Artigo
Nas últimas semanas dois casos envolvendo gravidez decorrente de estupro tiveram destaque nas redes sociais.
O primeiro foi de uma criança de 10 anos, que sofreu uma série de violências promovidas pela promotora e a juíza, em uma audiência. Tanto a promotora, quanto a juíza induzem a criança a permanecer grávida para salvar a vida do feto, pondo em risco a saúde física e mental da criança que já havia sido violentada.
O segundo foi a publicação, sem autorização, de que uma atriz teria engravidado e doado seu filho para adoção, a história foi divulgada no Youtube em uma live e depois no site Metrópoles. Diante da exposição pública, a atriz Karla Castanho revelou que a gravidez foi em decorrência de um estupro e que ela se sentia novamente violentada, devido a exposição desse caso.
Nos dois casos – amplamente repercutidos – é possível identificar uma conduta que não muda: o machismo.
Mesmo com o passar dos anos, e de tanta luta para que as mulheres tenham os mesmos direitos que os homens, a sociedade ainda expõe mulheres em praça pública para o “apedrejamento”. Não importa se a mulher é a vítima, ela é sempre apontada como se fosse responsável pelas violências que sofre. Em ambos os casos e em tantos outros, a opinião pública é de que: A culpa é sempre da mulher!
É como se desde quando EVA mordeu a maçã tivesse também traçado o destino da culpa por ser mulher, que herdamos de geração em geração.
Só isso pode justificar o motivo pelo qual a gente não tenha nem um segundo de paz. Seja andando na rua, dentro de casa, no trabalho, na escola, ou na igreja, somos julgadas, culpadas e punidas.
Somos expostas na praça pública, apedrejadas, violentadas, estupradas e mortas. Um ciclo de violência que não poderá ser interrompido enquanto a culpa for da vítima e não dos agressores.
O aborto legal é uma conquista do movimento de mulheres que deve ser garantida e preservada. O SindSaúde-SP repudia qualquer ação que possa impedir ou constranger uma mulher por ir buscar algo que já lhe é direito.
Atualmente, a legislação brasileira permite o abortamento legal para mulheres nas seguintes situações: gravidez devido a estupro, gestação de fetos anencéfalos ou gestação de risco.
Impedir o aborto legal violenta ainda mais as mulheres, e pode sujeitá-las a se submeterem a um aborto clandestino, o que pode causar graves sequelas ou leva-las à morte.
*Maria Aparecida de Deus (Cidinha) Secretaria da Mulher Trabalhadora