8º EME debate a assistência estudantil para a emancipação das mães estudantes
Autor: UNE
16/04/2018
Crédito Imagem: UNE
Arena feminista expôs os desafios enfrentados pelas mulheres e reivindicou a criação de mais creches universitárias
Talita acorda todo dia às 7 da manhã para trabalhar, deixa os dois filhos pequenos com a vizinha. Às 18h, ela pega as crianças, enfrenta o trânsito no ônibus lotado e chega à universidade para mais um dia de aula. Ao lado das crianças, porque ali não tem creche e nem um respaldo para a mãe estudante.
A história acima é fictícia, mas condiz exatamente com a realidade de milhares de mulheres nas universidades Brasil afora. O assunto foi tema da arena feminista intitulada ‘’Os desafios para a permanência das mulheres nas universidades: assistência estudantil, creche universitária e segurança no campus’’, realizada durante a 8ª edição do EME, no último final de semana, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), em Minas Gerais.
A roda de mulheres expôs diversas histórias, entre elas a da estudante da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Sol Saldanha. Mãe de quatro meninas, ela iniciou os estudos aos 35 anos e relatou as dificuldades de ser mãe e frequentar a universidade.
‘’É muito complicado trabalhar, ser mãe e estudar. Não é fácil permanecer nessa realidade cruel. Já levei muitas vezes minhas filhas pra sala de aula, ou tive que sobrecarregar as maiores com o cuidado das menores, para que eu pudesse estudar’’, disse.
A estudante da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Catarina Fermo conta que a instituição não possui creches, apenas uma escola de experimentação com apenas 15% das vagas destinada às alunas.
‘’Percebo que a política para mães estudantes é o elo mais fraco. Já chegamos a ter casos de estudantes expulsas da sala por estarem com os filhos. É lamentável’’, falou.
As creches universitárias estão previstas na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), de 1996, e são instrumento importante para amparar as mães estudantes. Contudo, nem todas as mulheres conseguem acesso às poucas vagas disponíveis.
Segundo estudo realizado em 2014 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em dados do Censo 2010, o nível de ocupação das mulheres tem relação direta com a frequência de seus filhos nas creche. Os números revelaram que das mulheres que tinham filhos de até 3 anos em creche, 64% tinham emprego. Entre as mulheres com filhos que não frequentavam creche, o percentual de empregadas era de 41,2%.
AQUI TEM CRECHE SIM!
Ao contrário da maioria das universidades Brasil afora, a organização do EME preza pelo bem estar das mães estudantes e seus filhos. Não à toa, toda edição tem uma creche com cuidadoras voluntárias para que as mães possam desfrutar de toda a programação.
Neste 8º Encontro, a responsável pela creche foi a estudante de Pedagogia da UFJF Drielly Santos. Durante o evento ela ofereceu auxílio e carinho mais de dez crianças presentes.
‘’Eu como mãe acho incrível a ideia de um evento ter uma creche. É uma oportunidade para que as mães participem, o que nem sempre é possível com crianças. Gostei muito da ideia, nunca tinha visto nenhum evento fazer isso antes, por isso me voluntariei’’, contou.
Já a estudante de Comunicação Social da FTC, em Salvador, Daniela da Silva foi uma das mães que utilizaram os serviços das creche do EME. Ela trouxe a filha Eduarda de 6 anos para o evento e não perdeu nenhuma programação.
‘’Minha universidade não tem creche, aliás, nenhuma faculdade que eu tenha conhecimento em Salvador tem esse serviço. Eu acabo tendo muita sorte porque posso deixar minha filha com minha mãe, mas sei que milhares de mulheres não tem a ajuda de qualquer pessoa ou parente’’, destacou.
Não ter ajuda de parentes é a realidade da estudante de Polímeros da Fatec Zona Leste, em São Paulo, Tânia Taylor. Tânia tem dois filhos pequenos, está desempregada e também não conta com o benefício da creche na instituição onde estuda.
‘’O único suporte que tenho da universidade é a liberação da entrada e saída dos meus filhos quando preciso, mas o dia a dia como mãe é corrido e cansativo. Tenho que levá-los para a escola, fazer comida, fazer meus deveres, procurar emprego e ir para a aula a noite’’, disse.
Para ela, que é mãe de Pablo Felipe de nove anos e Dandara de seis, a falta de suporte é cruel, mas incapaz de acabar com sua esperança e força para lutar.
‘’A creche universitária faz muita falta porque eles ficam na sala, mas sabe como é criança né? Ficam entediados, às vezes tenho que sair da sala para uma coisa ou outra, só que a minha força são eles. A gente conversa muito, quando estou cansada, desmotivada, eles dizem que eu tenho que estudar para compramos uma casa. Isso é o que me mantém na ativa’’, disse emocionada.