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    “A sociedade dos nossos sonhos” foi o tema discutido pelos delegados presentes ao segundo dia do 12º Congresso do Sindsaúde SP
    Autor: José Carlos Araújo - Comunicação SindSaúde-SP
    14/08/2018

    Crédito Imagem: SindSaúde-SP

    Descortinar os mecanismos de exploração foi considerado por todos como fundamental para criar um projeto novo de sociedade; o resultado do debate trouxe esperança de que o sonho deve ser construído

    Com o mote “A sociedade dos nossos sonhos” teve início o segundo dia de trabalho do 12º Congresso do Sindsaúde SP – Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo nesta terça-feira, 14 de agosto, no período da manhã, na cidade de São Pedro, interior de São Paulo. O tema é ambicioso, mas foi encarado de forma muito instigante e responsável pelos mais de 340 delegados e delegadas eleitos para o Congresso. Um tema de grande entusiamos que atingiu as redes sociais com a visualização das palestras por mais de 20 mil internautas.

    Para dar conta do desafio, foi chamado um trio de grande excelência com a finalidade de iniciar as conversas com os delegados e delegadas. Contribuíram com o tema Jessé de Souza, sociólogo e professor da UFABC – Universidade Federal do ABC; Ladislau Dowbor, economista e professor da PUC – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; e a companheira Mônica Valente, psicóloga e ex-presidente e fundadora do Sindsaúde SP. Um momento especial de análise de conjuntura que apresentou os projetos que estão em pauta na sociedade canalizando a discussão para que fossem pensadas as utopias para a reconstrução de nosso país.

    O professor Jessé de Souza deu o ponta pé inicial ao debate. De forma muito clara fez questão de apresentar que para entender a conjuntura política é preciso procurar recuperar a gênese do processo que levou à sua fundamentação. No caso específico do Brasil, isto aconteceu desde o início do século passado e ainda persiste em nossos dias. Um período em que as elites passaram a construir uma ideia de país que fosse capaz de enfraquecer as classes populares. Fato que inclusive contaminou intelectuais de esquerda. Um processo intenso que consolidou conceitos com moralização, personalismo, patrimonialismo e populismo e que leva a uma condição de baixa estima e a consolidação do complexo de vira-lata. Um movimento que ataca fortemente o Estado e valoriza enormemente o mercado.

    Souza observa que a elite nacional vai explorar os trabalhadores não só por mecanismos de mercado, mas também com mecanismos de Estado. A elite se apropria do Orçamento e ainda criam as dívidas públicas. Em muitos estados nacionais estes títulos de dívidas são fraudulentos. A isenção de impostos é outro exemplo. O Estado é importante porque esta pequena elite de proprietários se assenhoram de todas as riquezas. O professor afirma que quem rouba é o sistema financeiro, que se constitui como um poder invisível e incrivelmente poderoso. Hoje, acredita ele, o país retorna à República Velha, onde o Estado é saqueado por poucos e o povo não pode eleger seu candidato à presidência. A elite é malandramente esperta para enganar os trabalhadores.

    “O mercado será posto como o rei da virtude. As falcatruas que ele faz ficam invisíveis em nossas cabeças. Quando diz que a corrupção é do Estado isto é uma grande mentira. Os valores dados aos políticos é gorjeta frente ao roubo do mercado. Os outros inimigos das classes populares são encontrados nos setores intermediários da sociedade, como os militares e os juízes. O golpe no Brasil e nas demais nações da América Latina tem a mão dos Estados Unidos. É um papel dos sindicatos, que agora estão sofrendo um imenso ataque, montar uma ação organizada a partir da crítica destas ideias. Não vamos reproduzir o que vem sendo feito há cem anos. Está chegando o ponto da virada no Brasil com os sindicatos e o que restou das classes populares a partir de novas escolhas”, afirma Jessé de Souza.

    Na sequência, o professor Ladislau também acredita que a repetição histórica que vemos é, sem dúvida, um forma para que os privilegiados possam manter a maximização de seus benefícios. O sistema é formado para enriquecer os mais ricos e seu mecanismo trata da apropriação do dinheiro dos trabalhadores por uma elite. Ladislau lembra que é possível criar crescimento da economia a partir de uma política de redistribuição de renda, de favorecimento da massa da população. Isto aumenta o mercado interno e estimula a produção das empresas. Elas passam a produzir mais e gerar mais emprego. É fácil de entender que quando se expande a massa de dinheiro da população acontece o favorecimento do consumo e das capacidades produtivas. O consumo das famílias gera impostos e receita do Estado. Os impostos das empresas também gera receita ao Estado. Isto se chama o círculo virtuoso. No Brasil funcionou bem de 2003 a 2013.

