Resistência ao racismo é parte da luta de classes
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    Resistência ao racismo é parte da luta de classes
    Autor: CUT-SP
    09/11/2017

    Crédito Imagem: SindSaúde-SP

    Na abertura do mês da Consciência Negra, CUT aponta que golpe ampliou discriminação

    A consumação do golpe abriu as portas para que a discriminação social e racial, expressa também no ataque a direitos fundamentais por parte do Executivo e Legislativo, se tornasse algo 'banal'.

    Com isso, o que era execrável, tornou-se parte de uma estratégia para disputa política, como os recentes ataques a terreiros de celebração de religiões de matriz africana, especialmente no Rio de Janeiro e em São Paulo.

    Para os convidados do encontro que a CUT promoveu nesta quarta-feira (8) para marcar a abertura do Mês da Consciência Negra promovido pela Central, os atos de intolerância são resultado direito do racismo que antes ficava camuflado e agora se torna visível em tempos de ascensão conservadora, como comprovam os comentários racistas do jornalista William Waack, afastado de um dos principais jornais da Rede Globo.

    Na abertura, um ato ecumênico reuniu representantes do catolicismo, das religiões protestantes e da umbanda para discutir justamente essa questão.

    Para o padre Simon Bernardi, os encontros em torno da paz entre as crenças religiosas precisam ser mais efetivos e práticos para que todas as vertentes atuem no combate às desigualdades e discriminação.

    “O maior ato ecumênico seria juntar forças para dar resposta a quem não faz barulho porque não tem capacidade nem de virar notícia. É possível mudar o mundo, mas ele só muda se eu mudar”, afirmou.

    Secretário-Geral da Contracs (Confederação dos Trabalhadores no Comércio e Serviços) e sacerdote de umbanda, Antônio Almeida, as religiões devem ter a responsabilidade também de discutir a luta de classes e atuar em defesa de quem está na base da pirâmide.

    “Não podemos dizer nos cultos que a vida está boa e que o governo do nosso país prevê condições para combater as desigualdades. Precisamos ser mais conscientes e apontar que a condições que o governo está promovendo é de mais intolerância e desigualdade”, defendeu.

    Para além da discussão salarial

    Secretária da CUT de Combate ao Racismo, Maria Júlia, falou sobre a importância das atividades que marcam o Mês da Consciência Negra e em relação à necessidade de o movimento sindical ir além do debate classista.

    “Em nossas bases devemos cultivar o fim do ódio, do racismo e da intolerância religiosa. Pensamos o mês de novembro para discutir as questões de nossos dia a dia, porque esse sentimento escravocrata ainda é muito presente na nossa sociedade. Vivenciamos 350 anos de escravidão e o fim desse modelo não chega a 130 anos. Ainda está muito recente, e começou com uma grande parcela dessa população vivendo de maneira marginalizada. E interessa ao capitalismo que continue”, pontuou.

    Presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, ressaltou que o debate sobre a exclusão racial não pode ser considerado algo menor dentro da luta da classe trabalhadora.

    “O racismo se expressa na exploração muito maior do negro quando você compara o salário que recebe um trabalhador branco e um negro na execução da mesma atividade profissional. O racismo se expressa nas direções das empresas, quando você olha para os principais cargos nas principais multinacionais, nos bancos, e muita gente não leva em conta o apartheid que há no país. Quase 70% da população carcerária no país é formada por negros e negras, o que mostra a exclusão que se estabeleceu a partir da forma como o Brasil foi colonizado”, disse.

    O lado bom do golpe

    Para a representante do Instituto Lula, Tamires Sampaio, que definiu os ataques a religiões de matriz africana como uma forma de racismo – “o racismo é estrutural e se reproduz em todas as relações sociais e institucionais, refletindo no trabalho, nas questões de gênero e, claro, nas religiões” –, golpe permite às forças democráticas se rearticularem para uma mudança realmente profunda.

    “Este momento de golpe acaba sendo bom para nós porque passamos por um processo de reivindicação, de conquistas sociais e institucionais nos governos Lula e Dilma, de inclusão da parcela historicamente excluída, transformamos vida de pessoas, mas falhamos na disputa por consciência. O golpe está mostrando que esse discurso excludente não é para população negra, para a classe trabalhadora, e será necessário aglutinar essa insatisfação para promover mudanças profundas. Porque o Lula pode até concorrer em 2018 e ganhar, mas o que irá fazer com um Congresso conservador e se não tiver um projeto que realmente consiga transformar as relações?”, questionou.

    Representante da InfoPreta, empresa de tecnologia em que só trabalham mulheres negras e minorias e que presta serviços de assistência técnica e social para mulheres negras e de baixa renda, Danielle Lourenço falou sobre a dificuldade em romper com o racismo em diversos aspectos, especialmente no mercado de trabalho.

    “É muito bom ver o sorriso de uma 'mina' preta que conseguiu terminar a faculdade porque a gente ajudou. Agora estamos com um projeto chamado Ressocialização Preta, em que empregamos e damos cursos e bolsas a ex-detentas, moradoras de rua e negras em São Paulo. A gente houve histórias de mulheres com três, quatro anos, pensa, ‘porra, poderia ser eu’. Aquela menina é igual a mim. Esse movimento que fazemos é de mobilizaç]ap e de colocarmos essas pessoas para se ressocializarem. Sabemos o quanto é difícil porque precisamos todos os dias bater o pé para mostrar que sabemos fazer aquilo.”









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