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As negociações entre as centrais sindicais e os governos municipais e estadual têm sido marcadas por intransigência, dificuldades de diálogo e desvalorização dos servidores públicos. O problema afeta o funcionalismo no Brasil e na Itália, mesmo quando a negociação ocorre junto a governos alinhados à esquerda e com viés democrático e popular.
A questão deu o mote dos debates no segundo e último dia do Seminário Internacional O Papel das Organizações Sindicais em São Paulo e Lombardia-Milão, que ocorre nesta terça (9) na sede da Federação dos Metalúrgicos (FEM-CUT/SP), em São Bernardo do Campo. Realizado numa parceria entre a CUT São Paulo e a Confederação Geral Italiana do Trabalho (CGIL Lombardia e Milão), o evento discute as estratégias do movimento sindical para enfrentamento da crise econômica que afeta os dois países.
"Há diferenças entre os governos neoliberais e os de esquerda, mas estamos numa fase em que algumas políticas adotadas se misturam e o resultado é o mesmo. Tanto na França, com governo socialista, quanto na Alemanha, com governo conservador, há medidas contrárias aos interesses dos trabalhadores", critica Giovanni Zampariolo, responsável pelas Relações Internacionais da CGIL Milão.
Na Itália, desde 2009 o reajuste salarial dos servidores é prejudicado porque seus contratos de trabalho foram bloqueados para atender aos parâmetros da União Europeia, explica o sindicalista. Além disso, o governo nacional aprovou mudanças nas políticas de assistência aos desempregados e também nas regras para aposentadoria, o que levará ao aumento do tempo de serviço.
Neste cenário, o caminho passa pela autonomia e liberdade sindical, independente da ideologia política que norteia os governos, diz Zampariolo. "Tem que ter autonomia na decisão e equilíbrio político para enfrentar as políticas dos governos. Se o governo é de esquerda, mas está contra os trabalhadores, tem que fazer greve!".
Sindicalismo cidadão - Apesar dos entraves que aumentam nos tempos de crise, a atuação da CGIL junto aos governos vai além da negociação de direitos trabalhistas. Na Itália, a central também está fortemente engajada na negociação de políticas de assistência da prefeitura, como o atendimento aos idosos e às pessoas deficientes; em serviços como transporte público, coleta de lixo e fornecimento de água; por meio de um observatório sobre o mercado de trabalho, que promove debates e análises, integrando movimento sindical, governo municipal e trabalhadores (as) da base.
Em parceria com outras centrais, com a prefeitura e a Câmara de Comércio de Milão, a CGIL mantém, ainda, um fundo de bem estar social, com recursos públicos e privados para oferecer micro crédito a pessoas físicas e jurídicas que não conseguem empréstimos diante da austeridade dos bancos privados.
"Uma central negocia não só para os trabalhadores que ela representa, mas para o conjunto dos trabalhadores e os cidadãos, sejam afiliados ou não", destaca Zampariolo.
Embora não seja partidária, a CGIL é distinguida como sujeito político completo pois, na busca por direitos e cidadania, a central melhorou as condições de vida dos italianos, explica Florindo Oliverio, secretário Geral da La Funzione Pubblica (FP CGIL Milão), sindicato que organiza os servidores públicos na Itália.
Esse engajamento para além das questões contratuais do trabalho é histórico no sindicalismo da Itália e fez com que a CGIL tenha conquistado reconhecimento geral pela população. Entre outras ações, a central liderou até o movimento pela dignidade das pessoas com doenças mentais, escancarando a desumanidade dos manicômios e hospitais psiquiátricos.
"A CGIL não é só para direitos dentro da fábrica, mas como sindicato promoveu a emancipação do país. A Itália é uma república fundada no trabalho e isso está na nossa constituição graças ao primeiro líder da CGIL, Giuseppe Di Vittorio", finaliza Oliverio.