    A economia deve ser orientada para o bem-estar da família. Destaca que quando se cria a Lei do Teto, a EC 95 do governo Temer, se reduz todos os investimentos públicos. No caso brasileiro, a desigualdade é um problema estruturante. Para ele, isto é uma tragédia e um problema ético. Recorda que as políticas sociais de Lula e Dilma permitiram a redução da mortalidade infantil. Foram quase 300 mil crianças que deixaram de morrer. É também uma questão social e política. Nenhuma sociedade consegue sobreviver com estes níveis de desigualdade.

    “A população empobrecida já não suporta mais esta situação. A gente precisa colocar no centro o combate a questão da desigualdade. A gente vê a exploração e a desigualdade pela exploração salarial. Hoje está condição é muito mais complicada. A política de juros aplicada no Brasil é insuportável. Ela atinge diretamente o pobre. Nenhuma economia pode funcionar assim. Especificamente sobre a atuação de vocês, sindicalistas, é bom dizer que a saúde não é uma coisa secundária. Nos Estados Unidos ela é responsável por 20% do PIB, o maior setor. Hoje esta área e a educação são extremamente rentáveis,” conclui Dowbor.

    Para finalizar o momento inicial do debate, Mônica Valente faz uma fala em que também considera que o momento em que o país vive é muito triste. E isto coloca um desafio até por conta da proposta do debate que é o de falar para a sociedade sobre os nossos sonhos. Ela pontua que não podemos esquecer que tivemos um golpe que tirou uma presidenta eleita e, a partir daí, foram implementas medidas cumprindo todo o serviço sujo de retirada de direitos. Diz que pode parecer um paradoxo colocar uma mesa com este tema tendo toda esta realidade, mas vê com importância. O golpe é um processo continuado. A primeira fase foi tirar Dilma, a segunda implementar todas as contrarreformas e agora tirar o direito de Lula ser candidato.

    Para ela, as falas que a antecederam, dos professores Jessé e Ladislau, foram de grande valor para dar conta de nossos desafios. Foram apresentados pontos fundamentais da construção da realidade que demonstram os mecanismos de dominação que querem transformar a população em verdadeiros “videotas”. Outro ponto que considera importante é o resgate da história das lutas do próprio Sindicato, que nasceu com a ideia de construir o SUS de forma universal. É com base nesta história que os trabalhadores podem fazer um grande chamamento junto à sociedade. O interesse deste governo ao congelar investimentos é de criar demanda para os planos de saúde privados de baixa qualidade.

    “Outra coisa que precisamos resgatar é a esperança de que podemos reconstruir a sociedade que fizemos no período de Lula e Dilma. Em 2016, o resultado das eleições municipais foi bem ruim para as esquerdas. Dois anos depois, em 2018, a possibilidade de retorno de Lula traz mais esperanças. É um projeto que resgata a soberania e a esperança do povo brasileiro. Na minha opinião, a gente tem que resistir. O fruto desta resistência permitiu a volta desta capacidade de protagonizar o processo político a partir da candidatura de Lula. Estamos voltado com a força de um projeto que deu força e vida para este país,” conclui Mônica Valente.

    Continuidade das discussões

    O período da tarde tem início previsto às 14 horas com a realização da mesa cujo o tema é a “Defesa do Sistema Público”. A temática será apresentada por César Roxo Machado, da ANFIP - Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal; Juliana Cardoso, vereadora de São Paulo; Denise Motta Dau, da ISP/Internacional de Serviços Públicos; Maria Izabel “Bebel”, presidente licenciada da APEOESP. A coordenação ficou por conta de Benedito Augusto de Oliveira, do Conselho Nacional de Assistência Social, CNTSS/CUT e do SindSaúde-SP.

    O objetivo proposto pelos organizadores é expor e aprofundar o debate entre Público e Privado, refletir sobre os impactos concretos destas duas visões na vida das pessoas, conceituar e apresentar dados sobre Justiça Fiscal, como contraponto aos cortes de orçamento e as privatizações, apresentar exemplos de gestão pública que são referência, e a desconstrução do discurso de ineficiência do setor público.

    Assista ao vídeojornal do segundo dia do 12º Congresso do SindSaúde-SP









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