Artigo
O antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, um dos maiores intelectuais da atualidade, tem uma tese de que alguns povos indígenas são “especialistas em fim do mundo”, pois muitos já experimentaram ou ainda experimentam a destruição de seus mundos.
Como exemplo, ele abordou os Guarani, que “se tornaram um símbolo concreto da ofensiva final contra os povos indígenas no Brasil, que nós estamos assistindo. E o seu mundo – esse mundo de que falava Nimuendajú, o mundo da criação e destruição – está, de fato, aparentemente, acabando”.
A primeira destruição do mundo dos indígenas, falando especificamente do Brasil, começou em 1500, quando aqui aportaram os colonizadores. O assassinato de indígenas e de seu mundo prossegue até hoje, especialmente nestes tempos de destruição do meio ambiente, que não representa somente a morada das tribos originárias do país, mas o corpo e também alma de seus indivíduos. Ainda assim, eles continuam resistindo para continuar existindo.
Trazendo o recorte para o funcionalismo público, os dois últimos anos têm representado o começo do fim do que hoje entendemos como emprego público. Os governos municipal, estadual e federal têm passado o correntão nos direitos desses(as) profissionais, para fazer uma analogia com o instrumento utilizado por grileiros e madeireiros para derrubar florestas.
Nos dois anos do atual governo tucano do estado de São Paulo, as perdas para o funcionalismo foram enormes. Houve a reforma da previdência, projeto para dar calote nos precatórios e duas reformas administrativas, sendo a última aprovada em outubro, o famigerado Projeto de Lei Complementar nº 26, que virou a lei 1.361, de 21 de outubro de 2021.
Na esfera federal, tramita no Congresso Nacional a Proposta de Emenda Constitucional 32, a pá de cal que falta para enterrar de vez a estabilidade do funcionalismo público em todas as esferas.
Mas, voltando ao estado de São Paulo, desde que o PLC 26 foi aprovado, o SindSaúde-SP tem realizado assembleias e encontros com a sua base para esclarecer pontos da lei, que impactarão fortemente os direitos dessas trabalhadoras e trabalhadores que já estão fortemente desgastados por tantas mortes, doença e descaso ao longo da pandemia de Covid-19. Lembrando que o projeto de desmonte está em curso antes mesmo da reforma administrativa, por meio de terceirizações e sucateamento da infraestrutura do aparato da saúde.
O Sindicato tem conscientizado esses(as) profissionais sobre a importância de continuarem resistindo ao projeto de desmantelamento, pois só a resistência e união de todos(as) serão capazes de manter de pé o que ainda resta.