Surto de norovírus é apenas a ponta do iceberg da privatização
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    Surto de norovírus é apenas a ponta do iceberg da privatização
    Autor: Carlos Gabriel Júnior*
    13/01/2025

    Crédito: Redação SindSaúde-SP

    Quem pensou em aproveitar as praias do litoral paulista neste final de 2024 e início de 2025 teve uma desagradável surpresa com um surto de gastroenterite que afetou com maior intensidade moradores e turistas das cidades de Guarujá e Praia Grande. Até esta semana, mais de 11 mil pessoas haviam sido impactadas.

    Conforme análise divulgada na última semana da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo (SES) a partir de exames coletados, foi constada a presença de norovírus nas fezes humanas, que indica a suspeita do problema estar relacionado com à precariedade no saneamento básico. 

    A situação beira a calamidade: já são 51 praias impróprias para banho no litoral de São Paulo e a Sabesp segue a negar a responsabilidade em falhas na operação da rede de esgoto, ainda que prefeituras, como a do Guarujá, que apontem a possibilidade de vazamentos clandestinos como causa da contaminação, digam o contrário. 

    Privatizada em julho do ano passado, a Sabesp já apresentou o cartão de visitas ao suspender descontos que eram fornecidos a grandes consumidores como hospitais e museus do estado, que terão aumento de até 200% na conta de água ao longo deste ano. 

    Com isso, a companhia que era patrimônio público, segue a mesma linha implementada pela Enel, que ao assumir a Eletropaulo em 2018, implementou uma escalada de maus serviços prestados que a levou ao topo do ranking de reclamações do Serviço de Proteção ao Consumidor (Procon). De janeiro de 2022 até 14 de outubro de 2024, foram 52.470 queixas registradas. 

    O modo operacional das privatizações é o mesmo que governos conservadores, como o de Tarcísio de Freitas, adotam para todos os setores, inclusive hospitais públicos. Primeiro, o sucateamento, depois, a entrega. Por fim, chega a conta com prejuízos severos à população. 

    Nos hospitais, já temos sentido isso na pele: falta de materiais básicos, como curativos e seringas, ou a troca por de pior qualidade a partir da terceirização, a restrição do atendimento ao público, a redução de pessoal, o constante descumprimento de metas pelas Organizações Sociais (OSs), dificuldade de acesso às informações sobre a gestão por parte das trabalhadoras e trabalhadores são apenas alguns dos sintomas de um processo em que o Estado abre mão de suas obrigações e entrega setores estratégias e essenciais à iniciativa privada. 

    Quanto mais privatização, menos saúde e isso temos alertado há muito tempo. Vamos esperar que novos surtos e epidemias acontecem para mudar esse modelo?

    * Carlos Gabriel Júnior - Secretário de Saúde do Trabalhador do SindSaúde-SP