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João Doria Jr. deixou o cargo de governador ontem (31) para concorrer à Presidência da República. Com ínfimos 2% de intenção de votos para as eleições presidenciais, ele mostra que, apesar de ter tentado colar em sua imagem o título de “pai da vacina contra a Covid-19” e, como último suspiro, ter concedido um falso reajuste para agradar o funcionalismo público, as artimanhas do governador não colaram, e ele deve ficar mesmo no ostracismo da história política brasileira.
Pela segunda vez, Doria deixa um cargo público em parte do caminho na ânsia de alçar voos maiores. Ele nunca escondeu de ninguém que seu objetivo maior é virar presidente do Brasil. Deixou o mandato de prefeito da cidade de São Paulo para concorrer a governador. E, agora, deixa o cargo de governador para concorrer à Presidência.
Em sua trajetória política, brigou com antigos aliados, como o ex-governador Geraldo Alckmin, de quem era um dos melhores amigos. No começo da campanha a governador, quis surfar na onda bolsonarista e virou o BolsoDoria. Com a queda na popularidade do presidente, virou adversário ferrenho de Bolsonaro.
Porém, mesmo comandando uma máquina gigante como é o estado de São Paulo, o resultado das eleições presidenciais deve jogá-lo no limbo. Além de não se eleger presidente, Doria não poderá se reeleger governador, sumindo ao menos por um tempo da vida política do país.
O fato é que Doria não vai deixar saudades, ao menos para o funcionalismo público de São Paulo. Como um último ato antes de apagar a luz de seu mandato, encaminhou um pacotaço de um falso reajuste às trabalhadoras e trabalhadores da saúde, que estavam sem reajuste salarial desde 2018.
Há quase 30 anos, o funcionalismo público paulista sabe o que significa estar sob a vara dos governos tucanos. Mas nenhum passou tanto o trator sobre quem trabalha no serviço público como João Doria Jr.
Antes do falso reajuste, Doria aprovou duas reformas administrativas, uma reforma da previdência estadual, um pacote do calote, além de não realizar concursos públicos e chamar as trabalhadoras e trabalhadores públicos de “vagabundos”.
Em uma das reformas administrativas, Doria acabou com a Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), cujos trabalhadores, dois anos após a extinção da autarquia pela Lei 17.293/20, não têm uma resposta definitiva sobre se permanecerão em seus empregos.
Além de ter confiscado o salário de aposentados, pensionistas e do pessoal da ativa com a reforma da previdência estadual, ele também aumentou as alíquotas do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (Iamspe), e retirou direitos importantes, como o reajuste automático pela inflação do adicional de insalubridade, algo essencial para complementar o salário de trabalhadoras e trabalhadores da saúde.
O agora ex-governador sai rumo a um vexame eleitoral. E é importante que as trabalhadoras e trabalhadores públicos da saúde não se esqueçam, na hora de votarem, da dura lição aprendida ao longo de todos esses anos.
Doria já vai tarde e não vai deixar saudades.