Mundo segue mais difícil para mulheres negras, destaca presidenta do SindSaúde-SP
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    Mundo segue mais difícil para mulheres negras, destaca presidenta do SindSaúde-SP
    Autor: Redação SindSaúde-SP
    07/03/2024

    Crédito Imagem: SindSaúde-SP

    Não importa o cargo, muito menos a escolaridade. Em qualquer recorte do mundo do trabalho, a mulher ocupará a base da pirâmide. Principalmente se for negra. 

    Em estudo divulgado nesta semana, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) apontou que enquanto o rendimento médio mensal dos homens não negros era de R$ 4.228, o das mulheres não negras era de R$ 2.562. Já as negras, recebiam R$ 1.957. 

    Quando o recorte leva em conta trabalhadoras e trabalhadores com ensino superior, homens não negros ganhavam R$ 7.283, enquanto as mulheres negras, R$ 3.721. Nos cargos de direção, a discrepância continua, com salários de R$ 9.183 para homens não negros e R$ 6.672 para mulheres, 27% a menos.

    Os dados consideram resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, referente ao 4º trimestre de 2023, e revelam o cenário que atinge 47,8 milhões de mulheres que faziam parte do mercado de trabalho no período. 

    Uma realidade que a presidenta do SindSaúde-SP, Cleonice Ribeiro, conhece bem. Cléo, como é conhecida, está no comando do sindicato desde 2019, quando assumiu o primeiro mandato, mas milita em defesa das trabalhadoras e dos trabalhadores da saúde há mais de duas décadas. 

    Mulher negra, filha de uma enfermeira e de um militar, mãe solo de quatro filhos, ela ingressou na área de enfermagem para superar a instabilidade que enfrentava como vendedora na região do Brás, área de comércio popular paulistana. 

    Como muitas profissionais da saúde, no início, foi pressionada a dobrar plantões, mesmo quando ainda amamentava a filha caçula de seis meses e ouviu da chefe, à qual respondia durante o primeiro emprego em um hospital público em Ferraz de Vasconcelos, que poderia levá-la e deixar em cima de um caixote sob a pia para trabalhar e tomar conta dela.

    “Era um tempo em que não tínhamos creche, como temos hoje, e eu não aguentava mais dobrar plantões, estava muito cansada. Disse que não iria sujeitar minha filha a isso, mas tive de aceitar ir para casa, dar de comer à ela e voltar. Caso contrário, a chefia disse que poderia pegar minha bolsa e não precisava voltar mais. Era a mais nova no setor, não era concursada ainda e estava no período de experiência. Não poderia perder o emprego”, lembra. 

    Machismo ainda impera
    A postura contestadora a fez perder o emprego, mas rendeu um convite para se tornar delegada sindical de base do SindSaúde-SP, onde se deu a formação política de uma mulher que, da mesma forma que tantas outras lideranças sindicais, também vieram da base.

    “Se tinha problema com a folga e não resolvesse, pegava mais algumas pessoas e ia atrás do diretor, mesmo sem saber nada sobre sindicalismo e muitas vezes conseguia resolver. Por conta disso, fui mandada embora”, lembra. 

    À frente da entidade, Cléo, ajudou a organizar o segmento durante um dos momentos mais desafiadores da história, a pandemia de Covid-19, quando o ramo da saúde teve de se mobilizar para cobrar direitos básicos, como o acesso a Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). 

    Segundo ela, apesar de mudanças como a implementação das cotas para cargos de direção em organizações do movimento sindical, precedida por muita mobilização e organização das mulheres, o machismo ainda impera, seja por meio da escolha dos cargos com maior poder de decisão para os homens, seja na forma como as trabalhadoras são tratadas nas discussões. 

    “Muitas vezes você dá uma ideia, os homens respeitam no momento, mas depois sutilmente mudam, alegando que era melhor fazer de outro jeito e muda, ignorando o que foi negociado. Não é incomum sermos atropeladas quando falamos simplesmente porque somos mulheres. O movimento sindical mudou, mas ainda é preciso muito mais”, analisa. 

    Para ela, a transformação passa por maior unidade entre as trabalhadoras, a melhora na qualificação para que possam estar presentes em espaços de comando e uma postura que enxergue o ataque a uma como uma violência contra todas. 

    “O erro deles é diferente do nosso, mais tolerável. Por isso precisamos nos unir, porque queremos o homem do nosso lado, nem atrás, muito menos à frente”, diz. 










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