Artigo
Li estupefata a notícia do estupro e morte de uma menina de 12 anos por garimpeiros em Roraima. Confesso que nem sei como nomear esse tipo de crime. Tragédia? Horror? Repulsa? Nojo? Asco? Ojeriza? Não sei. Qualquer adjetivo, por mais forte que seja, parece pouco para nomeá-lo.
Como sempre gosto de frisar neste espaço, um crime contra qualquer mulher é uma violência contra todas nós. Eu, como mãe, só posso imaginar a dor da mãe dessa criança indefesa. Sim, 12 anos, uma criança ainda, o que me causa ainda mais repulsa por tornar tudo ainda mais violento.
Alguns podem estar pensando: “Ah, mas isso acontece todos os dias nas periferias da cidade!”. Sim, acontecem muitos desses crimes inomináveis contra crianças, mulheres de todas as idades, e muitas vezes dentro de suas próprias casas, locais em que deveriam sentir-se protegidas. Mas o que está acontecendo com os povos originários deste país, assim como acontece com as populações periféricas, deveria estar nos causando muito mais indignação.
Os indígenas brasileiros estão sendo alvo de um massacre, pela segunda vez na história deste país. Eles já foram vítimas de genocídio quando nossos colonizadores chegaram aqui. Agora, mais de 500 anos depois, eles novamente voltam a ter sua paz ameaçada pelo garimpo ganancioso nessa terra sem lei e ordem que virou o Brasil.
O estupro e morte dessa menina veio a público porque uma liderança indígena denunciou. Quantos crimes mais devem estar acontecendo naquele vasto mundo que é a Floresta Amazônica sem nos darmos conta?
Eu, como cidadã brasileira, sinto-me cansada e impotente diante de tantas atrocidades que estão acontecendo com a bênção do Estado brasileiro e, principalmente, do governo federal, na figura de seu representante máximo, que desaparelhou órgãos que deveriam proteger os povos indígenas, porém, acabaram abrindo a porteira da Amazônia aos gananciosos das riquezas minerais daquelas terras.
O garimpo leva a morte e a destruição às terras indígenas, pois contamina rios, acaba com as fontes de alimentos desses povos, deixando-os reféns desses criminosos. Algumas organizações não governamentais (ONGs) já denunciaram que muitas indígenas, incluindo crianças e jovens, são forçadas à prostituição para poderem comer.
Nós, brasileiros e brasileiras, não podemos assistir a isso tudo em silêncio. Precisamos usar os espaços que temos para nos indignarmos, denunciarmos, cobrarmos de órgãos e instituições como Polícia Federal e Ministério Público que tomem providências contra tamanha barbaridade!
Não podemos nos calar – nunca! Não podemos fingir que não é conosco, que isso não está acontecendo dentro do território brasileiro.
Quando uma de nós morre ou é violada, todas somos violadas juntas.
Já basta de tanta violência, Brasil!