Fim do Ciência sem Fronteiras é um golpe para estudantes mais vulneráveis
Autor: 247
06/04/2017
Crédito Imagem: 247
Com o fim do Ciência sem Fronteiras, anunciado pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, esta semana, quem mais sofre, como já é regra nesse governo, são os mais pobres e vulneráveis. A inciativa criada pela presidenta Dilma Rousseff em 2011 beneficiou 73,3 mil estudantes de graduação. E, deles, 26,4% são negros, e 25% veem de famílias com renda mensal de até três salários mínimos. São pessoas que, sem o programa, jamais teriam a oportunidade de estudar no exterior e aprimorar suas oportunidades de concorrer às melhores posições da sociedade brasileira.
Os dados mostram ainda que mais da metade dos beneficiados pelo Ciência sem Fronteiras vêm de famílias com renda de até seis salários mínimos por mês, e 90% estudam em universidades públicas. Dentre os bolsistas, 20% ingressaram em cursos de mestrado ou doutorado ao concluir a graduação, enquanto o índice geral é de apenas 5%. E o ministro ainda tem coragem de vir com a falácia de que o programa "não traz resultados e é muito caro".
Além dos ganhos para os estudantes, o programa traz benefícios inegáveis para o país. As melhores universidades do mundo, em 54 países, recebiam os brasileiros, e mais de 40% dos participantes realizaram estágios em laboratórios universitários, governamentais e industriais de ponta, o que os levou a ter contato com o que há mais avançado em desenvolvimento científico e tecnológico no planeta.
A ciência nacional precisa desse intercâmbio para que os pesquisadores brasileiros possam ajudar na solução de problemas locais e globais. Não custa lembrar que a nova economia é baseada inteiramente em conhecimento e informação. E somente com investimentos maciços em educação o Brasil irá conseguir superar a enorme defasagem que tem nas áreas de ciência e tecnologia em relação até mesmo a outros países em desenvolvimento, como Índia e China.
Obviamente, o Ciência sem Fronteiras poderia passar por aperfeiçoamentos, como a instituição de bolsas parciais para estudantes que com renda suficiente para contribuir, ou a adoção de parceria com a iniciativa privada, que já respondia por 25% do financiamento do programa. Mas não poderia jamais ser eliminado.
O fim das bolsas acadêmicas no exterior representa um retrocesso inaceitável. Mais uma vez esse governo ilegítimo deixar claro que trabalha apenas para os mais ricos, que voltarão a ser os únicos em condições de estudar em outros países e, com isso, manter sua posição de hegemonia na sociedade brasileira.