Debate na CUT marca lançamento do livro sobre os 100 anos de greve geral no Brasil
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    Debate na CUT marca lançamento do livro sobre os 100 anos de greve geral no Brasil
    Autor: CUT-SP - Vanessa Ramos
    15/12/2017

    Crédito Imagem: CUT-SP

    O debate ocorrerá na cidade de São Paulo e contará com a participação do autor

    Num ano de continuidade do golpe institucional no Brasil, resgatar a memória da primeira greve geral no país, em 1917, bem como seu legado e seus mártires, pode ajudar a compreender o significado e a importância da resistência da classe trabalhadora.

    Este resgate, que traz ainda a greve geral realizada neste ano e liderada pela Central Única da dos Trabalhadores, entre outras centrais, está na obra “1917-2017. 100 anos de Greve Geral – Passado ou Futuro?”, do jornalista Isaías Dalle.

    A publicação feita pela editora Perseu Abramo será lançada nesta sexta-feira (15), às 18h30, na sede da CUT, à Rua Caetano Pinto, 575, no bairro do Brás, na cidade de São Paulo, não por acaso endereço que foi palco e parte do cortejo fúnebre de 10 mil pessoas, em 10 de julho de 1917, do corpo do sapateiro morto José Inegues Martinez, que seguiu até o cemitério do Araçá, na região central da capital paulista.

    Martinez foi morto aos 21 anos, após confronto com as forças policiais de repressão que atacaram os grevistas que lutavam por melhores condições de trabalho, por dignidade e sobrevivência à época.

    Muitos avanços ocorreram desde então. Neste centenário é possível comemorar as conquistas e os avanços alcançados como jornada de trabalho menor, sindicalização e proibição do trabalho infantil, mas, ao mesmo tempo, lamentar o desmonte de direitos promovidos por um presidente ilegítimo e parlamentares apoiadores no Congresso que aprovam medidas como a reforma Trabalhista.

    A obra chega após um ano de resistência popular, num momento em que se debate a reforma da Previdência, mas não haveria melhor autor para descrever este momento do que o jornalista Isaías Dalle, que acumula uma experiência de 15 anos no movimento sindical, tendo atuado no Sindicato dos Trabalhadores Públicos na Saúde do Estado de São Paulo (Sindsaúde-SP) e na Central Única dos Trabalhadores.

    A reportagem da CUT São Paulo entrevistou o autor para saber um pouco mais sobre este trabalho. Confira, a seguir, a entrevista na íntegra.

    CUT-SP: O livro era apenas sobre greve geral de 1917, mas ao longo de sua construção você resolveu também falar sobre a resistência da classe trabalhadora de 2017. Como se deu isso?

    Isaías Dalle: Sim, num primeiro momento eu pensava em fazer um livro só sobre 1917. Mas daí eu percebi que não teria tempo de fazer uma pesquisa que acrescentasse algo a mais às pessoas, já que existem muitos pesquisadores que fizeram estudos extensos sobre o período. E também eu pensei que o diferencial deste livro poderia ser justamente contar o que aconteceu 100 anos depois, com as lutas e a greve geral em 2017, ainda mais pela razão absurda que motivou tudo isso: o desmantelamento da legislação e dos direitos pelos quais os trabalhadores de 1917 lutaram.

    O centenário da primeira greve operária no Brasil é referência para a luta contra a retirada de direitos nos dias atuais?

    É uma referência por várias razões. Entre as que eu enxergo está o fato de que a estrutura sindical naquele momento não tinha nada, nem recursos e tampouco reconhecimento político e, mesmo assim, como todas as dificuldades e a repressão, que naquela época era vista como natural e legalizada, eles conseguiram fazer uma greve que começou em São Paulo, parou a cidade por alguns dias em julho daquele ano e se espalhou depois para cidades como Campinas, Jundiaí e para outros estados do Brasil, em momentos diferentes, dias ou semanas depois.

    A experiência daquele período é também importante para nós porque o movimento sindical em 2017 está sendo atacado de diversas formas, inclusive perdendo patrimônio sindical. Tiraram o imposto sindical sem elaborar qualquer outro tipo de financiamento, sem colocar nada no local. Apesar de todo debate sobre o assunto, sabemos que é uma atitude deste governo ilegítimo para sufocar os sindicatos. Além disso, a repressão após o golpe passou a ser feita à luz do dia, diante da televisão, de forma ainda mais explícita. Mas, apesar de tudo isso que estamos vivendo, podemos acreditar que é possível continuar a resistência e a luta.

    O livro fala também sobre os mártires de 1917 que lutaram para conquistar direitos. Na sua avaliação, quem são os nossos mártires de hoje?

    No sentido amplo da palavra, os mártires são todos os que hoje perdem os seus direitos, que são condenados a empregos com salários indignos. Mas também podemos considerar pessoas como o fotógrafo Sérgio Silva, que perdeu um olho durante o registro de um protesto, em 2013, na cidade de São Paulo, e que teve recentemente negado pela Justiça o direito à indenização, mesmo sendo atingido por uma bala de borracha pela Polícia Militar que atacou os manifestantes naquele ano como se estive atacando uma tropa adversária armada até os dentes. Ele para mim é também um mártir.

    Há ainda todas as pessoas que morrem no campo na luta pela terra, situações que continuam acontecendo. Além disso, hoje a democracia é também uma mártir, mas eu ainda acredito que conseguiremos fazer com que ela renasça, como ocorreu em outros tempos.

    O que as ligas operárias tinham naquele período que o movimento sindical precisa repensar hoje?
    As ligas operárias eram organizadas por bairros. Então existia a liga operária da Mooca, do Brás, do Ipiranga, do Belém, enfim. Eram estruturas abertas a qualquer um. Então, além da atuação nos locais de trabalho, ou seja, os sindicalistas iam lá, conversavam, distribuíam panfletos, jornais como ‘A Plebe’, ‘O Combate’, no corpo a corpo com os trabalhadores, havia também atividade sindical junto aos moradores dos bairros.

    Assim você não precisava ser necessariamente um sindicalizado ou operário para fazer parte das ligas ou fazer parte de eventos. As ligas operárias faziam bailes de sábado e, no meio da atividade, alguém ia até lá e fazia uma fala política, como relata em um de seus livros a escritora Zélia Gattai, na experiência que viveu ao lado de seu pai e de sua mãe. Durante a semana, as ligas e a sede da federação operária ficavam abertas, algumas até às 22h, para que os trabalhadores fossem lá ler um jornal, bater um papo, falar sobre política e socializar. Ou seja, era um processo de politização que a gente deveria resgatar.

    Em grande parte, aquela forma de atuação era muito interessante, mas muitos desses trabalhos se arrefeceram. Então, cabe a nós, hoje, pensar por que isso aconteceu.









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