Artigo
Maria da Penha foi agredida violentamente novamente. Essa mulher, que sentiu na própria pele a violência de gênero e que dá nome à lei que ajudou a livrar tantas outras mulheres do mal que a acometeu, foi injustamente agredida e afrontada no último dia do mês de agosto – vejam a ironia! –, no qual se luta pela conscientização e combate à violência contra a mulher.
A violência contra Maria da Penha partiu do deputado estadual Jessé Lopes, do PSL de Santa Catarina. Ele recebeu em seu gabinete Marco Antônio Viveros, condenado duas vezes pela Justiça por tentar matar a ex-esposa, Maria da Penha, a quem deixou em uma cadeira de rodas.
A foto desses dois homens juntos nas redes sociais provoca repulsa pelo que simboliza: a representação do machismo e da misoginia. Provocou ainda mais repulsa o fato de que o agressor de Maria da Penha foi recebido no gabinete do deputado, onde teria entregado um documento “com a sua versão dos fatos”.
Jessé Lopes se defendeu dizendo que foi “apenas uma visita”, que tira fotos com todos que comparecem ao seu gabinete e, depois, disse que “sabia que seria polêmico”. Ainda, comentou que, provavelmente, o ex de Maria da Penha o procurou por “proximidade ideológica”. Faz sentido.
Porém, na postagem na rede social de Jessé Lopes, ele questionou aos seus seguidores se conheciam “este senhor”. Contou que ele havia estado em seu gabinete, que lhe contara a “sua versão dos fatos” e que a história “é, no mínimo, intrigante”. A tentativa de homicídio contra Maria da Penha, que a deixou para sempre em uma cadeira de rodas, aconteceu em 1983, no Ceará.
Pelo crime – disparou um tiro pelas costas, deixando-a paraplégica, e ainda tentou eletrocutá-la –, o ex-marido foi condenado duas vezes, mas cumpriu a pena em liberdade. Maria da Penha denunciou o Estado brasileiro à Organização dos Estados Americanos (OEA) por omissão.
Ironicamente, este ano também se completam 15 anos da Lei Maria da Penha.
Só posso lamentar profundamente que possa existir alguém disposto a ouvir a versão daquilo que é óbvio. Basta olharmos para Maria da Penha para sabermos o que aconteceu.
Lamento também que Jessé Lopes tenha se valido de história tão terrivelmente dolorosa para essa mulher, com o único objetivo de provocar polêmicas para ganhar curtidas e aumentar o número de seguidores em suas redes sociais.
Se já é difícil entender como alguém capaz de tamanha monstruosidade pode continuar solto, imagine compreender alguém que queira ouvir a sua “versão”.
Junto-me a todas as outras vozes que prestam a sua solidariedade a essa mulher guerreira e que não merecia passar por tamanha provocação.
*Maria Aparecida de Deus é secretária da Mulher Trabalhadora do SindSaúde-SP