Artigo
A história do Brasil não começou com os portugueses e foi bastante simbólico que os primeiros donos desta terra, os indígenas, fizessem uma das maiores manifestações de sua história em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), às vésperas do Dia da Independência do Brasil.
Neste país de dimensão continental e natureza exuberante, mas com muitos quilômetros de terras em poder de poucos, os indígenas lutam pelo seu direito de existir. O avanço da agropecuária sobre terras dos povos primitivos significa uma ameaça ao meio ambiente, pois já ficou provado por a mais b que onde há índio há preservação ambiental. Ou seja, se ainda temos um pouco do que restou da época em que os portugueses chegaram aqui, devemos a eles.
Mas os interesses ruralistas (gado, monocultura, madeira etc. etc.) ameaçam não só o ar que respiramos e o direito de vivermos sob uma temperatura razoável neste planeta. O tratorzaço do setor deve juntar-se à ameaça constante do garimpo em busca de riquezas em terras indígenas, atropelando toda uma cultura e um modo milenar de existir.
Grito dos Excluídos
A legítima manifestação indígena contra o Marco Temporal, medida que tramita no STF e propõe que os índios só teriam direito ao território ocupado por eles quando a Constituição foi promulgada, em 1988, teve pouca cobertura na grande mídia. Ainda assim, simboliza uma prévia do tradicional Grito dos Excluídos no 7 de setembro.
Surgido em 1994 a partir da 2ª Semana Social Brasileira, da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Grito dos Excluídos escolheu o dia da Independência do Brasil para fazer um contraponto à roupagem militarizada que essa data patriótica ganhou ao longo dos anos.
O primeiro Grito dos Excluídos foi realizado em 7 de setembro de 1995, tendo como lema “A vida em primeiro lugar”. Como diz o site do movimento, “o Grito é um processo, é uma manifestação popular carregada de simbolismo, que integra pessoas, grupos, entidades, igrejas e movimentos sociais comprometidos com as causas dos excluídos. Ele brota do chão, é ecumênico e vivido na prática das lutas populares por direitos”.
Ainda, o site diz que o Grito “não só questiona os padrões de independência do povo brasileiro, mas ajuda na reflexão para um Brasil que se quer cada vez melhor e mais justo para todos os cidadãos e cidadãs. Assim é um espaço aberto para as mais variadas denúncias de exclusão”.
Melhor juntar que dividir
Os indígenas já estavam aqui e, depois, vieram os negros. O Brasil foi o último país a abandonar a escravidão e, até hoje, não foi capaz de inseri-los de modo efetivo na sociedade. O racismo estrutural é excludente, os negros são os que mais morrem de fome, miséria e bala perdida, um tratamento indigno a quem labutou tanto por este país. Ademais, muito de nossa cultura tem por detrás a mão, a pele, a inteligência e o suor negro.
Mesmo que estejamos vivendo um Fla-Flu político desde as jornadas de junho de 2013, ânimos que se exaltaram ainda mais nas eleições de 2018, ainda temos a nossa democracia na qual podemos nos agarrar.
O 7 de setembro é a data em que o Brasil deixou efetivamente de ser uma colônia portuguesa para tornar-se um dos países mais sincréticos e miscigenados do mundo, característica que existe em poucos lugares.
Nossa mistura e diversidade são nossa maior riqueza e deveriam ser motivo de nosso orgulho. Ao mesmo tempo, nossas desigualdades sociais, raciais, machismo, misoginia e violência, principalmente contra a população negra e periférica, deveriam envergonhar a todos nós.
Que o 7 de setembro seja um momento de nos juntarmos e buscarmos um caminho do meio no sentido de olharmos nossas dores e buscarmos soluções para aquilo que nos envergonha e entristece.
O SindSaúde-SP deseja um Dia da Independência de luta e harmonia a todo povo brasileiro!