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    Socialistas vencem eleição na Espanha
    Autor: CLÓVIS ROSSI - FOLHA DE S. PAULO
    15/03/2004

    Crédito Imagem:

    Atentados em Madri reacendem a revolta popular contra a invasão do Iraque. Há muitos indícios de que os atentados da semana passada foram cometidos por membros da Al Qaeda, de Osama Bin Laden, como forma de punir a Espanha por ter apoiado a Guerra do Iraque.



    O Partido Socialista Operário Espanhol, liderado por José Luis Rodríguez Zapatero, venceu ontem a eleição espanhola, contrariando todas as pesquisas e derrotando o conservador Partido Popular, do premiê José María Aznar e do candidato governista Mariano Rajoy.
    Em seu primeiro discurso como premiê eleito, Zapatero, 43, convocou à unidade todos os partidos para combater o terrorismo, no que será a sua prioridade. A reviravolta brusca em relação às pesquisas se deve ao comportamento do governo após os atentados de quinta, que mataram 200 pessoas e feriram quase 1.500.
    Sistematicamente, o governo minimizou a probabilidade de que os ataques tivessem sido praticados por grupos islâmicos radicais, hipótese que se tornou virtualmente a única na véspera da eleição. Zapatero prometeu, além do combate ao terror, uma mudança tranqüila.


    Vitória contraria as previsões
    As bombas que mataram 200 pessoas na quinta-feira em Madri acabaram também com o governo do conservador PP (Partido Popular), do premiê José María Aznar, dando a vitória ao PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), contra as previsões de todas as pesquisas publicadas até o domingo anterior, último prazo legal para divulgá-las.
    A derrocada do PP, apesar do êxito econômico em seus oito anos de gestão, foi espetacular: perdeu 35 cadeiras, em relação às 183 que havia obtido no ano 2000, na primeira vez em que um partido de direita chegou à maioria absoluta. Ficou, portanto, com 148 cadeiras.
    Como é óbvio, percurso inverso fez o PSOE, que passou de 125 para 163 cadeiras, de um total de 350. Em número e porcentagem de votos: 10,788 milhões para o PSOE (42,65%) e 9,301 milhões para o PP (37,65%).
    Mas a vitória, mesmo com boa margem sobre seu principal rival, não deverá tornar fácil a vida do PSOE.
    Primeiro, porque seu líder, José Luis Rodríguez Zapatero, 43, disse uma e outra vez, durante a campanha, que só governaria se obtivesse a maioria absoluta. Ficou a 13 cadeiras dela.
    Zapatero terá, portanto, de desdizer-se, o que é um mau começo, mais ainda em um país cujo eleitorado exigiu a verdade (sobre os atentados de quinta-feira). É razoável supor que não ter dito a verdade durante a campanha não agradará ao eleitorado.


    Negociação
    Em todo o caso, Zapatero, no discurso da vitória, já mudou de posição. Estou preparado para assumir a responsabilidade de formar o novo governo da mudança, afirmou, sob aplausos dos militantes socialistas, em um dos raros momentos em que se permitiram fazer festa, apesar do luto.
    Um segundo problema para Zapatero será com quem negociar para conseguir a maioria absoluta. Seus aliados naturais, a IU (Esquerda Unida) e a ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), obtiveram, respectivamente, oito e cinco deputados.
    Os três juntos, portanto, teriam a maioria absoluta justa.
    O problema é que o principal líder da ERC, Josep Lluis Carod Rovira, tornou-se maldito depois que foi divulgada gravação de um encontro secreto seu com líderes do grupo terrorista basco ETA (Euskadi Ta Askatasuna, ou Pátria Basca e Liberdade).
    O diálogo com o ETA é rejeitado por todos os partidos espanhóis, tanto que Zapatero exigiu do também socialista Pasqual Maragall, que governa a Catalunha, que demitisse Carod Rovira do cargo de conselheiro-chefe da Generalitat (o governo autônomo catalão).
    Pedir agora o apoio da ERC deverá ser, portanto, uma complicação.
    Mas o eleitorado, ao contrário dos partidos, não se incomodou com o encontro do líder catalão com o ETA, tanto que lhe deu oito cadeiras no Congresso de Deputados, quando tinha obtido só uma, na eleição de 2000.


