A sofrida espera da população e do trabalhador da saúde estadual
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    A sofrida espera da população e do trabalhador da saúde estadual
    Autor: SindSaúde-SP
    12/02/2016

    Melissa Costa Moura

    Diretora do SindSaúde-SP / Região Capital Leste II

    Saber que a vida da população ao procurar um atendimento em hospital público do ESTADO DE SÃO PAULO está difícil não é nenhuma novidade... As pessoas saem descontentes, cansadas e muitas vezes sem o atendimento necessário a que foram procurar.  Isso é reflexo da "boa qualidade" do serviço que o Sr. GOVERNADOR nos proporciona com o tanto que arrecada anualmente no Estado.

    A situação dos hospitais estaduais nas regiões de SP, como denunciou recentemente o SINDSAÚDE-SP, nas regiões de ASSIS e SOROCABA, não é diferente do vemos no extremo da zona leste da capital paulista, onde operam dois grandes hospitais para atender a extensa demanda da região. Um deles – HOSPITAL GERAL DE SÃO MATEUS - vem apresentando sérios problemas, comprometendo tanto o usuário quanto o trabalhador, todos vitimados pela falsa ideia vendida no slogan do governo do estado de São Paulo, que diz fazer parte do partido do povo brasileiro, dos mais humildes, dos trabalhadores efetivos desse país, da educação.

    No São Mateus, são graves as denúncias que chegam dos usuários e trabalhadores, como a falta de material adequado para atendimento e/ou escassez desses insumos. Porém, nos parece mais grave ver pacientes debilitados esperando vaga na observação, atendidos precariamente nos corredores, em filas, sem um mínimo de privacidade, higiene adequada e com pouca assistência da enfermagem, pois a esses profissionais cabe atender a lotação das salas de observação e sala de emergência, comportando um número bem acima do que se julga ideal, em péssimas condições de locomoção entre uma maca e outra. Em inúmeras vezes, os médicos plantonistas estão em menor número, em dias alternados, nenhum para uma ou outra especialidade, contradizendo a escala passada que diz que o quadro de médicos está completo, sobrecarregando também esses profissionais.

    Em Guaianases, outra região da zona leste da capital paulista, no Hospital Geral Jesus Teixeira da Costa, o descaso é ainda maior. O pronto socorro deste hospital foi terceirizado em janeiro de 2015 para uma cooperativa licitada pelo governo do estado de São Paulo.

    Praticamente triplicaram o atendimento à população, sem ter sequer mínimas condições para tal exigência da região! O atendimento passou de 6mil/mês para os incríveis 17 mil atendimentos, numa estrutura física precária para usuário e principalmente para o trabalhador. Como não foram abertos concursos públicos, os profissionais se veem obrigados a darem conta da arte do cuidar sob péssimas condições de trabalho, cedidos "gentilmente" pelos plantões extras, que sobrecarregam o funcionário. Um auxiliar de enfermagem atende 10 pacientes em observação, dependentes, acamados, pacientes psiquiátricos em grave surto que chegam agressivos, trazidos pelo SAMU e familiares, e ficam na mesma ala de pacientes de idade avançada, em observação mista (homens e mulheres na mesma ala) num espaço físico de no máximo 15 metros quadrados, separados por macas com menos de 50 cm de distância. Médicos se veem obrigados a refazer prescrições a pedido da Enfermagem devido à falta de medicamentos básicos que vão de dipirona ao Complexo B - e pasmem! - à famosa Benzetacil.

    E o que dizer da sala de medicação onde o usuário é atendido? Um espaço físico de 2 metros por  1,50 metros, apertado, sem ventilação, com os auxiliares obrigados a tirar o jaleco para não desmaiar em cima do paciente em atendimento, numa fila inesgotável. Os funcionários são repudiados, agredidos verbalmente e por vezes fisicamente por pedir ao usuário, cansado pela demora, que aguarde no saguão. Ainda no PS, em frente à emergência adulto, há uma emergência infantil, só no nome, pois no lugar do atendimento às crianças ficam pacientes adultos, em estado grave, respirando com ajuda de aparelhos e com risco de morte, pois a sala destinada a eles já não comporta mais gente.

    Na ala infantil, há uma sala de atendimento para emergência improvisada, pois o nome do espaço físico é sala de isolamento infantil, para pequenos com doenças contagiosas que necessitam de cuidados amplos e afastamento dos demais, até a melhora do quadro. Há, portanto, nenhuma sala disponível para emergência real, infantil. E não para por aí. No centro obstétrico, no terceiro andar, o quadro de funcionários não é suficiente para prestar atendimento adequado às mães e aos neonatos. Devido aos demais hospitais da região estarem de portas fechadas devido à superlotação, o hospital de Guaianases atende os casos ignorados pelos outros e mais uma vez sobrecarregando a equipe que primeiro presta o atendimento necessário a mãe e ao bebê. Esses médicos e sofridos auxiliares e técnicos de enfermagem também denunciam macas com as pacientes e bebês encostados na porta corta-fogo, importante ponto de escape caso haja incêndio no hospital. Uma das alas da maternidade foi fechada para atender a demanda de clínica médica, ficando as pacientes no centro obstétrico muito tempo depois da recuperação pós anestésica indicada; quando não, as que passaram pelo processo de curetagem, em cadeiras de rodas e nas cadeiras do corredor do atendimento obstétrico.

    Voltando ao PS, encontramos ainda a falta de soro adequado com a prescrição médica; sala de semi UTI com 5 pacientes totalmente dependentes com 2 funcionários de enfermagem, num plantão de 12 horas, numa sala quente,com janelas que apesar de abertas, não suprem a quantidade de ar em temperatura adequada que demanda o local.

    Economia de água? O hospital de Guaianases não faz parte dessa campanha, pois não há torneiras quentes para coletar a água do banho de leito para os pacientes acamados, se vendo o profissional da enfermagem a se molhar inteiro, abrindo o chuveiro do banheiro, esguichando uma enorme quantidade de água que espera chegar na temperatura adequada ao banho.

    Nas observações, não há biombos suficientes para deixar o paciente em privacidade nos horários de banho e troca, já que ficam a 30 centímetros de distância de outros pacientes, o que ocorre com certa frequência devido à superlotação. Houve ainda, para insônia e medo dos funcionários, dois casos de crime dentro do hospital. Uma funcionária em horário de almoço foi atacada por um rapaz que pulou a grade de contenção e a assaltou, levando seu celular no pátio do estacionamento de funcionários. Outra funcionária teve as duas rodas de seu carro furtadas e ninguém viu. 

    Não nos resta dúvida que o nosso governo do estado, além de colocar o usuário contra o profissional de enfermagem, por ele não conseguir dar conta do trabalho a que se propôs a fazer pela ética da profissão, nos está deixando doentes sob todos os aspectos.