Qualidade no atendimento é desafio do SUS, criado há 25 anos
Autor: Agência Brasil / EBC
19/08/2013
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A Agência Brasil e a TV Brasil divulgam nesta semana a série Raio X da Saúde, que vai mostrar a realidade do setor. A equipe de reportagem visitou vários estados. Durante sete dias, percorreu capitais e cidades do interior para ouvir moradores, entre eles indígenas, que dependem da saúde pública
Trabalhadores na saúde de São Paulo defendem reestruturação do SUS
São Paulo - Apesar de reconhecerem as dificuldades resultantes da má distribuição dos médicos no estado, entidades representativas do setor de saúde destacam que para avaliar integralmente o serviço prestado é fundamental observar as condições de infraestrutura disponíveis. Relatórios de visitas técnicas feitas pelo Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde em São Paulo (Sindsaúde), entre março de 2012 e julho deste ano, apontam, entre outras falhas, estruturas com rachaduras, vazamentos, armazenagem inadequada de medicamentos, descarte irregular de material e risco de contaminação para trabalhadores.
Uma das situações mais delicadas foi verificada no Hospital Leonor Mendes Barros, no bairro Belenzinho, zona leste da capital. O documento da inspeção feito em julho aponta a presença de fezes de rato em algumas instalações. "É uma questão muito séria. Constatamos que há indício de um animal transmissor de doenças dentro de um hospital. O que a gente observou é que existem unidades mais precárias e outras menos, mas todas apresentam problemas", criticou Gervásio Foganholi, presidente do sindicato.
Na unidade do Belenzinho foi identificado também risco de incêndio em um setor de caldeira já desativado, pois, segundo o Sindsaúde, o óleo foi jogado no piso e coberto com pó de serra, mas o local continuou encharcado. Os trabalhadores relataram ainda a ausência de extintores. "Tem que existir uma política de recursos humanos propositiva, que dê suporte, principalmente, à atenção básica, mas também tem que ter melhoria das condições de estrutura. É esse conjunto que precisa ser resolvido", destacou Foganholi.
O Hospital Regional de Assis, município do oeste paulista a cerca de 440 quilômetros da capital, apresentou, em outubro de 2012, descarte inadequado de lixo hospitalar, como seringas, na sala de enfermagem e ambulatórios. No hospital, o sindicato observou armazenagem inadequada de materiais de inalação, teto com infiltração e funcionários no exercício das funções sem equipamentos de proteção individual (EPI), como máscara, luva e touca.
Situação parecida foi encontrada no Hospital Heliópolis, no bairro Sacomã, zona sul de São Paulo. Entre as irregularidades identificadas, o Sindsaúde destacou a não utilização de EPI, infiltrações no depósito de armazenamento de remédios e falta de local adequado para descarte de material de cirurgia. O relatório aponta, inclusive, descarte de sangue em vaso sanitário. "Nós defendemos a existência do Sesmt [Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho] em todas as unidades, mas não é o que observamos", disse o presidente do sindicato.
Os relatórios feitos pela entidade sindical foram produzidos com base em visitas a 14 unidades de saúde sob responsabilidade do governo estadual, na Grande São Paulo e em algumas cidades do interior. Os resultados de sete hospitais foram apresentados em uma audiência, no último mês de junho, da Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa. "Avaliamos que esse era o melhor espaço, porque aglutina representações do governo [do estado] e também da sociedade civil. Ao final desse trabalho, vamos protocolar o documento no Ministério Público também", informou o sindicalista.
Uma fiscalização do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), divulgada em junho deste ano, também aponta um cenário preocupante. A vistoria feita em 71 prontos-socorros do estado constatou que 57,7% deles têm macas com pacientes nos corredores; 66,2% enfrentam dificuldade de encaminhar pacientes para outros serviços de referência e 57,7% estão com equipes médicas incompletas.
O documento mostra, ainda, que em 59,2% das salas de emergência falta algum tipo de material. “As conclusões [obtidas a partir] do levantamento revelam falhas graves dos serviços de urgência e emergência, que colocam a população em risco e não oferecem aos médicos condições mínimas e adequadas de trabalho”, diz o texto. Do total de unidades fiscalizadas, 30 são prontos-socorros públicos municipais, 22 filantrópicos, 16 públicos estaduais e três privados.
Para Otelo Chino, diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp), a dificuldade em deslocar médicos às áreas periféricas, sejam elas no interior do país ou em bairros mais distantes dos centros urbanos, é justificada, em parte, pelos problemas de infraestrutura encontrados nas unidades. "É evidente que faltam médicos, mas temos que saber o porquê. Já é sabido que os locais onde não têm uma qualificação para o atendimento, os médicos não ficam. Dê uma condição estrutural melhor e eles atendem ao chamado", avaliou.
