Organizar a juventude trabalhadora brasileira
Autor: CUT
19/08/2008
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A 12ª Plenária Estatutária da CUT, realizada entre os dias 5 e 8 de agosto de 2008, definiu pela criação da Secretaria Nacional de Juventude da CUT. Tal decisão é um marco para a CUT e para a juventude trabalhadora do nosso país. É um passo importante para a disputa de hegemonia na sociedade e para o fortalecimento do projeto sindical cutista. Se hoje metade dos(as) desempregados(as) e a maioria dos que estão na informalidade são jovens, a Secretaria Nacional da Juventude da CUT (SNJ-CUT) deverá priorizar a luta pela valorização do trabalho, pelo direito à educação e por uma profunda aliança com os movimentos populares de juventude.
Juventude condenada ao trabalho indecente
Quando verificamos os dados referentes à realidade da juventude em nosso país, percebemos o quanto é estratégico exigir políticas para alterar sua condição. Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio, do IBGE), 60% da juventude do país é oriunda de famílias com renda per capita de até 1 salário mínimo. Cerca de metade do total dos desempregados é jovem. A maioria dos que estão submetidos à informalidade nas ralações de trabalho é formada por jovens.
Altas taxas de desemprego, ocupações precárias e baixos salários comprometem profundamente a trajetória educacional e profissional. Deixa-se cada vez mais cedo os estudos para garantir o complemento da renda familiar. Essa inserção precoce impõe ao jovem, obviamente sem experiência e sem estudo, a aceitação das piores condições de trabalho e os piores salários.
É o que ocorre com as jovens mulheres. Condenadas ao trabalho doméstico e ao cuidado da família, abandonam cedo os estudos. Trabalhando fora de casa, ainda muito novas, serão trabalhadoras domésticas com baixos salários, sem carteira assinada e com longas jornadas (de domingo a domingo). Mesmo quando têm acesso a políticas públicas de reinserção à educação e à qualificação, como o Projovem, do Governo Federal, a evasão das mulheres é superior a dos homens. Isso porque a ausência de creches públicas e continuidade da responsabilização da mulher sobre o cuidado dos filhos impõe a elas a única opção: voltar ao trabalho doméstico não remunerado.
A juventude rural, por sua vez, sofre condições bem específicas. O esforço físico da atividade agrícola, a dificuldade de acesso à terra, aos equipamentos públicos e à educação, as incertezas da reprodução da agricultura familiar, dentre outros aspectos, conformam o que é a vida da juventude no campo. Esta concentra cerca de 30% dos jovens pobres do país.
Um sindicalismo que represente os interesses da juventude
A criação da SNJ-CUT tem um sentido muito estratégico para a luta pela promoção do trabalho decente no Brasil e na América Latina. Por meio dela, será possível construir políticas para o conjunto da CUT no que diz respeito à agenda de promoção do trabalho decente de jovens, encerrando um ciclo que limita os debates sobre juventude aos jovens da Central. Seguindo o princípio cutista segundo o qual é necessário criar unidade de classe para organizar a luta, teremos pela frente o desafio de unificar uma agenda de luta que reúna as reivindicações das jovens mulheres trabalhadoras, da juventude do campo, daqueles e daquelas que estão fora do sistema educacional e também do mercado de trabalhão formal.
Valorizar o trabalho de jovens significa criar mecanismos que impeçam o trabalho informal e a inserção ocupacional precoce. A exigência de políticas de Estado que punam empresários que não formalizam contratos deve somar-se à inclusão de cláusulas nos acordos coletivos que imponham regras para facilitar a permanência ou o retorno ao sistema educacional formal.
Garantir o direito à educação é exigir a criação de políticas educacionais, públicas e universais, que possibilitem reverter o quadro alarmante do número da evasão escolar provocada pela necessidade de trabalhar. A CUT já possui posição favorável ao incremento de políticas de transferência de renda que garantam a estudantes sua permanência no sistema educacional. Isso contribui, ainda, para adiar a entrada no mercado de trabalho.
