Artigo
A descoberta pela Polícia Federal de uma tentativa de golpe de Estado em 2022 arquitetada pela cúpula do Exército e que trouxeram fortes indícios de terem como líder o ex-presidente derrotado nas últimas eleições, Jair Bolsonaro (PL), não mexeu com o humor do ‘Mercado’, esse ente sem forma e vida, mas que segue a assombrar de maneira onipresente mesmo quem não faz a menor ideia de qual o seu papel.
Uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) aprovada recentemente pela Comissão de Constituição, Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara, que pretende proibir o direito ao aborto às mulheres mesmo em caso de estupro, medida que tem como autor o ex-deputado Eduardo Cunha, preso em 2016 por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, também não afetou em nada o Mercado.
Mas o anúncio da isenção de Imposto de Renda por parte do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez com que o Mercado despertasse, o valor do dólar atingisse as alturas e trouxe enorme preocupação sobre a arrecadação do governo.
A mudança no IR, uma proposta de campanha de Lula, portanto, uma das razões de ter sido eleito, com apoio de mais de 60 milhões de brasileiros e brasileiras, frustrou quem esperava apenas cortes, ajustes e prejuízos a quem habitualmente paga as contas do rentismo e sustenta a arrecadação dos privilegiados que vivem sem produzir nada para o país.
A partir disso, fica fácil saber que a tal coisa sem cara, voz ou forma é a personificação da mesma elite que defende privatizações de direitos básicos, como a saúde, e se irrita quando também é atingida por ajustes. Caso do recente pacote que inclui a tributação sobre renda de quem ganha a partir de R$ 600 mil ao ano e a definição de limitação de salário ao teto constitucional, hoje em R$ 44 mil, para todos os funcionários públicos.
Não há justiça quando só os mais pobres, a classe trabalhadora paga a conta e é com isso que o tal do Mercado está acostumado. Com reformas em que não são os moradores privilegiados, mas sim os próprios operários que trabalham na obra que pagam. Com medidas como a Emenda Constitucional (EC) 95, de 2016, que congela investimentos públicos em áreas como a saúde, educação e assistência social.
Não podemos perder de vista, o Estado deve servir à população e o bem-estar da maioria, em especial, dos que mais necessitam, deve ser sempre prioridade. Unidos e conscientes, entendemos que não é conosco que o tal Mercado dialoga e nem para nós, mas sim a quem usa força e influência para manter privilégios à base dos nossos esforços.
Que outras medidas que impactem quem precisa pagar a conta pela desigualdade venham. Em respeito à nossa origem, defendemos não só outras ações semelhantes, como o fim do teto de gastos e qualquer política que resulte em mais investimentos capazes de ampliar a oferta de saúde de qualidade e para todos.
* Gervásio Foganholi - Secretário de Administração e Finanças