    Atroz atentado
    Os partidos nacionalistas moderados elegeram 26 dos 350 deputados, divididos entre a CiU (Convergência i Unió, também da Catalunha), com 11, quatro a menos do que em 2000; o Partido Nacionalista Basco, com os mesmos 7 do pleito anterior; a Coalizão Canária, com 3, um a menos; o Bloco Nacionalista Galego, com 2 (um a menos); e 1 para cada um dos nacionalistas navarros, bascos e aragoneses.
    Ao reconhecer a derrota, por volta de 22h45 (18h45 em Brasília), Mariano Rajoy, o candidato do PP, citou o fato de que as eleições foram inexoravelmente marcadas pelas conseqüências do atroz atentado, mas não atribuiu a elas a derrota.
    Já Zapatero pediu um minuto de silêncio, para não esquecer nunca as vítimas dos atentados, ao iniciar seu discurso da vitória, às 23h (19h em Brasília).
    O novo governante anunciou, como era previsível, que sua prioridade número seria combater toda forma de terrorismo. Anunciou que hoje mesmo buscará a unidade de todas as forças políticas com esse objetivo. Unidos, os derrotaremos, prometeu o vencedor.


    Castigo veio das urnas


    Não há a menor dúvida de que o governo do PP foi castigado, nas urnas, pelo comportamento adotado depois dos atentados da última quinta-feira.
    Todas as pesquisas anteriores indicavam a vitória do governo, algumas apontando até a repetição da maioria absoluta obtida em 2000. Mas todas elas foram feitas na semana anterior, já que a legislação proíbe a divulgação de pesquisas na semana final da campanha.
    O único fato novo, desde então, foram os atentados em que 200 pessoas morreram e quase 1.500 ficaram feridas.
    O governo acusou, de saída, o grupo terrorista basco ETA, sem ter qualquer indício ou prova concreta de que a organização estivesse por trás dos ataques aos trens suburbanos de Madri.
    Pode ter sido pura reação automática do partido governista: o grupo basco cometeu tantos atentados que bem poderia ter praticado mais um, ainda que de dimensões superlativas.
    Mas o eleitorado parece ter entendido que foi manipulação. Se fosse de fato o ETA o culpado, respingaria nos socialistas, que foram acusados sistematicamente pelo governo de excesso de brandura com o grupo basco.


    Reviravolta
    A reviravolta em relação aos resultados de 2000 foi tamanha que não se explica apenas pela manipulação, mas também como castigo à participação espanhola na Guerra do Iraque, contra uma fortíssima oposição da opinião pública, como revelavam todas as pesquisas realizadas ao longo do ano passado.
    É natural encarar os atentados como resposta à participação espanhola na guerra, se tiverem de fato a assinatura de grupos radicais islâmicos, como tudo agora indica. A resposta do eleitorado espanhol foi castigar nas urnas o governo que atraiu a ira do fundamentalismo.
    Essa lógica fica reforçada pelo fato de que o governo do PP foi espetacularmente bem nos principais aspectos econômicos.
    A Espanha vem crescendo nos últimos anos, mais do que os demais sócios da União Européia e mais também que a média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, o clube dos 29 países supostamente mais ricos do mundo).
    Ontem mesmo, o candidato derrotado, Mariano Rajoy, lembrou, no discurso em que assumiu a derrota, que nos oito anos do governo conservador, foram criados 4,5 milhões de empregos e as contas públicas estão em ordem.
    Seria lógico supor, se verdadeira a difundida tese de que o eleitor vota com o bolso, que o PP seria contemplado com um terceiro mandato consecutivo.


    Razão republicana
    Logo, a razão do voto é acima de tudo política, até republicana. Na gigantesca manifestação da sexta-feira, o último coro gritado pela massa foi um pedido para que a verdade (sobre os atentados) fosse divulgada antes da eleição geral de ontem.
    Um princípio republicano básico é o de dizer a verdade aos representados.
    Zapatero herda, portanto, essa lição. De certa maneira, assemelha-se a Luiz Inácio Lula da Silva, que começou seu discurso de posse com a palavra mudança seguida de ponto.
    Zapatero disse o mesmo ontem, no discurso da vitória. Mas leva a enorme desvantagem de saber que o eleitorado espanhol não está disposto a aceitar que lhe mintam.










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