Notícia
Falhas já prejudicam tratamento, segundo unidades da Grande São Paulo
Escrito por: MONIQUE OLIVEIRA
DE SÃO PAULO, 07/02/2015
A Grande São Paulo tem 15 mil pacientes que realizam, sem falta, três sessões de hemodiálise semanais. Cada uma consome em média, contando a lavagem dos filtros, 150 litros de água --algo como 15 descargas no banheiro.
São consumidos 6,75 milhões de litros toda semana só com a terapia, que substitui os rins na filtragem do sangue.
Agora, em meio à crise hídrica, o procedimento realizado em pacientes sob risco de morte à espera de transplante está ameaçado. Tanto pela falta de água quanto pelo uso de líquido de procedência duvidosa fornecido por caminhões-pipa.
Na zona leste, três clínicas relataram falta de água e já fazem uso de caminhão.
Na Clínica Nefrológica de São Miguel Paulista, foi necessário desligar o aparelho mais cedo na sexta (30). Faltou água. São necessárias quatro horas para a filtragem do sangue, mas pacientes só realizaram três. Já na Clínica Leste, em Itaquera, no sábado (31), pacientes fizeram apenas uma hora de diálise.
Em muitas regiões, há ainda problemas com redução de pressão. Na Clínica de Nefrologia São João, no centro, a restrição, que, segundo um sócio, ocorre das 11h às 4h, compromete o abastecimento. "Não consigo encher [as caixas] e consumimos 15 mil litros por dia", diz o nefrologista João Damásio.
A dona de casa Simone Borges da Silva, 32, que faz hemodiálise três vezes por semana na Clínica Leste, foi uma das afetadas com a falta de água no sábado. "Não fiz nem uma hora de diálise", diz. "Eu tinha 2 kg e meio de água a mais no meu corpo que estavam sem filtrar."
Simone perdeu a função dos rins após um problema no canal da urina não tratado na infância. Está à espera de transplante há um ano.
Sem o tratamento, ela relata ter tido enxaquecas, falta de ar, náuseas e dores no corpo inteiro. "Não consegui sair da cama", diz. "Fiquei apreensiva, não só por mim. Pensei que não veria alguns amigos no dia seguinte. "
Os riscos da falta da diálise podem custar a vida. Sem filtragem, o sangue fica com altas concentrações de potássio e ureia. Esses compostos deixam os músculos mais "excitados" --no coração, que é um músculo, isso pode ser fatal.
"A falta de diálise reduz a expectativa de vida como um todo", explica Oswaldo Merege, presidente da Sonesp (Sociedade de Nefrologia do Estado de São Paulo).
A Sonesp, segundo ele, entregou à Sabesp uma lista de clínicas para que fosse avaliada a necessidade de água.
Em nota, a empresa informa que hospitais e escolas terão atendimento prioritário no fornecimento de água.