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    O que o caso de Araraquara nos ensina
    Autor: Redação - SindSaúde-SP
    12/03/2021

    Durante a pandemia, uma palavrinha em inglês ficou bastante famosa e, ao mesmo tempo, tem gerado muita confusão, porque o Brasil deu o seu jeitinho para descaracterizá-la. Estamos falando de lockdown, que significa paralisação total ou bastante restrita dos fluxos de deslocamento, ou ainda, uma quarentena mais rígida.

    Nos países que aplicaram o lockdown mais seriamente durante a pandemia, isso significou fechar todas as atividades econômicas não essenciais e proibir – mesmo, com multa - o deslocamento de pessoas. Está acontecendo agora na Itália novamente. O país, que sofreu demais na primeira onda de Covid-19, está adotando regras bastante restritas para evitar o espalhamento do coronavírus.

    No Brasil, usando um trocadilho, o lockdown foi para inglês ver. A maioria das cidades e estados não proibiu o deslocamento de pessoas. Tampouco foram rígidas no fechamento de serviços não essenciais.

    O balizador do lockdown no Brasil foi (e ainda é) as eleições de 2022. Para não desagradar o empresariado e as igrejas, muitos políticos, como o governador de São Paulo, João Doria Jr., abriram brechas para tentar não perder apoio político.

    No entanto, como o coronavírus não escolhe a hora que vai dormir, o crescimento de casos nos últimos dias e a iminência de um colapso nos sistemas de saúde, tanto público quanto privado (os quais, na verdade, já colapsaram em algumas cidades), obrigaram o governador a colocar São Paulo, a partir da zero hora de segunda-feira (15), na Fase Emergencial, mais rígida que a Fase Vermelha.

    Araraquara

    Verdade seja dita, nós tivemos um caso de lockdown mais próximo do verdadeiro no país. Com o surgimento das novas variantes do coronavírus e com seu sistema de saúde em colapso, a cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, parou.

    As medidas de restrição e confinamento adotadas pela cidade - que são defendidas por autoridades em saúde, como o neurocientista e pesquisador Miguel Nicolelis – fez com que a curva de contágio caísse de 50% para 23%.

    O lockdown total foi decretado em fevereiro. A secretária de Saúde da cidade, Eliana Honain, disse que a medida “foi um fruto doído, mas bem recebido porque mostra que a gente conseguiu diminuir a transmissão. A gente tira a lição do quanto é importante o isolamento social”.

    Quando decretou a paralisação total em 21 de fevereiro, a cidade tinha registrado 248 casos da doença em 24 horas. Quinze dias após a medida, foram 58.

    Mais jovens

    Infelizmente, o Brasil transformou-se no novo epicentro da doença no mundo, passando os Estados Unidos, onde o presidente Joe Biden adotou uma política de vacinação em massa: 100 milhões em 100 dias, mas ele vai bater a meta na metade do tempo.

    Como no Brasil nós atrasamos o início da vacinação devido ao negacionismo insistente do presidente Jair Bolsonaro, não temos doses suficientes da vacina para todo mundo. Por isso, as autoridades em saúde defendem que um lockdown de ao menos 21 dias poderia contribuir para reduzir a curva de contágio.

    Pior momento

    Enfim, estamos no nosso pior momento da pandemia. Se o Brasil tivesse feito a lição de casa, investindo em vacina e testes, poderíamos estar em posição melhor. Foi assim que países como a Nova Zelândia, que ainda chegou a fechar fronteiras, conseguiu controlar a transmissão do coronavírus e, de quebra, fazer a economia crescer.

    Nesta sexta-feira (12), a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu comunicado dizendo que “a situação do Brasil é muito preocupante”. E a situação é preocupante mesmo! A nova variante é mais transmissível e contaminando mais jovens e crianças, que estão sendo internados, às vezes com quadros muito graves.

    Estamos pagando um preço muito caro por não termos cuidado e orientado corretamente o povo brasileiro ao longo da crise sanitária.

    Por essa razão, se puder, fique em casa, e, se sair, use máscara, mantenha distanciamento social e higienize as mãos sempre que necessário. Afinal, ainda não temos vacina para todo mundo.