Crise acabou para o sistema capitalista, mas não para quem perdeu emprego, diz Singer
Autor: Jornal de Brasília
19/08/2009
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Dizer que a crise financeira internacional acabou “é uma afirmação bizantina, no mínimo discutível, porque acabou para o sistema capitalista como um todo, mas não para quem perdeu o emprego ou a casa”, afirmou hoje (18) o secretário Nacional de Economia Solidária, do Ministério do Trabalho e Emprego, Paul Singer.
Ao participar do IX Seminário sobre Perspectivas do Desenvolvimento Brasileiro, cujo tema era "Crise como Oportunidade", ele disse que a crise financeira fez com que todos os países jogassem fora os ensinamentos de ortodoxia econômica, em razão das incertezas geradas pelo mercado. O encontro foi promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Agora, portanto, com novo cenário, “podemos dizer que essa crise passou, mas a próxima já está no forno”. Isso porque, segundo ele, as crises são cíclicas. Mas acredita que qualquer turbulência econômica que venha, a partir de agora, encontrará cenário mundial diferente, porque “há uma desglobalização em curso, detectada por iniciativas protecionistas de alguns países”.
No seu entender, a crise que estourou em setembro do ano passado “já suavizou-se, desacelerou lá fora” e no mercado brasileiro a crise já passou, uma vez que a oferta de empregos tem aumentado gradativamente desde fevereiro deste ano, depois de fortes ondas de desemprego no final do ano passado, até janeiro último.
Singer enfatizou que agora, depois de passada a tormenta, é hora de discutir e dar efetividade às oportunidades que as dificuldades apontam, paradoxalmente. “A crise nos oferece a possibilidade de ter outra agenda de prioridades, que já está surgindo. Digo mais: se o Brasil tomar posição pelo futuro da humanidade, poderá fazer a diferença entre as nações.”
O sociólogo Sílvio Caccia Bava, do Instituto Pólis, revelou que “a crise financeira botou mais de 200 milhões de pessoas abaixo da linha de pobreza no mundo”, enquanto os países ricos injetavam bilhões de dólares para salvar os sistemas financeiros, num cenário mais nefasto do que o crack de 1930, uma vez que os efeitos da crise atingiram todos os países por causa da globalização.
De acordo com o sociólogo, o mundo exige mudanças políticas e culturais que contribuam para a “desconcentração desmesurada de poder do sistema financeiro”. Ele até admite que exista um pouco de utopia na afirmação, mas lembrou o que Singer – ao seu lado na mesa de debates – havia dito pouco antes: “Sem utopia, não iremos a lugar nenhum”.
Sílvio Caccia falou ainda da necessidade de o Brasil “refundar o Estado republicano e democrata”, a partir de uma reforma política profunda que amplie os espaços de participação social e descentralize o poder. Além disso, acrescentou, “é necessário também maior controle social do sistema financeiro, com mais fiscalização sobre entradas e saídas de capitais especulativos”.
Esse controle seria essencial para corrigir “distorções gritantes”, geradas pelo consumo desenfreado, de acordo com o economista Ladislau Dowbor, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, que também participou do seminário.
Ele mostrou pesquisa segundo a qual são gastos US$ 6 bilhões por ano com educação básica no mundo, equivalentes ao consumo anual de cosméticos nos Estados Unidos. Mostrou ainda que saúde básica e nutrição consomem US$ 13 bilhões por ano no mundo, enquanto EUA e Europa gastam US$ 17 bilhões com ração para animais de estimação, o Japão gasta US$ 35 bilhões com entretenimento, a Europa queima US$ 50 bilhões em cigarros e US$ 105 bilhões em álcool, o consumo mundial de drogas chega a US$ 400 bilhões e os gastos militares ascendem a US$ 780 bilhões. Tudo isso por ano.
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