Artigo
No exato momento em que este texto é escrito, a contagem de mortos por Covid-19 no Brasil, muito provavelmente, já atingiu a marca de meio milhão. No começo da pandemia, quando a doença era propagandeada como uma “gripezinha”, jamais imaginamos que chegaríamos a esse lugar triste em que estamos hoje.
Para efeito de comparação, a Guerra na Síria, que se arrasta desde 2011, matou entre 320 mil e 450 mil pessoas. Ou seja, em muito menos tempo, atingimos os números de um conflito armado.
Esta sexta-feira (18) é um momento de celebração para o SindSaúde-SP, que completa 32 anos de uma trajetória marcada por muitas lutas. Sem sombra de dúvidas, a pandemia tem sido um dos períodos mais difíceis para o Sindicato. Deveríamos estar nas ruas lutando pelos direitos das trabalhadoras e trabalhadores da saúde, afinal, estamos em plena Campanha Salarial. Mas, devido aos riscos sanitários, não podemos ir em peso às ruas.
As ferramentas que temos usado talvez não sejam suficientes para enfrentarmos os desmandos do governo do estado, mas o fato é que o mundo, assim como nós, vive como se estivesse suspenso no ar ou no tempo.
Ainda assim, cobramos e garantimos o fornecimento de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) para as trabalhadoras e os trabalhadores, nos primeiros meses de pandemia, após recorrermos à Justiça para que esse direito fosse garantido. Também lutamos na Assembleia Legislativa de São Paulo para que o Projeto de Lei 529/20 (Lei 17.293), que acabou com a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) e aumentou as alíquotas do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), fosse rejeitado.
Essas são provas de que, ainda que estejamos no meio de uma pandemia, nós lutamos, mas não podemos ultrapassar os limites da segurança e do bom senso em prol da coletividade.
Sem fazer de conta
Diante desse quadro de assombro constante, não há espaço em nosso imaginário para fazermos de conta que não chegamos a essa triste marca. São 500 mil vidas, 500 mil amores de alguém, e a pergunta que nos cabe é: quando essa conta vai parar?
Uma coisa nós sabemos: a culpa não é do vírus. O médico epidemiologista Pedro Curi Hallal, ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, disse, com base em estudos, que três em cada quatro mortes no Brasil poderiam ter sido evitadas se o país tivesse gerido com mais eficiência a pandemia.
No entanto, em vez de adotarmos medidas mais eficazes, em vez de termos acelerado a vacinação, escolhemos o caminho do negacionismo de que a situação não é o que ela é de fato.
Hoje, em nossos 32 anos, nosso maior presente seria parar a contagem de nossas tristezas. Mas, como não podemos, só nos resta homenagear todas as vidas perdidas e todas aquelas que estão sofrendo nos hospitais lutando contra essa terrível doença.