Nós, os protagonistas da comunicação
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    Nós, os protagonistas da comunicação
    Autor: Revista Radis
    24/06/2015

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    Manual de leitura crítica da mídia incentiva participação cidadã e olhares mais conscientes sobre o conteúdo da imprensa
    Enquanto movimentos populares denunciam o caos urbano resultante de um modelo excludente de desenvolvimento, a cobertura dos jornais mostra a imagem de modernidade do projeto Novo Recife. A iniciativa proposta pela prefeitura e por empreiteiros para a reforma da região do cais José Estelita é retratada como uma mudança positiva para a cidade, sem levar em conta os prejuízos ambientais, o preço a ser pago pela população e o aumento das desigualdades. Já as reivindicações por mais cidadania e melhores condições de mobilidade urbana do movimento Ocupe Estelita, surgido em 2012, não aparecem na TV, no rádio ou nos jornais — ou quando são mostradas, geralmente é sob o estigma de “baderna”.

     

     
     
    Para que as pessoas possam compreender o que está por trás daquilo que a mídia mostra (e deixa de mostrar), os integrantes do Centro de Cultura Luiz Freire criaram o Manual Prático (muito prático mesmo) de leitura crítica da mídia. O grupo tem experiência desde 2003 com o observatório de mídia OmbusdPE, que analisa o noticiário pernambucano e nacional. Mais do que uma ideia, a conduta proposta pela ONG que trabalha com direitos humanos há 43 anos em Pernambuco é que qualquer cidadão possa ver a mídia com um olhar mais crítico.
     
    Como expresso no próprio título, a publicação apresenta de modo bem prático, com uma linguagem leve e bem-humorada, como as pessoas podem ver o que está nas entrelinhas das notícias. “Não precisa ser jornalista ou especialista, a crítica de mídia pode ser feita por qualquer um”, enfatiza um dos idealizadores, Ivan Moraes Filho. Para disseminar esse olhar entre “não especialistas” da mídia, pessoas afetadas pelo que é (ou deixa de ser) noticiado, a equipe passou a oferecer oficinas a grupos de indígenas, quilombolas, jovens moradores de áreas pobres, universitários e comunicadores populares.
     
    Um dos mitos que o manual busca combater é o de que a imprensa é imparcial. Como em um jogo de futebol, não dá para esconder para quem você torce, diz o texto. Além dos repertórios culturais que os jornalistas trazem na bagagem, é preciso sempre estar atento à pergunta “Quem é o dono da mídia?” A resposta para essa questão, segundo Ivan, define a linha editorial seguida pela notícia, isto é, o enfoque de cada cobertura. 
     
    No caso do Novo Recife, não dá para ignorar que as construtoras e a própria prefeitura são grandes anunciantes da imprensa local e até mesmo o dono do Jornal do Commercio, João Carlos Paes Mendonça, possui ligações com negócios imobiliários, como conta Renato Feitosa, outro integrante do Luiz Freire.
     
    Sujeitos da comunicação
    O projeto pretende que os cidadãos possam se sentir “sujeitos” da comunicação — direito historicamente violado no Brasil, como aponta Ivan. Com isso, as pessoas começam a se dar conta de como a mídia influencia os problemas cotidianos. “Se faltar médico no hospital, a gente reclama. Mas existe um tabu em discutir a mídia”, alerta Ivan. “Será que a falta de uma cobertura mais equilibrada não interfere na garantia do direito à terra ou do direito à cidade?” 
     
    Com a disseminação das redes sociais, o desconforto em relação à cobertura da mídia passou a ser mais frequente, aponta Ivan, por isso o manual oferece instrumentos para que a crítica aconteça de modo mais organizado e consciente. “Quem mora em comunidades da periferia das grandes cidades pode atentar para a invisibilidade de seus entornos e de suas demandas ou na representação que a mídia faz de seu bairro”, diz o texto. E propõe ferramentas como conversas com jornalistas, cartas à redação, participação em audiências públicas, reclamações no Ministério Público e ações na Justiça pedindo direito de resposta.
     
    Para a equipe do projeto, a iniciativa não busca intimidar o trabalho da imprensa. Ao contrário, fortalece a liberdade de expressão, pois “quando a sociedade se levanta e pede uma cobertura mais equilibrada, mais transparente e diversa, repórteres comprometidos passam a dialogar com suas chefias numa posição mais legítima”, diz Ivan. Quem lê e coloca em prática o que está no manual, compreende que discutir comunicação — na escola, nas associações ou mesmo entre amigos — é o primeiro passo para a participação cidadã.

    http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/153/comunicacao_e_saude










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