Aproveitar a história para traçar o futuro de lutas foi mote da discussão de hoje no quarto dia de trabalhos do 12º Congresso do Sindsaúde SP
Autor: José Carlos Araújo - Comunicação SindSaúde-SP
16/08/2018
Crédito Imagem: SindSaúde-SP
Delegados e delegadas realizaram uma síntese de todo o processo de preparação e de discussão no 12º Congresso para traçar estratégias de luta e crescimento do Sindsaúde SP
Os delegados e delegadas que acompanham o quarto dia de atividades do 12º Congresso do Sindsaúde SP - Sindicato dos Trabalhadores Públicos no Estado de São Paulo, nesta quinta-feira, 16 de agosto, aproveitaram a discussão na mesa de debates sobre “O Sindicato que queremos” para realizar uma reflexão sobre o passado, o presente e, principalmente, o futuro das lutas da categoria. Um momento que sintetiza o processo de diálogo que vem sendo construído nestes últimos dias e mesmo antes com os 150 encontros realizados com a participação da categoria de forma mais ampla por todo o estado com a finalidade de preparar o Congresso.
A força do Sindsaúde SP na construção do movimento sindical brasileiro é um fato que é reconhecido e valorizado nacional e internacionalmente. Uma longa e bonita história de construção coletiva que qualificou o “modo de ser” sindicato e contribuiu para as mudanças sociais e avanços nas políticas pública nestas últimas décadas em nosso país. Por não ter sido pouco os resultados conquistados, sempre com muita luta e resistência, torna-se ainda maior a responsabilidade de ampliar tudo o que foi alcançado até agora. É este desafio imenso que a categoria assumiu coletivamente e que vai ser incorporado no Plano de Lutas que será aprovado nesta sexta-feira, 17 de agosto, último dia do 12º Congresso.
Célia Regina Costa, tesoureira da CNTSS/CUT – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social, fez parte da mesa e relembrou aos participantes que discutir o futuro das lutas do Sindsaúde SP neste 12º Congresso é decorrência de um sonho que foi se materializando em ações de toda a categoria nestas últimas décadas. Os trabalhadores da saúde, de forma geral, tinham este sonho de construir uma organização sindical que avançasse para trazer as conquistas necessárias. Lembra que os resultados não foram poucos: contribuíram com a construção do SUS no estado e no país, com a organização sindical, com as criações da CUT – Central Única dos Trabalhadores, da CNTSS/CUT, trouxemos a ISP – Internacional do Serviço Público para o Brasil, temos parcerias com a SEIU – Sindicato Internacional de Trabalhadores em Serviços, entre tantas outras vitórias.
A dirigente da Confederação ressalta que a beleza destas conquistas soma-se com a importância de que tudo foi feito de maneira coletiva. Diz que não foram momentos fáceis, pois todos os avanços da categoria eram intensamente atacados pelo governo para desconstruí-los. Mas mesmo assim o sindicato foi crescendo e hoje tem um número expressivo de sindicalizados, cerca de 40% da categoria. O índice nacional é de 19% de sindicalização. A fragilidade, afirma a dirigente, está no pouco número de sindicalizados nas autarquias. Um desafio que precisa ser enfrentado, assim como o de encarar os trabalhadores das Organizações Sociais.
O tema Organização Social fez parte dos debates durante o Congresso. Foi observado que há um aumento imenso do número destas instituições que, consequentemente, abocanham uma quantia enorme de recursos públicos do Estado. Uma CPI – Comissão Parlamentar na Assembleia Legislativa, que conta com acompanhamento do Sindsaúde SP, já apontou uma série de irregularidades que drenam milhões e milhões de reais. Célia Costa acredita que o Sindicato tem que realizar uma ação para trazer estes profissionais para suas estruturas. O universo dos trabalhadores de saúde é de cerca de 250 mil pessoas no estado de São Paulo. O 12º Congresso, para se ter uma ideia, tem sido acompanhado por mais de 80 mil pessoas nas redes sociais.
“Hoje há uma desesperança das pessoas nas instituições. E os sindicatos são contaminados com esta impressão. Temos a tarefa de discutir com a categoria todo este conteúdo que debatemos nestes dias. O 12º Congresso tem que sair com o desafio de trazer a juventude para o nosso sindicato. Vamos ser humildes para trazer este jovem para dialogar sobre o caminho que a gente vai ter que trilhar. Nós temos que renovar com esta juventude que está no lugar de trabalho. Temos que pactuar entre nós a solidariedade. Esta é uma marca que sempre nos acompanhou. Precisamos dela para continuar construindo o sindicato e a sociedade de nossos sonhos,” finaliza Célia Costa.
A experiência sindical do setor bancário foi apresentada no debate por Luiz Cláudio Marcolino, economista, ex-dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, ex-deputado e diretor na Contraf. Marcolino pôde acompanhar algumas etapas preparatórias do 12º Congresso e conhece a realidade do Sindsaúde SP. O economista recorda que a estrutura sindical dos bancários era descentralizada por cidade até a década de 1990. Em 1992, foi alterada e ocorreu a unidade. A partir daí tornou-se uma única categoria com acordo nacional onde todos têm os mesmos salários, índices de correção e direitos.
