Notícia
Se governo corrigir rumo, trabalhadores são capazes de colocar 500 mil nas ruas em apoio, segundo Vannuchi
São Paulo – Em seu comentário à Rádio Brasil Atual de hoje (16), o analista político Paulo Vannuchi afirmou que as manifestações de sexta (13) e de ontem mostraram que "há um choque de visões políticas bastante opostas", no país e que caberá ao governo Dilma Rousseff reverter o ataque da extrema-direita, que tenta anular os resultados das eleições de 2014 por vias não democráticas
Citando o ditado que "em tempo de guerra, a mentira é como terra", Vannuchi tratou, primeiramente, de contestar os números de participantes que foram divulgados pela mídia tradicional nos atos ocorridos na sexta-feira, organizados pelas centrais sindicais e movimentos sociais, e no domingo, contra o governo Dilma.
Para o analista, os cálculos da Polícia Militar de São Paulo, repercutidos pela Rede Globo, tentaram reduzir a importância da manifestação de sexta e, ao contrário, insuflar, oo movimento ocorrido ontem, sobretudo em São Paulo, onde a PM chegou a afirmar que haveria 1 milhão de pessoas na avenida Paulista.
Contudo, destacou, "o número (de pessoas em cada uma das manifestações) não interessa tanto quanto o futuro dos dois blocos." Para Vannuchi, os atos de sexta-feira demonstraram que o bloco dos trabalhadores "exigem mudanças no sentido de retomar as grandes bandeiras de distribuição de renda, da igualdade, de valorização do Brasil que é oprimido e explorado, há cinco séculos, e não as bandeiras do ajuste recente".
Segundo o analista, as medidas de ajuste são, por um lado, "uma necessidade na condução econômica", mas, por outro, "é uma tentativa de despertar simpatias do mercado", esforço que considera em vão.
"Nem com isso, no momento atual, a direita, a elite conservadora, que inclusive lucrou muito no governo Lula, é incapaz de fazer o menor gesto de retribuição, não no sentido de apoiar Dilma, mas apoiar as regras do jogo democrático."
O analista afirma que "o ambiente é de golpismo, de busca de saídas não democráticas", não mais no velho modelo de golpe militar, segundo ele, mas a partir de articulação entre o Legislativo, o Judiciário e o "partido da mídia", e que tais esforços podem ser bem-sucedidos, a menos que as manifestações de sexta-feira "simbolizem uma reorientação" da parte do governo.
"Se Dilma tiver coragem de fazer isso, as manifestações de sexta-feira se repetirão, se ampliarão. Quem pôs na rua, na Avenida Paulista, entre 50 mil a 100 mil pessoas, é capaz de colocar 300 mil, 500 mil, igualando os números de ontem", analisa.
"Importa menos o cálculo numérico e mais que o grande partido de oposição, hoje, não é o PSDB ou DEM. Esses partidos, na disputa exclusivamente partidária com o PT, perderam de 10 a 0, nos últimos dez anos."
Para o analista, a principal força de oposição é a grande imprensa, que pauta, diariamente, a atuação dos agentes políticos de partidos de oposição, que seguem à risca o que mandam os editoriais dos "jornalões".
Vannuchi afirma que "vencer o partido da mídia em um contexto econômico de dificuldade é uma tarefa muito mais difícil", mas possível, por meio da multiplicação dos esforços da mídia alternativa e da mobilização popular, mas isso vai depender das próximas ações do governo Dilma.
"O povo na rua só é uma possibilidade concreta quando Dilma começar a anunciar medidas valorizando os direitos do povo, e exigindo que os mais ricos paguem pela crise."