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12 de outubro de 2023, Genebra, Suíça - Um em cada três enfermeiros da linha de frente em todo o mundo já viu pacientes sob seus cuidados morrerem devido à falta de profissionais, de acordo com uma pesquisa realizada com mais de 2.000 profissionais de saúde pela Internacional de Serviços Públicos (ISP). Quase metade dos entrevistados (870) são de países da América Latina e do Caribe.
A pesquisa revelou dados extraordinários sobre a carga de trabalho dos profissionais de saúde, que se sentem sobrecarregados e desvalorizados.
Na região, a maioria afirma que as atuais condições de trabalho fazem com que eles queiram deixar seus empregos, principalmente devido à remuneração insuficiente e à falta de pessoal.
Os resultados também mostram que a sobrecarga de trabalho está tendo um impacto negativo na qualidade do atendimento ao paciente. Dois terços dos entrevistados já viram pacientes enfrentarem dor ou sofrimento desnecessários devido à falta de pessoal. Na América Latina e no Caribe, quase 80% dos entrevistados afirmam que não há pessoal suficiente para atender às necessidades dos pacientes.
Mais de 70% dos entrevistados destas regiões também afirmam que é fundamental criar condições de trabalho sustentáveis, com investimento público mais forte por parte do governo no setor de saúde, em vez de soluções do mercado privado.
Contudo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que o mundo enfrenta atualmente um déficit assustador de 15 milhões de profissionais de saúde.
Os resultados foram revelados pela ISP, uma federação sindical global que representa 30 milhões de trabalhadores, principalmente nos setores de saúde e assistência, durante seu Congresso Mundial, em Genebra, na Suíça. Pelo SindSaúde-SP, estão participando do Congresso, Cleonice Ribeiro, presidenta do Sindicato, e o Secretário de Relações do Trabalho no SUS, Mauri Bezerra, que também é membro do Conselho Nacional de Saúde.
Os profissionais de saúde que participaram do evento estenderam jalecos vazios em frente à sede das Nações Unidas, simbolizando o déficit de trabalhadores da saúde em todo o mundo.
Além disso, os trabalhadores enviaram uma carta aberta aos ministros da saúde e das finanças dos países membros da OMS pedindo um aumento maciço dos investimentos nos sistemas de saúde de seus países.
“Mesmo antes da crise sanitária, o serviço público de saúde já estava com o déficit de profissionais, devido ao sucateamento proposital feito pelos governos que não abrem concursos para repor o quadro funcional, com o objetivo de precarizar a saúde e entregá-la ao setor privado. E infelizmente, durante a pandemia a situação se agravou, pois sofremos a perda de centenas de companheiras e companheiros de trabalho que foram vítimas da Covid-19”, afirma Gervásio Foganholi, secretário de Administração e Finanças do SindSaúde-SP, entidade filiada à ISP.
Para o dirigente, se não houver uma política de valorização dos profissionais, que ofereça melhores salários para quem já está à décadas na saúde pública e se não houver abertura de concursos com salários iniciais que disputem com o mercado, a saúde pública irá colapsar em breve.
“As terceirizadas não tratam a saúde pública com a mesma lógica do trabalhador do Sistema Único de Saúde. Eles visam apenas o lucro. Já os trabalhadores da saúde pública pensam no cuidado integral da população, seja de saúde e dignidade social. É isso que nos diferencia e, por isso, que exigimos respeito”, avalia.