A unidade permitiu agregar força para lutar coletivamente durante os governos FHC, um período muito difícil para os trabalhadores. Naquela época os acordos com os bancos públicos eram separados, ocorria apenas a correção da inflação, às vezes apenas abonos, era grande a terceirização nos bancos públicos e não havia concursos. Para piorar a situação a falta de empregos deixava mais difícil fazer greve. Ou seja, o mesmo modelo que hoje existe no governo de São Paulo. As coisas só mudaram para melhor para o setor bancário no período dos governos Lula e Dilma.
Marcolino pondera que atualmente há um momento diferente de quando a CUT foi criada. A Central nasceu para organizar os trabalhadores em categorias, em sindicatos e em regiões. O movimento sindical passou muito tempo pensando em sindicatos por categorias. Na década de 1990 os bancários tinham o entendimento de organizar o trabalhador por classe e não por categoria. Mas a condição os levou a agir por categoria. O dirigente reafirma sua impressão sobre a necessidade de um sindicato classista.
“Quis trazer um pouco disto para falar do nosso futuro. Vamos ter eleições gerais em nosso país neste próximo período. O que tem isto a ver com os trabalhadores da saúde? Tem tudo a ver. É só observar a queda de investimentos na área de saúde desde que ocorreu o golpe. E necessário que o sindicato que queremos discuta também a importância da política nas nossas vidas. O sindicato do futuro tem que ser mais solidário. O sindicato tem que ser classista. Temos que dialogar com todo os trabalhadores,” afirma Marcolino.
O olhar sobre o universo sindical internacional não ficou de fora da programação do 12º Congresso. Este diálogo foi possível com a contribuição de Jamie Gulley, presidente de SEIU – Sindicato da Saúde do estado do Minnesota (EUA). Gulley trouxe um panorama da mobilização sindical nos EUA na busca da valorização dos trabalhadores, organização de campanhas, filiação, negociação de contratos e terceirização. Seu sindicato é um dos mais velhos na área de saúde em seu país, com 85 anos de existência. Recorda que surgiu a partir de uma greve realizada porque não se respeitavam os direitos sindicais naquela época.
Orgulha-se que o sindicato que representa foi o primeiro a conquistar salários iguais para trabalhos iguais, plano de previdência, folga em finais de semana alternados e salário-mínimo por hora. Até o começo da década de 1980, havia conquistado a densidade sindical de 100% nos hospitais de sua base. Registra que houve um crescimento de unidades hospitalares desde então, mas que a disputa política entre os partidos políticos locais não permitia que fosse feito uma ação nos novos equipamentos. Aponta que o número de cuidadores cresceu para mais de 100 mil trabalhadores. Era, porém, necessário aguardar a aprovação de uma legislação para iniciar um projeto de sindicalização deste imenso grupo.
A estratégia, então, foi lutar mudar a legislação para que os cuidadores do setor público pudessem ser sindicalizados. Foi uma luta que durou uma década. Venceram e sindicalizaram mais de 20 mil profissionais. A luta no neste setor é sempre muito difícil, mas a entidade atualizou suas estratégias e pôde comemorar vitórias neste setor. O próximo passo é conquistar aumento de salários. Durante este processo, os sócios se organizaram por melhores políticas públicas. Conseguiram chegar a um acesso completo aos cuidadores em saúde. Isto recuperou o poder do Sindicato. Os opositores têm trabalhado duro para boicotar a luta dos trabalhadores.
Gulley diz que seu Sindicato está atento e discute formas de angariar recursos para as campanhas de sindicalização. É consenso entre os dirigentes e a base de sua entidade que é preciso filiar os trabalhadores para aumentar o poder do Sindicato. Uma saída para este impasse financeiro foi o aumento das contribuições sindicais em 50%, com a anuência de todos os trabalhadores. A SEIU também investiu nas lideranças criando novos papéis para aperfeiçoar o atendimento dos trabalhadores a partir de campanhas políticas e de capacitação dos membros. As lideranças sindicais têm, segundo ele, muita qualidade por serem da base.
“Fico feliz de dizer que estamos conseguindo aumentar a nossa densidade sindical. Vamos agora investir também no setor público, o que aumentaria o nosso Sindicato. Agora estamos trabalhando com um plano para os próximos cinco anos. Nos tornamos mais criativos e estamos trabalhando com cada trabalhador individualmente e não por grupos inteiros. Isto permite maior crescimento. Trabalhamos com eles para que possam influir em políticas públicas. Em Minessota o sistema de saúde é grande e possui excelência e pioneirismo em vários tratamentos,” comenta Jamie Gulley
Confira a programação da sexta-feira - 17 de agosto
9h00 às14h00
Plenária Final e Encerramento – Aprovação do Plano de Lutas
14h00 às 15h00
Almoço
15h00
Retorno das Delegações para suas regiões