Procurada pela Agência Brasil para comentar os relatórios, a Secretaria Estadual de Saúde disse que o Sindsaúde faz oposição sistemática ao governo de São Paulo e, por isso, questiona a veracidade dos dados apresentados. O órgão diz estranhar a escolha dos hospitais para a vistoria, tendo em vista que foram selecionadas unidades localizadas "em prédios mais antigos".
Em nota, a Secretaria de Saúde informa que o estado possui unidades mais modernas, como o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo e o Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia. A secretaria destaca investimentos da ordem de R$ 80 milhões, desde 2011, na recuperação de hospitais e centros de saúde.
Sobre o Hospital Heliópolis, o órgão informa se tratar de um prédio com cerca de 45 anos, que, eventualmente, apresenta problemas com infiltrações. "No entanto, é importante deixar claro que o prédio passa por manutenções periódicas, como troca de telhas, reparos em encanamentos e consertos de móveis e equipamentos". A secretaria nega que haja falta de local adequado para o descarte de material de cirurgia, ou que ocorra descarte de sangue no vaso sanitário. "Essas informações são absurdas e mentirosas", assinala a nota.
O governo estadual também nega que seringas são descartadas de maneira imprópria no Hospital Regional de Assis. Considera inverídica ainda que profissionais não utilizem uniformes adequados. Em relação ao Hospital Leonor Mendes de Barros, a secretaria informou que é feito o procedimento de desratização quinzenalmente e que o último procedimento foi feito em 29 de julho. Sobre a caldeira, o problema de vazamento de óleo foi reparado de acordo com normas de segurança, com a aplicação de serragem no local para a absorção do óleo. O local encontra-se atualmente sem qualquer vestígio de óleo ou serragem. O órgão destaca, também, que no local existem hidrantes e extintores para qualquer emergência.
Sobre as equipes do Sesmt, a secretaria esclarece que segue as normas que regulamentam a presença de profissionais do setor de medicina do trabalho de acordo com a quantidade de funcionários que atuam em cada unidade e o risco existente em cada ambiente. Além disso, há treinamento específico de todos os funcionários para que as normas sejam cumpridas.
Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
Edição: Marcos Chagas
Agência Brasil www.agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-08-19/trabalhadores-na-saude-de-sao-paulo-defendem-reestruturacao-do-sus
Mesmo com 2,6 médicos por mil habitantes São Paulo enfrenta desafio de má distribuição
São Paulo - O estado paulista concentra 110,4 mil dos 338 mil médicos existentes no país, representando 28,4% dos profissionais cadastrados no Conselho Federal de Medicina (CFM). Em termos proporcionais, são 2,64 médicos para cada mil habitantes. A taxa é similar à meta traçada pelo Ministério da Saúde para o país, definida em 2,7. A má distribuição desses profissionais no território, no entanto, que já é constatada em diversas regiões do país, também se reflete na realidade estadual.
Quase 50% dos médicos que atuam em São Paulo, ou 50.740, estão na capital. Em relação aos habitantes, a proporção é 4,48 profissionais por mil. Os dados constam no estudo Demografia Médica Brasileira, do CFM, lançado em fevereiro deste ano. Dentro do próprio município, entretanto, também são observadas desigualdades na distribuição.
É o caso da Assistência Médica Ambulatorial (Ama) Tito Lopes, no bairro São Miguel Paulista, extremo leste da capital. Segundo a organização social (OS) Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (APDM), que administra a Ama do Sistema Único de Saúde (SUS), existem 11 vagas para médicos. Entre as razões apontadas para a falta de profissionais, está "a localização das unidades de saúde, em grande parte periféricas", assinala a nota da entidade.
Embora nunca tenha deixado de ser atendida na Ama Tito Lopes, a agente de pesquisa Jaqueline da Silva, 29 anos, reclama da demora por uma consulta. "Quando resolvo esperar, sou atendida, mas isso pode levar quatro, cinco horas. São poucos médicos no plantão", criticou. Na manhã do dia 6 de agosto, ela buscou atendimento às 8h15 e conseguiu ser atendida por volta das 10h30. "Até que foi rápido, mas não dá para dizer que foi bom. A médica não tocou em mim, não pediu exame, já foi logo escrevendo a receita e não me explicou como usar o remédio", relatou. Jaqueline foi à Ama com sintomas de dor no estômago.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, o déficit total de médicos na rede pública chega a 2.060, com a maioria das vagas disponíveis nas regiões leste e sudeste da capital paulista. No último processo de seleção do órgão, 20% dos médicos aprovados não compareceram, informou o órgão. Além da localização dos bairros, a baixa remuneração e a impossibilidade de cumprir a jornada de trabalho por causa de outros empregos estão entre as justificativas para a recusa. O salário médio para uma carga horária de 20 horas semanais é R$ 4,2 mil. A remuneração média quando esses profissionais são contratados via OS sobe para R$ 6,2 mil.
