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Desde 2010, o Governo Federal, na gestão do Partido do Trabalhadores, por meio do Ministério da Saúde, vem implementando e ampliando o investimento federal em Oncologia. Houve um aumento de 26%, de R$ 1,9 bilhão para 2,4 bilhões.
Em 2014, o Ministério da Saúde negociou com o fabricante a redução de custos de um medicamento utilizado contra Linfomas e Leucemias, que proporcionou ao governo uma redução de R$ 10,9 milhões.
Infelizmente, esse avanço na assistência à saúde começou a entrar em estagnação após o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e os retrocessos pioraram quando o atual DESgoverno federal assumiu o poder.
Contrariando todas as expectativas e jogando no lixo todo o investimento em ações eficazes do governo popular pré-golpe, com o intuito de tornar o Brasil independente do mercado internacional de medicamentos biológicos para tratamento de câncer, o atual ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou a “suspensão” da fabricação de 19 desses medicamentos por laboratórios públicos nacionais.
A maioria dos medicamentos que tiveram fabricação suspensa é para tratar casos de câncer, em todas suas fases, desde a inicial até a metastática, e também contra artrites reumatoides, psoríase etc.
Como nem todo mundo sabe sobre valores desses tipos de tratamentos fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), digo, com toda a propriedade de quem já participou de pregões para aquisição desses mesmos medicamentos, que um tratamento de um mês para um paciente no SUS, pode custar até 50 mil reais para os cofres públicos, incluindo aí nessa conta o custo do medicamento e todo o material, técnicas e equipamentos necessários para o preparo e administração dos mesmos na rede pública.
Com a suspensão da fabricação por laboratórios públicos, que reduz custos ao governo, o fornecimento a todos os pacientes, atualmente em uso e os que, infelizmente, ainda virão engrossar essa tão temida e triste lista, os desmontes contra os princípios do SUS começam a criar vulto.
Como o medicamento é caro, mas extremamente necessário para a manutenção da vida da população, o governo vinha, até então, investindo em ações que resultaram em bons prognósticos, tanto na saúde quanto na economia do país e todo mundo era beneficiado devido a universalidade do SUS.
Ricos e pobres, com convênio e sem convênio... Sim, pois o tratamento medicamentoso é feito gratuitamente pelo SUS, mesmo para o paciente que está sendo atendido pelo médico de família, que paga fortunas em convênio médico ou em consultas particulares.
Essa suspensão afetará, com muito mais força, o povo que só conta como atendimento do SUS, e daqueles que se matam para pagar exame em clínicas populares ”porque no SUS demora muito”.
Segundo a Associação de Laboratórios Públicos, há o risco de desabastecimento, e uma estimativa de perdas anuais na ordem de R$ 1 bilhão. Diferentemente do que o Ministério da Saúde afirma, de que essas suspensões são normais e recorrentes, a Associação afirma que este é um ato sem precedentes.
Só quem já passou pela angústia de uma quimioterapia desmarcada, por falta de medicamento, entende o que passará a acontecer, quando a PEC da Maldade começar a mostrar a que veio. A população amargará muitos sofrimentos por ter-se mostrado passiva ante a aprovação do congelamento de investimentos na área da saúde, por 20 anos...
O paciente do consultório particular pode conseguir pagar a bagatela de R$40 mil mensais, dependendo do medicamento que ele usa, para não interromper sua quimioterapia...
E nós!? Vamos ficar “só na torcida, rezas, orações, pensamentos positivos” para que “nunca precisemos desses medicamentos de graça no SUS”?
O que você vai fazer contra o desmonte do SUS?
*Adriana Arduino Mendes é a atual Diretora da Região Leste I, pelo SINDSAÚDE-SP. É Farmacêutica, formada pelas Faculdades Oswaldo Cruz, com formação em Farmácia Industrial e aperfeiçoamento em Farmácia Hospitalar e em Farmácia Oncológica.
Iniciou sua trajetória profissional na Secretaria de Estado da Saúde em 1995, no Hospital Heliópolis, passando pelo Hospital Ipiranga, e atualmente na Maternidade Leonor Mendes de Barros.
No Heliópolis ajudou o desenvolvimento de implantação da Central de Quimioterapia, hoje ainda em funcionamento, e participou efetivamente de processos de aquisição de medicamentos oncológicos.