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“Ao invés de salvar vidas, o Brasil segue exterminando seu próprio povo”. afirma epidemiologista Jesem Orellana, da Fiocruz.
Em 22 de maio, o ministério da Saúde anunciava o fim o estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), provocado pela pandemia da covid-19 no país. Na ocasião, o Governo Federal justificou a decisão em função do avanço da vacinação e de um cenário epidemiológico “mais arrefecido”. O momento marcava o fim da onda ômicron. No entanto, de lá para cá, o país registrou 8.230 mortes pela doença. A média móvel de vítimas calculada em sete dias monitorado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), que nesta segunda-feira (11) ficou em 246, registrou alta estarrecedora de 143,5%, nesse período.
“Curiosamente, a Semana Epidemiológica (SE) 21 (22 a 28 de maio/22), marcou não apenas o fim da Espin, mas a reversão na queda de mortes por Covid-19 no Brasil”, afirmou o epidemiologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Jesem Orellana.
É como o Brasil presenciasse diariamente um desastre aéreo, sem sobreviventes, de avião com 150 passageiros, nos últimos 50 dias, comparou o especialista. Ou, ainda, quase o dobro do número de mortes de civis estimadas pela ONU, até o fim de junho, durante a guerra na Ucrânia.
“Portanto, ao invés de salvar vidas, o Brasil segue exterminando seu próprio povo, sem qualquer pudor de negar, até hoje, o efeito protetor de medidas como uso de máscaras e do distanciamento físico para limitar a disseminação viral”, declarou Orellana. Ele também frisou que, até hoje, vem sendo negado o direito à vacinação contra a covid-19 em crianças menores de 5 anos. E criticou “o atraso e a letargia” na vacinação das crianças de 5-11 anos, no início de 2022, o que resultou em centenas de mortes evitáveis“.
Disseminação
Após o fim da Espin, o Brasil passou a lidar com linhagens “descendentes” da ômicron, como a BA.2, a BA.4 e a BA.5. Ainda mais contagiosas, as subvariantes são capazes de burlar a proteção conferida pelos imunizantes, bem como superar a imunidade conferida por infeções anteriores.
Assim, a média móvel de casos saltou de 14.690, no final de maio, para 57.798 casos registrados atualmente. Trata-se de um aumento de 293,4% nesse índice, o que aponta para o recrudescimento da transmissão. No entanto, como ao longo de toda a pandemia, o governo Bolsonaro não tomou qualquer tipo de medida para conter o avanço da doença.
“Não podemos nos enganar com os quase 60 mil casos novos de Covid-19 confirmados nas últimas duas semanas no Brasil. Pois esse número deve ser muito maior, devido ao pesado efeito da subnotificação na atual fase da epidemia no país”, ressaltou o epidemiologista.
Nesse sentido, ele cobra a retomada de medidas preventivas, como uso de máscara em ambientes fechados, o distanciamento físico e a limitação de grandes eventos. Além disso, também alerta para a necessidade de ampliar a vacinação, especialmente das doses de reforço em vulneráveis.
Desesperança
Apesar dos alertas, Orellana não acredita numa mudança de postura com o atual governo. “Parece que seguiremos mergulhados no que pode ser o mais duradouro e letal exemplo de má gestão sanitária da história do Estado brasileiro”, lamentou.
“Certamente precisamos de mudanças, mas como elas não ocorreram ao longo de 28 meses de pandemia, só nos resta sonhar com dias melhores, a partir de 2023. Quem sabe, com governantes e formadores de opinião dispostos a salvar vidas e capazes de reconhecerem a importância e o necessário protagonismo do SUS e da ciência na vigência de crises sanitárias aterradoras como a pandemia de Covid-19.