Artigo
Na última terça-feira (1º), uma cena surreal aconteceu na Marginal Tietê, na zona norte de São Paulo: uma grande cratera se abriu devido a um erro de cálculo do tatuzão, aquela máquina gigante, ultratecnológica e cara utilizada para fazer escavações em obras do metrô. Não foi o primeiro acidente em obras do Metropolitano de São Paulo, mas, desta vez, fora o dano para o trânsito e susto dos trabalhadores, não houve vítimas.
Esse assunto está sendo abordado neste editorial porque ele traz uma lógica perversa que está sendo implementada também na área da saúde: as Parcerias Público-Privadas (PPP), um tipo de iniciativa que governos tucanos, os pais da inserção de empresas privadas na esfera pública, adoram.
A obra no Metropolitano para construção da Linha 6-Laranja, na zona norte, é fruto de uma parceria do governo de São Paulo com a empresa espanhola Acciona por meio da Concessionária Linha Universidade (Linha Uni). Especialistas ouvidos a respeito do acidente ao longo da semana apontaram a fragilidade na fiscalização de obras desse tipo.
Trazendo o tema para a saúde, esta semana foi noticiado no site e redes sociais do SindSaúde-SP o projeto do novo Hospital Pérola Byington, que também faz parte de uma PPP, anunciada em agosto de 2019, em parceria com a empresa Inova Saúde, cujo projeto, ao que parece, é dar ao Pérola ares de hotel.
O Sindicato noticiou o resultado de uma reunião de trabalhadores do Pérola e dirigentes do Sindicato com a direção do hospital (para ler a notícia, clique aqui). A mudança para o novo prédio - que sai da Rua Brigadeiro Luís Antônio para a Avenida Rio Branco, em um terreno doado pelo ex-prefeito Bruno Covas ao estado – começa em julho deste ano, e os profissionais de saúde do hospital, como não poderia deixar de ser, estão apreensivos.
Privado esmagando o público
Desde os primórdios dos governos tucanos no Brasil e, principalmente, no estado de São Paulo, a inserção de empresas privadas na esfera pública ganhou força, atingindo a sua máxima potência desde que João Doria Jr. virou governador do estado, no fatídico janeiro de 2019.
Todos sabem que Doria é uma das grandes vozes a favor do estado mínimo do mínimo e sua política privatista é uma prova disso. A lógica (perversa) é simples: primeiro, transforma-se a coisa pública em sucata para mostrar que o estado é ineficiente e não dá conta; na sequência, é passado o rolo compressor, colocando o privado sobre o público.
Debaixo do rolo compressor está toda a estrutura montada e, principalmente, o capital humano. Os trabalhadores da saúde, tão aplaudidos durante a pandemia, sabem muito bem o que é isso. Convivem, há anos, com a invasão de organizações sociais (OS’s) sob a justificativa de que o estado, além de não dar conta, não tem a mesma agilidade na contratação de força de trabalho. Ou seja, em vez de fazer concursos públicos para uma área tão sensível, como a saúde, privatiza-se áreas essenciais.
Assim, vê-se um mercado de trabalho precarizado de todos os lados: dos profissionais da administração direta e também dos das OS’s que, em sua maioria, são contratados com estabilidade zero e quase nenhum direito. Nesse bolo, brinca-se com a saúde do cidadão que paga impostos, mas não recebe de volta o cuidado que merece com a sua saúde.
Futuro
Este ano, todas as brasileiras e brasileiros têm um compromisso importante: as eleições. Os profissionais de saúde vinculados ao Estado terão a chance de escolher que patrão vão querer ter pelos próximos quatro anos (ou oito, a depender da reeleição), a partir de 2023.
Portanto, é essencial avaliarem qual projeto político joga a favor ou contra seu emprego e direitos. E quando dizemos “avaliarem”, queremos dizer uma participação efetiva na política do país, buscando informações em fontes confiáveis e não em memes e vídeos montados, distribuídos em grupos de WhatsApp.
Há mais de dois anos os profissionais de saúde estão sofrendo no combate à pandemia, que voltou a piorar. Para fazer uma analogia com o futebol, é um 7 x 1 todos os dias.
Somado a isso, são anos sem reposição salarial e as constantes retiradas de direitos, como vimos acontecer nos últimos dois anos. Sequer o sofrimento impingido pela pandemia parou o rolo compressor do governo.
Portanto, fique atento, participe, converse com os seus colegas, amigos e familiares! O Sindicato está com você nessa luta, mas lembre-se: sozinho, o SindSaúde-SP não consegue barrar a política de desmantelamento.
Juntos somos mais fortes!