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    A quem interessa o negacionismo e a desinformação
    Autor: Editorial SindSaúde-SP
    27/08/2021

    Usando como gancho o Dia do(a) Psicólogo(a), comemorado neste 27 de agosto, este editorial vai aventurar-se a tratar de um aspecto da mente humana muito em voga em tempos atuais. Por que muitas pessoas, a despeito de termos tanta informação disponível, ainda acreditam nas notícias veiculadas nos grupos de WhatsApp da família? Ou ainda: a quais interesses estamos atendendo quando priorizamos determinadas notícias em detrimento de outras?

     

    Primeiramente, é importante deixar claro que este assunto é de máxima urgência e tem sido preponderante na pandemia de Covid-19. Vide discurso contra e a favor à vacinação, o qual tem, inclusive, convencido profissionais de saúde que trabalham com algo tão importante como a saúde e vida humana.

     

    Isso posto, outro adendo: o SindSaúde-SP respeita a liberdade de opinião. No entanto, muitas pessoas têm se valido do argumento de liberdade de expressão/opinião para defender o que é crime. Racismo, homofobia, crimes sexuais, violência de toda sorte e, ainda, discursos contra o uso de protocolos sanitários, como a máscara, não são liberdade de expressão. São, no mínimo, uma visão torta de mundo. Quando negamos aquilo que a Ciência já provou por A mais B estar certo, estamos seguindo uma doutrina ou negando a dureza da realidade. Quando somos favoráveis a discursos de ódios, estamos corroborando com atitudes criminosas.

     

    Sim, viver é duro. E a mente humana, esta da qual estamos falando neste texto, é ardilosa. A própria Ciência já comprovou que, para nos preservar, a mente dá pane e apaga de nossa memória eventos que nos traumatizaram ou causaram muita dor. Você já deve ter ouvido falar de pessoas que sofreram graves acidentes e não se lembram. Então, é por aí.

     

    O fato é que a pandemia nos tem causado muita, muita dor, de toda sorte. É a perda da liberdade, de entes queridos, de amigos, pacientes, sequelas da doença... Enfim, está pesado e isso é compreensível.

     

    Contudo, negar a Ciência, as vacinas que já estão em nossas vidas há tanto tempo, as quais, só no Brasil, conseguiram acabar com surtos de doenças como sarampo e poliomielite, é no mínimo questionável. Alguns discursos antivacina são frutos de má-fé. Quem acredita neles também podem estar agindo de má-fé ou, simplesmente, por inocência.

     

    Atitude que mata

    O suíço Carl Jung, fundador da psicologia analítica, tinha uma frase: “O que você nega, o submete; o que você aceita, o transforma”. Fazendo uma analogia com a pandemia, nós não podemos negar a existência do coronavírus. Ele está aí e faz parte da nossa realidade. Negá-lo é o caminho para o suicídio coletivo. Aceitar a sua existência, por mais cruel que seja, é o caminho para mudarmos o estado de coisas.

     

    Indo um pouco mais longe, quem espalha desinformação, notícias falsas, ou ainda, quem acredita que, com o avanço da vacinação, a pandemia acabou, é negar a crueza da nossa realidade, porque hoje temos a variante delta e nem toda a população está completamente imunizada.

     

    Só para ficarmos em um exemplo um pouco distante de nós, os Estados Unidos, país rico, têm vacina disponível para todo mundo. Mas eles estão lidando com o desafio dos negacionistas da vacina. Na Flórida, estado governado por Ron DeSantis, herdeiro do ex-presidente negacionista Donald Trump, há muita gente morrendo porque se nega a tomar a vacina, e o estado vive novo surto da doença.

     

    No entanto, a postura dos negacionistas é bastante contraditória. Trump tinha discurso negacionista, mas foi ele quem começou a negociar a compra das vacinas que imunizaram boa parte dos americanos. No Brasil, o filho 03 do presidente da República recebeu a sua dose no braço (aplicada pelo próprio ministro da Saúde, Marcelo Queiroga) mesmo entrando com recurso contra o “passaporte da vacina” que o prefeito Ricardo Nunes anunciou na capital paulista, ou seja, o comprovante que as pessoas terão que apresentar quando forem participar de eventos em São Paulo.

     

    Bobo é quem acredita

    Em suma, os negacionistas não são bobos. Eles, no fundo, no fundo, não querem colocar a própria pele em risco, mas jogam a cortina de fumaça para cegar o povo sobre o que, de fato, é mais importante. O pano de fundo, muitas vezes, é a defesa de interesses privados, como o que fez recentemente o governo de São Paulo que, pressionado pelo empresariado porque visa às eleições presidenciais de 2022, abriu o estado para eventos sociais, corporativos e de lazer, para dar uma sensação de normalidade e, assim, ficar bem na fita.

     

    Enquanto isso, passa o trator no funcionalismo, encaminhando para a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) o projeto de reforma administrativa do estado, para acabar com direitos e benefícios das trabalhadoras e trabalhadores do serviço público.

     

    Diante desse quadro, pode-se concluir o seguinte: é conveniente para ocupantes de cargos de poder lidar com a boa-fé das pessoas, e quem não pensa por si é mais fácil de manusear.

     

    Portanto, cabe a você decidir o que quer ser: alguém que pensa por si e questiona o estado de coisas ou se comporta como uma marionete, aquele bonequinho que só fala e mexe por intermédio de alguém.