Artigo
As mulheres são mais escolarizadas que os homens, trabalham por mais horas (de forma remunerada ou não) e ainda assim, em uma análise global, recebem 2,5 vezes menos que eles. Essa situação demonstra que a falta de igualdade de oportunidades continua a oprimir as mulheres e, mesmo com os avanços que tivemos até aqui, a sociedade machista e misógina precisa ser combatida por políticas públicas que promovam a inclusão e ações que promovam a igualdade de gênero.
No ritmo atual, seriam necessários 300 anos para alcançar a igualdade de gênero, conforme apontado no relatório Pequim+30, que marca os 30 anos da IV Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU) na capital da China, em setembro de 1995.
A publicação, divulgada na última quinta-feira (6), tem como base as ações realizadas por 189 países, que participaram da conferência e estabeleceram aquela ocasião como marco global para melhorar a vida das mulheres.
Para isso, foram definidos parâmetros concretos para atingir a igualdade de direitos em 12 áreas críticas de preocupação, como direito das meninas; meio ambiente; mecanismos institucionais, economia; violência contra as mulheres; direitos humanos; saúde; mulheres no poder; mulheres e a mídia; conflitos armados; educação e capacitação; e mulheres e pobreza.
Contudo, a análise aponta que houve diversos retrocessos nesse período, entre eles, o aumento do número de casos de violência contra a mulher e a estagnação da desigualdade de gênero no mercado de trabalho.
De acordo com a ONU, entre as pessoas de 25 a 54 anos em todo o mundo, 63% das mulheres constituem força de trabalho enquanto entre os homens esse percentual é de 92%.
Na Saúde paulista, o cenário é diferente, elas são 76,9% do total de pessoas que atuam nessa área, somando o serviço público e privado, o que representa pouco mais de 1,5 milhão de mulheres em um total de cerca de 2 milhões, segundo levantamento realizado pela Subseção do Dieese no SindSaúde-SP, com dados do 4º trimestre de 2024 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
Desvalorização profissional
Apesar de maioria, as profissionais de saúde paulista ganham significativamente menos que os homens na saúde: em média é 59,7% do que recebem os homens da saúde.
Quando comparado ao salário de trabalhadoras negras da saúde no estado de São Paulo, a desigualdade é ainda mais devastadora, pois elas recebem apenas em média 38,6% do salário que os homens não negros.
O problema para desvalorização salarial não está ligado a formação, pois as mulheres representam 60,3% do total da população brasileira formada em graduação presencial contra 39,7% de homens.
Ao relacionar o resultado do relatório da ONU com os dados apontados pelo Dieese, percebemos o quão distante estamos da igualdade de direitos e por isso, seguiremos lutando e exigindo visibilidade para nossas pautas, pois ainda há muito o que conquistar.
Luta do SindSaúde-SP
O SindSaúde-SP cobra do governo do estado de São Paulo na pauta de reivindicação da Campanha Salarial e nas negociações com a Secretaria de Estado da Saúde, medidas que visam diminuir a violência contra as trabalhadoras, que estabeleçam uma rede segura de atenção à saúde e que trate as mulheres com equidade.
Este ano, por exemplo, estão entre as pautas aprovadas pela categoria:
- a implementação e ampliação de Serviços Especializados em Segurança e Medicina do Trabalho (SESMTs), com inclusão nas unidades de Programa de Saúde da Mulher com atendimento pelo SESMT na própria unidade e ampliação das ações de saúde mental ativa;
- a criação de comissões estadual e locais de combate ao assédio moral e sexual, compostas por representantes de trabalhadores e gestores, com a finalidade de acolher denúncias e propor medidas de combate ao assédio dentro das unidades;
- licença-menstrual para trabalhadoras com sintomas intensos;
- cumprimento da lei que regulamenta a redução da jornada para trabalhadores(as) responsáveis por pessoas com deficiência (PcD);
- facilitação da transferência das trabalhadoras que sofrem violência de companheiros e ex-companheiros, para unidades de trabalho sem publicização em Diário Oficial;
- a criação de programa habitacional voltado para os(as) trabalhadores(as) ativos(as) e aposentados(as) da saúde estadual;
- e cumprimento da lei que garante o direito ao(a) trabalhador(a) de se afastar para exercer os cuidados de saúde de pessoa da família até o 2º grau sem perda de direitos.
Reivindicações como essas visam reduzir a desigualdade de maneira equânime, pois reconhece as necessidades que são impostas apenas às mulheres. Além disso, o SindSaúde-SP reivindica valorização salarial, pois não são flores e nem bombons que vão proporcionar dignidade para as mulheres que em sua maioria são arrimo de família e estão na luta para levar o sustento de suas casas.
*Renata Scaquetti é secretária da Mulher Trabalhadora do SindSaúde-SP