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A cidade de São Paulo registrou nas três primeiras semanas de janeiro 1.792 casos de dengue. Os números alarmantes, os maiores em 10 anos, representam um crescimento de 300% quando comparados aos 443 registros de contaminação de 2023.
O Brasil é o país com maior número de contaminados pela doença no mundo e o estado de São Paulo só perde em infectados para Minas Gerais.
A situação crítica poderia ser bem diferente se a extinta Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), atual Coordenadoria de Controle de Doenças (CCD) não fosse subutilizada e deixada de escanteio.
O papel da CCD vai além do combate ao problema e envolve aquilo que qualquer governo com uma política responsável de saúde deve considerar como investimento: a preocupação com pesquisa e prevenção de casos.
A coordenadoria atende municípios com menos de 50 mil habitantes e cidades que contam com um contingente acima desse patamar devem ter equipes que façam o controle de doenças. Mas, na prática, acaba convocada para apagar incêndio, o que diminui consideravelmente a eficácia do trabalho.
A prefeitura alega que aumentou o número de agentes nas ruas de 2 mil para 12 mil, adquiriu inseticidas para a nebulização contra o mosquito e ampliou a frota de veículos para transporte dos agentes. Além de abrir concurso para a contratação de servidores para a Rede Municipal de Vigilância em Saúde.
Mas sem uma política eficaz de prevenção, as melhores medidas se tornam inócuas. Isso porque à CCD cabia um processo que inclui o levantamento de possível criadores nas casas e o mapeamento dos lugares onde havia maior potencial para casos de contaminação. Trabalho que não é mais realizado.
Com esses dados, as prefeituras poderiam se preparar e mobilizar ações que devem começar com o combate às larvas nos imóveis.
Sem o combate dentro das residências com a bomba costal, onde está a fêmea do mosquito que se alimenta com sangue, o tratamento veicular é meramente paliativo.
Iniciativas como a do governo federal, que aposta nas vacinas e começará a aplica-las em fevereiro pelo Sistema Único de Saúde (SUS) são importantes, mas o investimento na prevenção e em uma estrutura qualificada, que inclui a valorização de trabalhadoras e trabalhadores, é um passo essencial para livrar de vez o país da dengue.