"Em São Paulo, na comparação com o Brasil, existe uma diferença marcante. Mas ainda assim, especialmente na periferia da capital, existem áreas onde há dificuldade [de fixar médicos] por causa dos riscos", comentou Otelo Chino, diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp). Entre as dificuldades enfrentadas pelos médicos, ele cita a questão da segurança pública e os grandes deslocamentos. "São áreas de periferia, algumas a 40 quilômetros do centro. Se exigem uma jornada diária, leva-se pelo menos três horas no deslocamento", exemplificou.
Os usuários do SUS ouvidos pela Agência Brasil em São Paulo relataram mais dificuldades na utilização dos serviços de pronto atendimento e de assistência especializada. "A gente já chega aqui [Ama Tito Lopes] com dor, faltando ao trabalho. O que a gente mais quer é sair logo e com uma medicação, mas acaba esperando muito tempo e se pelo menos a dor passasse", relatou a empregada doméstica Sandra Regina de Oliveira, 49 anos. A prefeitura orienta que para sintomas como este, de menor gravidade, os usuários busquem uma das 139 Amas espalhadas pela capital.
A demora para conseguir uma consulta especializada também aparece entre as reclamações. A aposentada Neusa Aparecida Pereira, 69 anos, conta que precisou esperar cerca de três meses para ser atendida por um ortopedista. "Fiquei ruim da perna. Passei na Ama para tomar uma injeção para dor e ele me deu uma guia para passar no especialista. Demorou três meses para ser chamada, ele me pediu para fazer exames e foram mais dois meses para o retorno. No dia que eu fui, [a Ama] estava em reforma e acabei deixando por isso mesmo. Até a dor volta", relatou. Ela conta que a burocracia nas marcações a faz desistir de uma saúde preventiva.
É na Unidade Básica de Saúde (UBS), no entanto, que a expressão "saúde da família" ganha vida no SUS. Pelo menos é assim que relata a cozinheira Zelmira Buzinaro, 58 anos. Ela trata pelo nome o médico do posto mais próximo de sua casa e recebe mensalmente uma visita das agentes de saúde na sua casa. "Elas medem minha pressão, perguntam como está a saúde. Quando tinha convênio isso não acontecia. Mas sei também que isso depende muito da equipe. Já minha cunhada vive reclamando do posto perto da casa dela", apontou. Segundo a prefeitura, 440 unidades prestam esse atendimento na cidade.
Apesar de reclamar do atendimento que recebeu na Ama, Jaqueline também acredita que o acompanhamento regular que recebe em na casa pela UBS é o que mais se aproxima de um atendimento ideal na saúde pública. "Não tenho do que reclamar. Se precisar, até a médica vai. Se tiver consulta marcada, eles avisam. Pesam a criança. Agora que estou trabalhando é mais difícil receber a visita, mas sei que funciona. Eles me conhecem e eu conheço eles. Bem diferente daqui [Ama Tito Lopes]", comparou.
Camila Maciel
Repórter da Agência Brasil
Edição: Marcos Chagas
Agência Brasil www.agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-08-19/mesmo-com-26-medicos-por-mil-habitantes-sao-paulo-enfrenta-desafio-de-ma-distribuicao
“O SUS é o melhor projeto de saúde do mundo, só falta ser implantado”, diz Sinmed do Rio
Rio de Janeiro – Passados 25 anos da criação do modelo de estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS), feito a partir da Constituição Federal de 1988, o projeto não saiu do papel. A opinião é do presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro (Sinmed-RJ), Jorge Darze.
“No Rio de Janeiro o que está faltando é implantar o SUS. Na verdade o que nós temos é um arremedo de SUS, nós ainda temos no Rio de Janeiro as três esferas de governo fazendo a gestão de suas próprias unidades, cada uma olhando para o seu umbigo, esquecendo que o sistema é único”, disse o sindicalista.
A subsecretária de Unidades Próprias da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Ana Lucia Eiras das Neves, admite que ainda falta muito para o sistema funcionar perfeitamente, mas destaca que o atendimento melhorou muito nesses 25 anos. “Houve um avanço, a estruturação lógica de rede, de regulação, de organização de serviços, de oferta. No momento temos um cenário em que os serviços estão sendo oferecidos, os municípios estão investindo em atenção básica. As demandas ainda continuam muitas, mas já houve um avanço”.
