom escuro, um indício de que toneladas de rejeito da mineração que, há exatos três anos, vazaram depois do colapso da barragem de Fundão, da Samarco, continuam no ambiente.

    A onda de lama que matou 19 pessoas e aniquilou o distrito de Bento Rodrigues, em 5 de novembro de 2015, correu por esse rio até encontrar o Doce. No caminho, destruiu casas e sítios em outros povoados, acabou com vegetação, áreas de pasto e plantações, deixou um rastro de poluição até chegar ao Atlântico, no Espírito Santo.

    Maria Benigna, de 74 anos, vê do seu quintal as ruínas da comunidade que cercava a igreja de Paracatu. "Não me esqueço da sujeira e do mal cheiro", diz sobre o ruído da avalanche naquela noite, quando foi socorrida pelo filho e passou horas no mato com outros vizinhos.

    Pela estrada ao lado da casa de Benigna, que não estava no caminho dos rejeitos, o tráfego de caminhões se intensificou recentemente. Eles fazem a terraplanagem do assentamento Novo Paracatu, que vai receber as 140 famílias que ficaram desabrigadas no distrito. Ainda não se sabe quando deve ocorrer a entrega das casas.

    A longa espera por um lar após a tragédia de Mariana

    Geraldo, de 61 anos, encara as águas do Gualaxo do Norte diariamente. No sítio onde mora, em Gesteira, município de Barra Longa, a lama cobriu a área produtiva. Faz poucos dias que técnicos trabalham no local para recuperar a área. De Mariana à hidrelétrica Risoleta Neves, que barrou grande parte dos rejeitos que escorreram pelo Doce, 237 propriedades rurais precisam do mesmo restauro.

    "Eu recebo ração para minhas vacas, mas não é suficiente. Eu tenho que complementar", diz o pequeno produtor sobre o auxílio que recebe da Fundação Renova até que a área seja recuperada.
    Três anos depois do desastre em Mariana, que espalhou 40 milhões de metros cúbicos de rejeito da mineração, persistem as críticas sobre a reparação dos danos.

    O trabalho ficou a cargo da Fundação Renova, criada em 2016 especialmente para cumprir esse papel, mantida com dinheiro da Samarco, Vale e BHP Billiton.

    "Eu não estou muito satisfeita com o ritmo de implementação dos acordos, tanto sob o ponto de vista socioeconômico quanto ambiental", analisa Andressa de Oliveira Lanchotti, promotora do Ministério Público de Minas Gerais e coordenadora do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente.

    "Houve uma grande demora de planejamento de recuperação. Faltou organização", adiciona. "Mas, agora, parece que está entrando nos eixos", pontua Lanchotti.

    Guilherme Meneguin, promotor que cuida exclusivamente dos atingidos em Mariana, é enfático: "Há muita má vontade da empresa e soluções unilaterais". Segundo Meneguin, não há busca ativa das vítimas para inclusão no cadastro de atingidos. "Cerca de 60 famílias não estão recebendo auxílio da Samarco. Já formamos as provas e encaminhamos à defensoria pública", afirma o promotor sobre a situação em Mariana.

    André Vasconcelos, da Fundação Renova, sabe da insatisfação. "Receber críticas é natural. Reconhecemos que pessoas estão passando dificuldades", diz. "Tentamos fazer os processos de forma mais rápida, mas com responsabilidade, tomando cuidado para não cair no descrédito".









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