Artigo
Editorial: SindSaúde-SP
Abril acaba nesta sexta-feira e o sarrafo de nossos indicadores na pandemia continua subindo. Ontem, ultrapassamos a marca das 400 mil vidas perdidas e, conforme previsão de especialistas, maio promete ser outro mês difícil para os brasileiros.
Mas, ao lado da divulgação do trágico número de mortos alcançado, causa mais espanto a reação do mandatário máximo do país. Em um país carente de bons exemplos vindos de cima, o chefe maior da nação criticou o prefeito de Araraquara, Edinho Silva, por ter sido o único a fazer um lockdown de fato, o qual, por sinal, resultou na queda do número de mortes, contaminações e ocupação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A medida foi tomada em fevereiro, quando o estado todo vivia um colapso no sistema de saúde.
Lockdown é a implementação de medidas para conter ao máximo a circulação de pessoas. Edinho e sua equipe tiveram a coragem de desagradar parte do comércio local e, em fevereiro, fecharam tudo, incluindo supermercados nos primeiros dias, para conter a circulação de pessoas e, consequentemente, o espalhamento do coronavírus.
A consequência do feito foi que, dias depois, a cidade viu cair o número de contaminações e mortes por Covid-19, numa demonstração clara de que o que apregoa a Ciência é o correto.
Países como Israel, que promoveu medidas de distanciamento físico entre as pessoas associada a uma política intensiva de testagem e vacinação, viram sua curva de contágios e mortes caírem drasticamente.
Isso sem falar nos Estados Unidos, onde o presidente Joe Biden – numa postura totalmente diferente de seu antecessor, Donald Trump, cuja política de morte é seguida pelo mandatário brasileiro – conseguiu, em apenas cem dias de governo, promover vacinação em massa e reduzir também as curvas de morte e contágio.
Na falta de doses de vacina suficientes, Edinho escolheu o que tinha e foi bem-sucedido.
Economia versus saúde
Nas redes sociais, o chefe da nação criticou o prefeito de Araraquara, dizendo que as medidas prejudicaram a economia. Citou, inclusive, que empresários pediram doações de alimentos ao Ceagesp, entreposto de São Paulo, que foram posteriormente distribuídos à população da cidade com apoio do Exército.
Em resposta pela rede social Twitter, Edinho Silva disse que o capitão mandatário da nação podia ajudar as pessoas, mas sem humilhá-las publicamente. “Qualquer ação para ajudar a população é bem-vinda, como essa que atendeu famílias de Araraquara e de toda a região. Essa ação pode ser elogiada, mas o que que quero dizer aqui é que Araraquara faz combate à fome com políticas públicas instituídas, organizadas. E tudo isso acontece sem humilhar ninguém, sem que as pessoas precisem dormir em fila. Todos esses alimentos que foram distribuídos hoje poderiam chegar às mesmas famílias usando as entidades e a rede pública existente, e as pessoas não precisariam se expor ao Sol, a horas em fila, sendo filmadas, sendo expostas”, escreveu o prefeito.
Crise geral
Importante lembrar que o Brasil voltou ao mapa da fome e o desemprego aumenta em todo o país – não só em Araraquara. Se vamos mal, é porque houve falta de comando central.
Vemos que os países mais bem-sucedidos no combate à pandemia tomaram medidas centralizadas no poder máximo. Vide Nova Zelândia, o número um na boa condução da pandemia, e o já citado Estados Unidos, que mudou radicalmente a sua política.
Portanto, em um país carente de políticos que dão bons exemplos na pandemia, criticar quem faz o certo é, no mínimo, desonesto. Mas, vindo de quem vem, não é de causar surpresa.
Infelizmente, constatamos que o tempo gasto em narrativas vazias - feitas só para nos distrair a respeito do que é mais importante, estratégia usual do governo federal – não é gasto para adotar políticas que nos tirem do atoleiro onde nos enfiaram.
O que vemos, isso sim, é muita omissão, descaso, decisões equivocadas, erros de toda sorte, tanto que temos uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado para investigar esses atos.
Vacina para todo mundo que é bom, até agora, nada.