Negligência do governo com a Sucen gerou epidemia de dengue
    Autor: Redação SindSaúde-SP
    27/03/2024



    A explosão de casos de dengue em São Paulo, que até essa terça-feira (26) contabilizava mais de 330 contaminações e 139 mortes, não é obra do acaso e inclui a irresponsabilidade do governo paulista ao extinguir o órgão a quem cabia o controle dos focos do mosquito: a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen). 

    Os dirigentes do SindSaúde-SP explicaram como isso ocorreu durante audiência pública na manhã desta quarta-feira (27) na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O evento promovido pelo deputado estadual Paulo Fiorilo (PT) contou com a presidente do sindicato, Cleonice Ribeiro, e com o trabalhador da extinta Sucen, Carlos Alberto Gabriel Júnior. 

    Cleonice lembrou que, apesar do sucateamento da Sucen, entre 2000 a 2018, havia diálogo com o governo e uma mesa e negociação permanente. Porém, com o fim da superintendência durante o governo de João Doria (PSDB), as portas foram fechadas. 

    “A partir de 2020, com a extinção da Sucen, que incluiu também a CDHU, a EMTU, a Fundação Parque Zoológico, tudo mudou. Foi um pacotão e, pasmem, até onde se fizeram as vacinas para contra a Covid-19, também queriam privatizar, o Instituto Butantã”, criticou a presidenta e completou: “Sem a Sucen, a garantia de emprego de quase 900 trabalhadores foi fruto da luta desse sindicato e da categoria, mas, hoje, a maioria dos trabalhadores estão ociosos, não vão a campo, pois faltam condições para atuação. Temos viaturas que estão com furo no assoalho, pneu careca e sem ar condicionado”, afirmou ao tratar das condições de trabalho. 

    A superintendência era responsável por muitos estudos sobre doenças com potencial endêmico, como a dengue, e contribuía até mesmo para a criação de políticas públicas estaduais. Com a lei 17.293/2020, sancionada pelo ex-governador João Doria (PSDB), o órgão foi oficialmente extinto. 

    Com isso, 14 laboratórios deixaram de estar vinculados à instituição, fator que afetou a compra de materiais e manutenção de estruturas fundamentais para o trabalho dos pesquisadores. A decisão gerou uma denúncia ainda sob análise do Ministério Público. 

    Números comprovam erro
    Conforme sempre alertou o SindSaúde-SP, a ideia de associar eficiência à venda do patrimônio público é mero populismo e apresenta a conta à população mais cedo ou mais tarde, apontou o trabalhador da extinta Sucen, Gabriel Júnior. 

    Ele divulgou um estudo elaborado com o apoio da assessoria do sindicato que mostra o encontro entre o fim do órgão e a explosão de casos de dengue. Enquanto havia a contratação de profissionais para ampliar a atuação em campo, o cenário de contaminações se mostrou sob controle. Porém, tudo mudo após o encerramento das atividades da superintendência, que obrigou o deslocamento das trabalhadoras e trabalhadores. 



    “São Paulo nunca mais caiu dos 300 mil casos e ninguém tem dúvida de que vai bater este ano o pico histórico de 700 mil. Isso porque a Sucen dava suporte, treinava agentes em municípios, entrava nas casas, fazia trabalho que não pode se resumir ao período que contaminação está alta. É algo que precisa acontecer no dia a dia e que passa por bloquear o criadouro. Não adianta agora o governo sair jogando inseticida, que tem pouca eficácia, se não fizer o combate onde está a fêmea do mosquito, que transmite a doença, que é dentro das casas”, explica. 

    Ele disse ainda que com a relocação do pessoal ligado à Sucen, as condições pioraram com o corte ou atraso de pagamento de benefícios como o pagamento por insalubridade e diárias, e equipamentos em más condições. 

    “Quer de fato saber como acabar com as endemias no estão de São Paulo? Senta e conversa com quem sabe fazer, trabalhador que faz isso há 30, 40 anos”, alertou. 

    Os deputados estaduais Paulo Fiorilo e Luiz Claudio Marcolino (PT) demonstraram apoio a luta dos profissionais da extinta Sucen, nessa luta contra a dengue e cobraram respostas dos representantes do governo que estavam na mesa.