Marcha da Consciência Negra em SP fortalece luta contra o golpe e o racismo
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    Marcha da Consciência Negra em SP fortalece luta contra o golpe e o racismo
    Autor: CUT-SP - Vanessa Ramos
    21/11/2017

    Crédito Imagem: SindSaúde-SP

    Passeata também enfrentou ação de boicote de Doria na Avenida Paulista

    Organizações do movimento negro enfrentaram a típica garoa paulistana e a truculência do prefeito João Doria (PSDB) para tomar as ruas da capital na 14ª Marcha da Consciência Negra nesta segunda-feira (20).

    Minutos antes de os manifestantes partirem do vão livre do Masp, Doria tentou impedir a saída do carro de som, mas fracassou. A caminhada seguiu até o Teatro Municipal e, mesmo sob ameaça de multa, os movimentos empunharam a bandeira da luta contra o racismo, o genocídio e por um projeto político para o povo preto, temas da mobilização deste ano.

    Passado o momento de tensão, o dia foi marcado por celebração com atividades culturais, batucadas, rodas de capoeira e poesia de um povo que segue resistindo contra o avanço do racismo e da discriminação.

    Segundo a organização, a marcha reuniu 15 mil pessoas que lembraram o impacto do golpe sobre a população negra, a maior prejudicada por reformas, como a trabalhista e da Previdência, que retiram direitos básicos e que fazem parte do projeto do governo golpista de Michel Temer (PMDB) e aliados do PSDB.

    Para a secretária de Combate ao Racismo da CUT-SP, Rosana Aparecida da Silva, as mudanças propostas por Temer, rejeitado por 97% da população, é um desastre especialmente para quem mais precisa do Estado.

    “Sabemos que as reformas feitas, como a trabalhista, e o congelamento dos investimentos públicos irão nos afetar diretamente, já que a população negra é a quem tem menores salários. Para as mulheres negras e os jovens que estão no topo desta desigualdade, isso é trágico. É uma situação que se agrava ainda mais com a falta de investimentos em políticas públicas.”

    Diante deste cenário de retrocessos, o professor de História, representante da Uneafro Brasil e colunista da Carta Capital, Douglas Belchior, avaliou que o genocídio dos negros também tende a se aprofundar na medida em que aumentam a crise social e a pobreza.

    “O racismo é um instrumento de dominação do povo brasileiro por parte das elites históricas, escravocratas e racistas. E, à medida que aumentam as crises social e econômica, em que aumenta a pobreza, o racismo é o grande signo de atuação e justificativa para repressão desse povo. Ela serve à repressão que precisa dar conta de controlar as massas empobrecidas.”

    Para Rosana, o caminho é a unidade e a mobilização nos locais de trabalho e nas ruas. “Marchar é resistir ao racismo estrutural e estruturante no Brasil”, ressaltou a dirigente.

    Fundador do Movimento Negro Unificado (MNU), em julho de 1979, Milton Barbosa lembrou que mesmo diante das derrotas e dos retrocessos é preciso reconhecer que nos últimos anos de governos progressistas, avanços ocorreram no Brasil em programas de ação afirmativa, como as cotas raciais. E explicou que a luta contra o racismo é internacional.

    “Todos os países que foram estruturados na escravidão e no colonialismo têm o racismo na base de sua sociedade e isso precisa ser combatido. Esse papo de cordialidade no Brasil, não é verdade. É um racismo violento que vivemos, que mata jovens negros todos os dias nas periferias.”

    Ao lado do filho Nicolas, de 8 anos, a dirigente do Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e região, Ana Marta Lima, destacou que marchas como a da Consciência Negra representam uma experiência de conscientização política. “Continuamos na luta mesmo diante do ódio e do racismo que aumentam no Brasil."

    Além da marcha na capital, outras ações ocorreram nas cidades de Campinas, Presidente Prudente, Jundiaí e Guarulhos.

    Violências vividas

    Como milhares de outras brasileiras, a psicóloga Cátia Cristina Cripriano, 46 anos, já sentiu na pele a discriminação racial e conta que, apesar de parecer velada em algumas situações, fez parte do seu cotidiano de mulher negra.

    Só que por conta de um racismo disfarçado, Cátia explica que só tomou consciência disso no movimento negro.

    “Fui percebendo o racismo velado, entendendo porque não conseguia alcançar algumas coisas como eu gostaria por conta de uma autoestima baixa. Compreendi que minha autoestima foi destruída desde que eu era criança, o que me fez trabalhar isso em mim desde então”, afirma ela, que se formou em Psicologia aos 40 anos e hoje é aluna da especialização em Direitos Humanos da Universidade Federal do ABC.

    A violência vivida por Cátia e outras tantas ainda desconhecidas podem ser explicadas a partir da compreensão do que foram os 380 anos de escravidão que influenciam, até os dias de hoje, a sociedade brasileira, avalia o professor Thiago Rubens da Silva, que leciona História do Brasil a estudantes da região da Brasilândia, zona norte de São Paulo, e coordena cursos comunitários pré-vestibulares.

    “Hoje é um dia de luta, de protestos contra o governo ilegítimo de Temer (PMDB) e o governo de Geraldo Alckmin (PSDB). Inclusive temos denunciado em organismos internacionais o genocídio que acontece nas periferias do estado.”









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