Mulher trabalhadora: como superar a discriminação salarial entre homens e mulheres no mundo do traba
Autor: SINDSAÚDE-SP
10/03/2009
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Muito se tem falado sobre as diferenças de salários e condições de trabalho entre homens e mulheres; mais do que comprovado por pesquisas e estudos, é preciso entender como se passa esse fenômeno e propor ações e políticas para mudar esse cenário. Entendendo o fenômeno:
*O trabalho das mulheres é desvalorizado por que as aptidões da mulher são consideradas características femininas naturais, consideração construída social e culturalmente;
*A produtividade nessas ocupações é sub-remunerada , pois é mais difícil de ser mensurada e calculada;
*Há discriminação nos diversos subsistemas de Recursos Humanos, como seleção, ascensão profissional, política de desenvolvimento profissional, etc.
*Há inúmeras barreiras que dificultam o desenvolvimento profissional das mulheres ( creches, capacitação no horário de trabalho, etc.)
*As ocupações “masculinas” cuja remuneração é maior têm seu acesso dificultado às mulheres.
Diante desse contexto de discriminação, as mulheres trabalhadoras se organizaram para trazer essas questões à baila e colocá-las na ordem do dia, lutando para abrir espaços de poder às mulheres nos sindicatos, partidos políticos, instituições públicas e privadas, como por exemplo, a cota nas direções, em cargos de chefia; desenvolvendo políticas que garantissem a chamada transversalidade de gênero no conjunto das políticas das instituições envolvidas, sejam sindicais sejam governos e entidades da sociedade civil. Muita coisa vem sendo feita, no entanto, ainda são muitos os desafios que se colocam para que consigamos mudar esse cenário.
É preciso aprofundar na elaboração de políticas em relação ao mundo do trabalho, desenvolvendo ações que ataquem os focos da discriminação das mulheres no mundo do trabalho, inclusive para aumentar o número de mulheres no mundo do trabalho e suas instituições.
Como fazer isso? Identificando e removendo as barreiras às mulheres no mundo profissional, como a ausência de creches nos locais de trabalho, de cursos dentro da jornada normal de trabalho, ou o acesso a empregos “naturalmente masculinos”, ou seja, removendo tudo que limita as opções de trabalho disponíveis para as mulheres. Um exemplo interessante desse tipo de política foi o que aconteceu em uma negociação sindical no Canadá/Quebec: o sindicato dos/as trabalhadores/as da construção civil reivindicava a contratação de mais mulheres no setor. Os empregadores diziam que não era possível, pois os postos de trabalho exigiam força física para, por exemplo, carregar pesados sacos de cimento. Ao quê o sindicato respondeu: “mas será que é justo e correto que os homens trabalhadores carreguem pesados sacos de cimento? Ou isso também não lhes é prejudicial à saúde também? Não seria o caso de implantar novos maquinários de suspensão de peso que evitem que ambos, homens e mulheres, tenham que carregar peso, melhorando assim a condição de trabalho de todos/as, e assim contratarmos também mulheres?”
Uma iniciativa de grande importância sobre política de remoção de barreiras é o Programa PróEquidade da Secretaria de Políticas para Mulheres, que sugere a criação de comitês nas empresas para estudar quais as barreiras e quais ações para removê-las em cada caso, e premia com o Selo de Equidade as empresas que tiverem sucesso. Só falta uma coisa nesse maravilhoso Programa: que os sindicatos de trabalhadores/as sejam chamados para participar dos Comitês!
Uma outra medida importantíssima é a mudança do valor social do trabalho das mulheres, através da Equidade de Remuneração, fazendo valer a Convenção 100 da OIT, de Salário igual para Trabalho de Igual Valor. Para concretizá-la existe uma metodologia de avaliação de postos de trabalho livre de preconceitos sexistas, que dá visibilidade a elementos importantes dos trabalhos históricos das mulheres, como o cuidar de pessoas, por exemplo.
Essa metodologia se aplica ao conteúdo do posto de trabalho, descrevendo cada tarefa e criando um sistema de pontuação que valoriza o conteúdo daquele posto, em geral, ocupado por mulheres, sempre o comparando aos conteúdos dos postos de trabalho ocupados por homens e analisando os seus respectivos salários. Exemplos interessantes ocorridos usando-se essa metodologia:
- Mudou-se o salário de trabalhadoras encarregadas de supervisão e atenção a crianças menores de cinco anos em uma creche, que recebiam 25% a menos que homens encarregados de exterminar animais e insetos nocivos no mesmo lugar;
- Mudou-se o valor do salário de uma cozinheira que tinha o mesmo nível de qualificação e tempo de aprendizado que um encanador, mas ganhava 30% menos , trabalhando 2 horas a mais por semana;
- Houve ainda o caso de uma enfermeira com grau superior de qualificação profissional, cinco anos de experiência, supervisionando 15 pessoas, e que ganhava 33% menos que um supervisor de manutenção, com curso de carpintaria, três anos de experiência e supervisionava 3 pessoas.
Sabemos que nada disso é fácil ou simples de se concretizar, mas a experiência concreta em países onde essas políticas foram implantadas mostrou-se muito exitosa, e ainda contribuiu para inúmeros impactos positivos, como a erradicação da pobreza e a inclusão social, (estudos mostram que a melhora dos salários das mulheres repercute em toda a família), tornando-se modelo de boas práticas de emprego e de cidadania, com repercussões favoráveis ao desenvolvimento econômico local.
Mônica Valente é sindicalista, ex-presidente do SindSaúde-SP, Secretária Subregional no Brasil da Internacional de Serviços Públicos (ISP) e membro do Diretório Nacional do PT.
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