O caso dos estágios é um exemplo concreto de exploração fácil e barata do trabalho juvenil. Mais de um milhão de estudantes do país estão estagiando (a população estudantil do país soma 4 milhões). A realidade destes estágios é a utilização de estudantes para substituir mão-de-obra e não tem qualquer relação com a educação dos mesmos. Vemos estudantes do ensino médio como operadores de máquinas de copiar, entregadores ou contínuos. Nos bancos, é comum a utilização de jovens como força de trabalho descartável e muito barata. A situação nas empresas de call center é outro exemplo do enorme desafio de sindicalizar jovens em condições de grande flexibilização das relações de trabalho.
Construir alianças para disputar hegemonia
Está no centro do projeto sindical cutista a disputa de hegemonia na sociedade. O período neoliberal foi capaz de imprimir grandes derrotas ao campo democrático e popular: esvaziar o sentido crítico da juventude e torná-la descrente das possibilidades emancipatórias da organização coletiva e do socialismo. Recuperar esse sentido e essa crença é tarefa central para a construção da hegemonia popular.
Para tanto, devemos construir uma aliança com os movimentos populares de juventude que unifique nossas pautas em torno da luta contra a exploração e opressão da juventude. O Fórum Nacional de Movimentos e Organizações Juvenis (FNMOJ) é um espaço que tem esse potencial. Nele, reunimos movimentos de jovens indígenas, de negros e negras, culturais, ecossocialistas, feministas, rurais, LGBTTs, fóruns de participação popular e redes de jovens ativistas dos mais diversos movimentos.
Trata-se de um grande desafio a superação da cultura corporativa do sindicalismo contemporâneo a partir da atuação de jovens sindicalistas. Construir uma plataforma de luta comum a essa diversidade movimentos juvenis é um passo importante para essa superação. Além disso, será uma grande contribuição para forjar uma nova geração de militantes sindicais.
Essa nova geração pode priorizar a construção de agendas de lutas comuns com a maior organização de juventude do país, a União Nacional dos Estudantes. A CUT e a UNE juntas poderão dar passos significativos em termos de representação dos reais interesses dos jovens e das jovens do nosso país, de construção de mobilizações unitárias e enfim, organizar a maioria da juventude brasileira.
Fortalecer o projeto sindical cutista
Temos grandes tarefas até o 10º Concut, em 2009, quando serão eleitos(as) os secretários e as secretárias de juventude nas CUT´s estaduais e na CUT Nacional. O primeiro deles é garantir a organização e funcionamento de coletivos de jovens em todos os estados e nos ramos orgânicos. A criação das secretarias requer enraizamento e coletividade das políticas de juventude, além de legitimidade para a direção e para a base sindical.
O segundo desafio é a difusão do acúmulo político do Coletivo Nacional de Juventude da CUT. Esse acúmulo é refletido pelos Encontros Nacionais da Juventude Trabalhadora da CUT, na Conferência Nacional de Políticas Públicas para Juventude, pelo projeto de formação de dirigentes jovens intitulado Juventude, Sindicalismo e Inclusão Social, pela presença no sindicalismo internacional através dos coletivos de jovens da Coordenadora das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS) e da Confederação Sindical das Américas (CSA) e as diversas iniciativas organizativas e reivindicatórias desde os ramos orgânicos e filiados à CUT.
O terceiro grande desafio é criar legitimidade interna à CUT para o investimento necessário na política nacional da juventude cutista. Sem isso, diminuem-se as possibilidades de atuação, organização e construção de alianças sociais com os demais movimentos populares.Um poeta da nossa geração consegue traduzir as expectativas desse momento, para nós: “Deixa chegar o sonho. Prepara uma avenida, que a gente vai passar” (Marcelo Camelo).
Rosana Souza, da Executiva da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria Química (CNQ) e Sergio Amorim, do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, são membros do Coletivo Nacional de Juventude da CUT.
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