Notícia
Cerca de milhão de cirurgias de emergência e eletivas, que seriam realizadas via Sistema Único de Saúde (SUS), foram canceladas ou adiadas durante a pandemia de Covid-19, que teve início em março de 2020 no Brasil. Esse dado alarmante é resultado da pesquisa “Associação entre política governamental e atrasos no atendimento cirúrgico emergencial e eletivo durante a pandemia de COVID-19 no Brasil: um estudo de modelagem”, coordenada pelo professor Nivaldo Alonso, do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP, em Bauru, e da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP).
O estudo publicado na renomada revista científica The Lancet Regional Health – Americas, em 24 de agosto, tem a intenção de fornecer informações para orientar políticas governamentais para expandir o atendimento cirúrgico durante crises, como a provocada pelo coronavírus, e demonstrou que a pandemia impactou significativamente os sistemas de atendimento cirúrgico em todo o mundo, causando acúmulo crescente de procedimentos cirúrgicos.
“Nossas descobertas sugerem que esforços rigorosos para reduzir a disseminação de Covid-19 estarão associados a atrasos e cancelamentos reduzidos para cirurgias de emergência, mas exigirão esforços governamentais coordenados para expandir o atendimento cirúrgico para superar atrasos das cirurgias eletivas”, explicou o professor Nivaldo Alonso ao “Jornal da USP”.
Além de Alonso, assinam o artigo outros pesquisadores de universidades brasileiras, dos Estados Unidos, do Canadá, da Austrália e da Argentina, que colaboraram com o estudo.
Situação pandêmica
Em muitos países, incluindo o Brasil, o acesso à cirurgia de emergência foi reduzido devido a mudanças na capacidade do sistema de saúde. Cirurgias eletivas foram adiadas a fim de aumentar os recursos médicos disponíveis para pacientes com Sars-Cov-2. Além disso, trabalhos científicos demonstraram aumento da mortalidade cirúrgica entre os pacientes com Covid-19.
Os pesquisadores relatam que, para alcançar sistemas de saúde cirúrgicos que consigam se adaptar aos momentos de crise, é necessário que haja preparação e resposta eficaz às emergências de saúde e que os gestores/governos que são os responsáveis por pensar e colocar em prática as políticas públicas de saúde devem fortalecer vários aspectos do sistema cirúrgico.
“Expandir a força de trabalho cirúrgica, não apenas em termos de números absolutos, mas também na distribuição dos cirurgiões pelo país; investir na capacidade hospitalar para garantir a disponibilidade de salas de operações, UTI e leitos; investir em estratégias inovadoras, como consulta de telemedicina para apoiar o cuidado pós-operatório remoto ou tratamento conservador não cirúrgico de condições cirúrgicas; e estabelecer diretrizes locais e regionais baseadas em evidências, a fim de orientar os sistemas hospitalares e permitir a continuação da cirurgia de emergência e urgência, ao mesmo tempo em que triam e rastreiam adequadamente os pacientes cirúrgicos eletivos”, aponta o estudo.
Dados utilizados
Para chegar a essa conclusão, o estudo baseou-se em estimativas mensais de procedimentos cirúrgicos realizados por estados, de janeiro de 2016 a dezembro de 2020, obtidas no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DataSus).
Também foram construídos modelos de previsão usando dados históricos de volume cirúrgico antes de março de 2020, para prever as operações mensais esperadas de março a dezembro de 2020. Os acúmulos mensais cirúrgicos totais, de emergência e eletivos, foram calculados comparando o volume relatado com o volume previsto.
Defesa do SUS
O SindSaúde-SP vem há anos denunciando a falta de profissionais na saúde, o que, além de causar sobrecarga em quem fica, é responsável pelo fechamento de leitos, seja de enfermaria ou de UTI.
O estudo da USP corrobora com as pautas do Sindicato e demonstra que as reivindicações das trabalhadoras e dos trabalhadores da saúde convergem com a defesa do SUS e com o atendimento de qualidade para a população.
Defenda o SUS você também!
Com informações do Jornal da USP