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    Pandemia não impede violência de correr solta pelo Brasil
    Autor: Editorial SindSaúde-SP
    16/07/2021

    No quesito violência, a pandemia de Covid-19 não deu um refresco para os brasileiros. O Brasil continua figurando como um dos países mais violentos do mundo e, agora, com uma população cada vez mais armada, conforme prometera o mandatário brasileiro em sua campanha eleitoral em 2018.

     

    Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, divulgado esta semana pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que, no ano passado, 50.033 brasileiros morreram de mortes violentas intencionais, número 4% maior que o registrado no ano anterior. Foram 26,6 brasileiros mortos violentamente e intencionalmente por grupo de 100 mil habitantes.

     

    Desses crimes, 78% foram ocasionados por armas de fogo, e os estados mais violentos foram Ceará (45,2 por 100 mil habitantes), Bahia (44,9 por 100 mil), Sergipe (42,6 por 100 mil) e Amapá (41,7 por 100 mil). Os menos violentos foram São Paulo (9,0 por 100 mil), Santa Catarina (11,2 por 100 mil), Minas Gerais (12,6 por 100 mil) e Distrito Federal (14,2 por 100 mil).

     

    Os mais atingidos pela violência - lugar comum no país - é a população negra (96,2% das vítimas fatais), jovem (54,3%) e do sexo masculino (91,3%).

     

    Parte dessas mortes aconteceu em ações policiais. Foram 6.416 mortos em operações desse tipo, aumento de 0,3% em relação ao ano anterior.

     

    Também nessas operações a maioria das vítimas foi negra (78,9%), do sexo masculino (98,4%) e jovem, na faixa dos 12 aos 29 anos (76,2%).

     

    Detalhe: apenas 50 cidades brasileiras foram responsáveis por 55,8% da letalidade policial.

     

    O Brasil não está em guerra, com tanques, caças, submarinos e tropas, mas esses são números de nossa guerra particular, fruto de nossa desigualdade histórica e naturalizada.

     

    Mortes de policiais

     

    Outro dado mostra que o peso da balança pende mais para um lado. Ao todo, 194 policiais foram assassinados no ano passado, muito menos do que morreram por Covid-19 (472).

     

    Muitos deles foram a óbito quando não estavam no horário de trabalho (72%), indicador que também desvela o quanto dentro da própria polícia a desigualdade é marcada a ferro e fogo como no restante da sociedade.

     

    O anuário mostra que até mesmo entre policiais as principais vítimas também são os que têm pele preta (62,7%), a maioria é do sexo masculino (98,4%) e jovem, entre 30 e 49 anos (58,9%).

     

    Mais armas

     

    Um dado preocupante esboça o Brasil que teremos pela frente. Cumprindo-se a promessa da campanha presidencial de 2018, a população brasileira (leia-se: a parcela mais rica) está mais armada.

     

    No ano passado, a autorização para importação de armas longas cresceu 108,4% em relação ao ano anterior, o que indica que o brasileiro, trancado em casa devido à pandemia, aproveitou o home office para armar-se.

     

    No ano passado, havia 1.279.491 registros ativos de armas de fogo no Sistema Nacional de Armas (Sinarm) da Polícia Federal, aumento de 100,6% desde 2017. Em 2020, foram apontadas 186.071 novas armas no sistema, alta de 97,1% em um ano.

     

    Menos roubos

     

    O único tipo de crime que diminuiu, muito em função da redução na circulação de pessoas e com mais gente trabalhando em casa, foram os chamados crimes patrimoniais.

     

    Houve menos roubo de veículos (-26,9%), de estabelecimentos comerciais (-27,1%), de residências (-16,6%), de transeuntes (-36,2%) e de carga (-25,4%).

     

    No entanto, quando tudo voltar a um grau de normalidade, com mais pessoas circulando nas ruas e mais gente legalmente armada, teremos uma noção mais clara do Brasil que teremos nesse futuro que acena no horizonte.