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    Jornal espanhol diz que governo Lula lidera contraponto às potências
    Autor: UNIVERSO ONLINE
    21/12/2004

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    Leia matéria publicada hoje pelo jornal El Pais. Segundo o texto, a popularidade internacional de Lula garante credibilidade que China e Índia não têm, e essa seria uma das razões de o Brasil liderar hoje um contraponto às grandes potências mais poderoso do que foi o Movimento dos Não-Alinhados, surgido nos anos 60.

    Leia aqui o texto:

    21/12/2004
    Brasil ganha peso com o comércio mundial
    Lula usa a OMC para se fortalecer na ONU e enfrentar os grandes

    Fernando Gualdoni
    Em Madri

    O Brasil não é membro do Movimento dos Não-Alinhados, no entanto o gigante sul-americano se ergue hoje como o principal e mais forte defensor dos princípios de respeito e solidariedade na relação entre as grandes potências mundiais e os países menos desenvolvidos, estabelecidos por esse movimento criado em Belgrado em 1961. Por mérito próprio e da sorte que faz com que surja no momento e nos lugares oportunos, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, está conseguindo pouco a pouco que os países ricos, no fim das contas os credores do mundo, reconheçam que se apertarem os países menos desenvolvidos para que paguem suas dívidas, apesar do alto custo social, e para que abram mais seus mercados sem contrapartidas justas, não só perderão amigos como clientes.

    Lula está conseguindo, através da Organização Mundial do Comércio (OMC), e em menor medida e mais recentemente através da ONU, que grandes países em desenvolvimento como o próprio Brasil, a Índia ou a África do Sul fortaleçam suas posições no cenário internacional. Recentemente Brasília propôs que seu embaixador na OMC, Luiz Felipe de Seixas Corrêa, dirigisse o organismo comercial internacional a partir de meados de 2005, substituindo o tailandês Supachai Panitchpakdi. Seixas Corrêa compete com o uruguaio Carlos Pérez del Castillo, representante na OMC, o ex-comissário europeu de comércio Pascal Lamy e o ministro das Relações Exteriores das ilhas Maurício, Jayen Cuttaree.

    O Brasil está jogando forte com a candidatura de Corrêa, já que se conseguir impor seu homem à frente da OMC o governo Lula fortalecerá sua oposição para que o Brasil seja nomeado membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Lula tem grandes ambições políticas internacionais para seu país, e está utilizando uma arma poderosíssima, o comércio internacional, para alcançar seus objetivos.

    A semente da estratégia que Lula desenvolve pouco a pouco foi colocada pelo ex-ministro da Saúde do governo de Fernando Henrique Cardoso, José Serra, na cúpula da OMC em Doha, em novembro de 2001. Serra encabeçou o germe do que seria o G-20 (liderado por Brasil, Índia, África do Sul e China) com sua luta encarniçada pelo acesso dos países menos desenvolvidos aos medicamentos genéricos. O comissário europeu de Comércio na época, Pascal Lamy, apelidou esse quarteto de os "elefantes" do século 21.

    A batalha de Serra em Doha tinha um interesse eleitoral, porque o ex-ministro já se perfilava então como o candidato do partido de Cardoso, o Partido da Social-Democracia Brasileira (PSDB) para enfrentar Lula nas eleições de outubro de 2002. No entanto, apesar desse tons eleitoreiros, Serra conseguiu uma grande vitória para os países menos desenvolvidos com a alteração sobre patentes medicinais, e isso ficou em seu crédito. Recentemente, Serra voltou com ímpeto à primeira linha da política brasileira, arrebatando a prefeitura de São Paulo, a capital econômica do país, ao Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula. Para piorar, a rival de Serra era a até agora prefeita Marta Suplicy, amiga íntima de Lula.

    No cenário internacional Lula sem dúvida conseguiu destaque, e também utilizando a OMC como trampolim ganhou terreno para a causa. Lula deu um passo chave ao indicar Celso Amorim como ministro das Relações Exteriores do Brasil. Amorim foi durante anos o representante brasileiro diante do organismo de comércio e conhece na ponta do dedo a extensa e complexa normativa comercial internacional. O Brasil se colocou facilmente à frente dos "elefantes". Em parte pelo carisma de Amorim e também porque a popularidade de Lula ajuda esse grupo de países a não produzir temor. "A China e a Índia, sim, produzem", explicam fontes diplomáticas acreditadas na OMC, "e a África do Sul ainda está verde para protagonizar essa liderança. Talvez pudesse ser, se Nelson Mandela fosse o presidente", acrescentam.

    Lula ergueu-se como líder natural desse grupo desde a primeira vez que os quatro "elefantes" se encontraram, na cúpula de Evian (França) em junho do ano passado. Quando se realizou a cúpula da OMC em Cancún, em setembro de 2003, essa liderança estava mais que afiançada. "O fortalecimento do Brasil no cenário internacional é independente do governo de Brasília, é a nova posição do país diante do mundo, e se manterá quem quer que esteja à sua frente", explica Pedro Camargo, assessor do governo brasileiro diante da OMC.

    Camargo fez parte da equipe que este ano conseguiu duas grandes vitórias para o Brasil na OMC: a demanda contra os Estados Unidos pelos subsídios ao algodão e contra a União Européia pelas ajudas ao açúcar. Em ambos os casos, a organização deu razão ao Brasil. Tanto Bruxelas como Washington recorreram, mas será difícil que a OMC mude de idéia. O G-20 finalmente se fortaleceu ainda mais com o reconhecimento formal de sua existência por parte da Comissão Européia há um ano. Embora Washington tenha se irritado com essa mudança de status, Bruxelas decidiu dar o passo, levando em conta a coesão e a força do grupo. E justamente destes últimos atributos depende seu futuro. Para Kevin Watkins, chefe do Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, "a relação entre os países do sul ainda precisa avançar muito. Os grandes países que encabeçam o G-20 têm muitos interesses em comum, mas também muitos confrontos. Se o que os une tiver primazia sobre os demais, então estaremos definitivamente diante de um grupo muito poderoso, muito mais do que jamais foi o dos Não-Alinhados".

    Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves









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