Por que o funcionalismo público não quer ser chamado de herói
    Autor: Redação - SindSaúde-SP
    14/05/2021



    Desde o início da pandemia, normalizou-se, na mídia, chamar os profissionais de saúde de heróis. E isso é no mundo todo. Grande parte deles, no entanto, rechaçam esse chamamento, por entenderem que essa espécie de campanha joga uma cortina de fumaça sobre os reais problemas desses trabalhadores e trabalhadoras.

     

    Primeiramente, os profissionais de saúde sempre estiveram no lugar onde estão todos os dias: unidades básicas de saúde, hospitais públicos e privados, casas de repouso etc. etc. Enfim, eles(as) acordam todos os dias, ainda que mal pagos e enfrentando uma política constante de precarização de suas condições de trabalho, para cumprir com carinho a sua jornada de trabalho e seu ofício, que é cuidar dos outros.

     

    Finalmente, a pandemia mostrou que os profissionais de saúde são essenciais e, no caso do serviço público, são o grande capital do Sistema Único de Saúde (SUS).

     

    Problema não abordado

     

    Contudo, a mesma mídia que ovaciona as trabalhadoras e trabalhadores da saúde não é capaz de tratar com honestidade das questões inerentes a esses profissionais, como o salário baixo, a falta de reajustes, a necessidade de dobrar jornada para ganhar mais, a ausência de um plano de carreiras e a inépcia dos governos, de todas as esferas, de lidar com decência quando o assunto é investir na coisa pública.

     

    Ao contrário disso, preferem terceirizar em vez de realizar concursos públicos, desmantelando todo um sistema sacramentado pela Constituição Federal, que delega ao Estado a função de universalizar a saúde para todos os brasileiros.

    Essas trabalhadoras e trabalhadores, que há anos lutam por valorização e para não perder os direitos já arduamente conquistados, tem ainda mais uma séria ameaça à frente: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 32, a reforma administrativa.

     

    Marajás?

     

    A proposta é vendida pelo governo como uma grande solução para o denominado “problema” da máquina pública: o funcionalismo público. É lugar comum atribuir aos trabalhadores do serviço público o nada singelo adjetivo “vagabundos” (isso veio, inclusive, da boca de um grande ministro).

     

    A ideia espraiada é de que todos os funcionários públicos não trabalham, não cumprem seu ofício com primor e de que são muito bem pagos. É assim, por exemplo, que o assunto é tratado na grande mídia, quando, na verdade, a maioria é mal paga e desvalorizada. É o caso de grande parte dos trabalhadores da saúde.

     

    Essa é a ideia que vem sendo defendida pelo governo federal para passar a proposta. No entanto, nos altos salários do alto escalão – estes, sim, bem remunerados – a proposta de reforma administrativa não mexe.

     

    Pouco se fala, por exemplo, que a reforma vai criar espaços para o já conhecido cabide de empregos por meio de indicações políticas. Também não se fala de que a proposta não mexe somente com a vida dos futuros ingressantes no serviço público via concurso público, mas com quem já está lá dentro, conforme mostra o excelente estudo feito pelo SindSaúde-SP em parceria com o Departamento Intersindical de Estudos Socieconômicos(Dieese). A cartilha pode ser conferida no link (http://sindsaudesp.org.br/novo/publicacoes.php?edicao=1620915542.pdf&tipo=diversos)

     

    Enfim, vamos à luta

     

    Ao lado da PEC 32, tramita no Senado o projeto que finalmente prevê um piso salarial unificado aos profissionais de enfermagem e jornada de 30 horas semanais ((PL 2.564), duas reivindicações antigas desses profissionais.

     

    Como não podia deixar de ser, neste país chamado Brasil, a proposta enfrenta pressão fortíssima do setor privado, o qual, obviamente, não quer reduzir seus lucros para pagar salários mais dignos.

     

    Assim, os profissionais de saúde do serviço público têm muito por que lutar, para garantir que seus direitos não se percam, pois agora essa é a questão mais urgente.

     

    Há um projeto de sucateamento do serviço público em curso – como já dito, em todas as esferas governamentais – e, portanto, essa luta é árdua e infinita.

     

    Sendo assim, chamá-los de heróis somente encobre aquilo que, para eles(as), é mais urgente e conectado à sua vida.