Notícia
O SindSaúde-SP, por meio do secretário de Imprensa e Comunicação, Alexandre Senna, participou da mesa internacional “Nosso Futuro Digital”, na última quinta-feira (23), na qual tratou sobre os impactos da digitalização para o mundo do trabalho e como os sindicatos podem atuar na defesa dos profissionais diante dessa nova realidade.
O debate foi promovido pela Internacional de Serviços Públicos (ISP), organização na qual o SindSaúde-SP é filiado. A diretoria do SindSaúde-SP avalia que é extremamente importante se apropriar desse assunto, pois a cena global impõe uma economia que enxuga benefícios e retira direitos das trabalhadoras e dos trabalhadores.
Além disso, o processo globalizado de digitalização do trabalho caminha em passo acelerado, enquanto a legislação dos países, sobretudo no caso dos subdesenvolvidos e emergentes, não acompanha essas mudanças.
Pior, quando elas acontecem é usado o tal discurso de “modernização” para retirar ainda mais direitos (como aconteceu com Lei da Terceirização e com as Reformas Trabalhista e Previdenciária). Quando o ideal, seria o legislativo agir em defesa de mudanças que protejam as trabalhadoras e os trabalhadores, para não sofrerem com a falta de garantias que os frágeis vínculos com aplicativos de serviços impõe, como o Uber e, no caso da saúde, os planos de saúde com atendimento remoto.
Para tratar sobre o assunto, a ISP convidou estudiosos no assunto, que em suas palestras alertaram que além das mudanças na relação de trabalho, o processo de digitalização também expõe a sociedade a problemas como a falta de segurança de dados, que são utilizados pelas grandes empresas de tecnologia e de negócios on-line, conhecidas como big techs, para “manipular” os consumidores e aumentar o seu próprio lucro.
“Querem acesso e controle, e fazem isso, por meio da coleta de dados. Essas empresas querem ignorar o interesse público, não querem responsabilidade com seus trabalhadores e nem com as comunidades onde operaram”, avaliou Deborah James, diretora de Programas Internacionais do Centro de Pesquisa Econômica e Política (em inglês Center for Economic and Policy Research), que também coordena a rede global Nosso Mundo Não Está à Venda (em inglês Our World Is Not for Sale - OWINFS).
Segundo Deborah, as grandes empresas digitais querem aumentar suas receitas sem ter a obrigação de pagar impostos, e isso tem impacto social, pois não há investimento local e não há garantias para os trabalhadores que cada vez mais sofrem com a precarização do trabalho.
Preconceito e a inteligência artificial
Outro ponto abordado pelos palestrantes é o uso de inteligência artificial em processos seletivos, que já está acontecendo em muitos países. “É preciso exigir transparência de como as inteligências artificiais estão funcionando”, explica Rob Weil, diretor de programas de campo no departamento de questões educacionais da Federação Americana de Professores (em inglês American Federation of Teachers – AFT).
Weil lembra que essas inteligências artificias (IA) carregam os preconceitos de quem as programa. Então, se um homem branco, racista e misógino está por trás da programação da IA, muito provável, que negros e mulheres sejam desclassificados do processo seletivo, mesmo tendo a formação exigida para a vaga de emprego.
Outro ponto abordado por Weil é a necessidade dos trabalhadores se apropriarem dos dados que estão sendo utilizados pelas big techs, para possamos construir nossos próprios conjuntos de dados, de forma a utilizá-los para o bem comum “Precisamos estar disponíveis, não apenas para os ricos, mas sim para todos”, finalizou.
Regulamentação e legislação
A pesquisadora do Instituto Transnacional e é especialista em economia digital, trabalho e desenvolvimento, pela Universidade Nacional “Tres de Febrero”, da Argentina (UNTREF), Sofia Scasserra, abordou a forma como a sociedade naturalizou o uso das tecnologias e como isso essa nova realidade mantêm os trabalhadores conectados o tempo todo à atuação profissional, mas que ser algo remoto muitas vezes não é levado em conta.
“Nós, trabalhadores, sempre lutamos pelo tempo. Primeiro pela jornada de 8h, depois as férias. Temos que voltar a lutar por isso e voltar com a ideia de que ‘não vivo para trabalhar, trabalho para viver’”, afirmou Sofia.
De modo geral, os palestrantes defenderam que a classe trabalhadora se aproprie desse debate, para que questione como os dados estão sendo coletados e para que estão sendo utilizados. Para que essa transparência seja efetiva é necessário lutar pela regulamentação em cada país.
“Precisamos estar cada vez mais qualificados para defender os direitos dos trabalhadores nos três níveis, desde a negociação com o empregado, nacionalmente por legislações e regulamentações e assim garantir os direitos dos trabalhadores, e no nível global, seja nos tratados de livre comércio ou em tratados”, disse Jocélio Drummond, secretário Regional da ISP Interaméricas.