Notícia
Pesquisa com indivíduos usando o kit Covid sem que fossem informados de que estavam fazendo parte de um experimento; uso indiscriminado de tratamento precoce; coação de médicos para que receitassem tratamento precoce; óbitos camuflados. Todos esses elementos vieram à tona durante depoimento de representantes da Prevent Senior à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid que ocorre no Senado. O ápice do show de horrores ocorreu ontem (22) com o depoimento do diretor da operadora de saúde, Pedro Benedito Batista Júnior.
Em depoimento aos senadores da CPI, ele admitiu que o código da doença era substituído no registro do paciente após duas ou três semanas de internação. A prática permitia que a infecção por coronavírus desse lugar a outro diagnóstico, subnotificando, assim, o número de casos da doença atendidos pelo convênio.
O relato foi tão estarrecedor que Batista, de testemunha, passou a investigado. A CPI vai encaminhar as informações obtidas com o depoimento para a Procuradoria de São Paulo, estado de origem da Prevent Senior onde a empresa atende principalmente à população mais idosa, que no começo da pandemia esteve entre as principais vítimas da doença.
A prática, segundo especialistas em medicina, não poderia acontecer, pois o prontuário médico não pode ser adulterado ou substituído. O depoimento causou revolta em senadores médicos, como Otto Alencar (PSD-BA), Humberto Costa (PT-PE) e Rogério Carvalho (PT-SE), que acusaram o diretor da operadora de desonestidade, de mentir e de esconder óbitos pela doença.
Agravamento da subnotificação
Reportagem do jornal “O Globo” entrevistou especialistas de grandes hospitais, para os quais a adulteração de prontuários é errada e agrava a subnotificação pela doença. A praxe médica, segundo os ouvidos, é manter no prontuário o código da doença (B34.2, no caso da Covid-19) que motivou o tratamento, ainda que tenha passado o período de quarentena. Isso também vale para o registro na certidão de óbito.
O código corresponde à Classificação Internacional de Doenças (CID), que faz parte da Autorização de Internação Hospitalar (AIH).
O prontuário contém a identificação do paciente e os serviços realizados durante a internação, e novos registros de doença podem ser adicionados ao prontuário, sem, no entanto, exclusão dos anteriores.
“(A omissão) é um procedimento incomum e incorreto, principalmente no contexto das doenças infecciosas. Não tem sentido suprimir o motivo da admissão no hospital”, disse o professor de medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda, que atuou no Ministério da Saúde na gestão de Luiz Henrique Mandetta.
Na opinião dele, a exclusão de registros pode agravar a subnotificação de óbitos por Covid-19 nos hospitais ligados à Prevent Senior.
Tratamento precoce
Médicos que trabalharam para a Prevent Senior durante a pandemia enviaram denúncias à CPI de que a rede limitava o uso de equipamentos de proteção individual (EPI’s), chegando inclusive a proibir o uso de máscaras em algumas situações. Também denunciaram que foram forçados a prescrever o kit Covid aos pacientes com Covid-19.
Dossiê encaminhado à CPI e revelado em reportagem da “GloboNews” mostrou que pacientes, no começo da pandemia, fizeram parte de pesquisa da empresa que investigava a eficácia da cloroquina e da ivermectina sem que eles e seus familiares soubessem que faziam parte do experimento, que não tinha registro em nenhum órgão de pesquisa. Algumas das vítimas vieram a óbito.
Com informações do UOL, de O Globo e do G1