Para ela, a principal melhoria foi a universalização do atendimento. “O sistema agora é único, ou seja, toda a população pode utilizar, o que é um avanço em relação ao modelo anterior e até em relação a muitos países mais desenvolvidos. Nós temos que continuar investindo, a parcela precisa aumentar, as demandas são crescentes, há um envelhecimento da população, há um avanço de tecnologia, com custos crescentes e a gente precisa melhorar na questão do financiamento”, admite a subsecretária.
Dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), mostram que a rede de atenção básica na cidade passa por uma reestruturação. Nos últimos anos, foram inauguradas 70 clínicas da família, que cobrem agora 41% da população; os hospitais Evandro Freire, na Ilha do Governador; e Pedro II, em Santa Cruz; além de duas maternidades, o Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no centro; e o Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, em Bangu. Também estão já em atividade sete novos centros de Atenção Psicossocial (CAPs).
A SMS oferece os serviços em 200 centros municipais de Saúde (CMS), para o atendimento básico; nove policlínicas de atenção secundária e ambulatorial especializada; 13 centros de Atenção Psicossocial para saúde mental; 14 unidades de Pronto-Atendimento (UPAs), que fazem cerca de 100 mil atendimentos mensais cada; e cinco coordenações regionais de Emergência (CER),que ficam ao lado de grandes emergências de hospitais, para atender casos menos graves. A rede pública da cidade do Rio conta, ainda, com seis hospitais de emergência e dois de pronto-atendimento; seis hospitais especializados, três unidades psiquiátricas, três hospitais pediátricos e um de geriatria, que atendem encaminhamentos da atenção básica; dez maternidades e uma casa de parto.
A SMS destaca que as clínicas da família em toda a cidade fizeram, no ano passado, mais de 25,6 milhões de procedimentos ambulatoriais e as UPAs e CERs contribuíram para a redução pela metade dos atendimentos de emergência nos grandes hospitais da rede. Desde 2009, as UPAs do município fizeram mais de 3,6 milhões de atendimentos, com taxa de resolubilidade de 98% dos casos.
Na rede estadual de assistência à saúde, são 52 unidades de Pronto-Atendimento ; 21 hospitais, sendo seis com maternidade, e oito na capital; seis institutos estaduais, especializados em hematologia, cardiologia, dermatologia, diabetes, endocrinologia, doenças do tórax e infectologia; dois postos de Atendimento Médico (PAM); o Centro de Diagnóstico por Imagem (Rio Imagem); e o Centro de Tratamento Psiquiátrico e de Adictos, para dependentes químicos.
A SES também mantém o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192), na capital; o Instituto Vital Brasil, que faz pesquisa e produz soros e medicamentos; centros de hidratação contra a dengue e 18 farmácias populares, sendo seis no município do Rio. A assessoria da secretaria estadual destaca o aumento do número de leitos de unidades de terapia intensiva (UTIs) mantidos pelo estado, que passou de 269, em 2006, para 992, em 2013; os partos passaram de 15,2 mil para 23,4 mil; e o número de exames de imagem subiu de 25,3 mil, em 2007, para 595,3 mil, em 2012.
Akemi Nitahara
Repórter da Agência Brasil
Edição: Marcos Chagas
Agência Brasil www.agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-08-19/%E2%80%9C-sus-e-melhor-projeto-de-saude-do-mundo-so-falta-ser-implantado%E2%80%9D-diz-sinmed-do-rio
Pacientes de outros estados contribuem para superlotação de hospitais públicos do DF
Brasília – O principal motivo de superlotação e carência no sistema público de saúde do Distrito Federal (DF) é o grande fluxo de pacientes de outros estados. Os hospitais de Brasília e do Entorno, por estarem mais perto do que os das capitais de estados em que se situam muitos de seus municípios, recebem mais pacientes do que comportam, gerando um déficit de 1,5 milhão de atendimentos, segundo estimativas da Secretaria de Saúde (SES) do governo do Distrito Federal (GDF). Em 2012, foram atendidos mais de 7 milhões de pacientes no DF. Os principais estados de origem desses pacientes são Goiás, Minas Gerais e Bahia.
O subsecretário de Atenção à Saúde, Roberto José Bittencourt, disse à Agência Brasil que a estimativa do governo é que, em hospitais mais afastados do centro da capital - como os de Ceilândia e Planaltina -, o número de pacientes de outros estados chegue a ser a metade. Nos hospitais no centro da capital, o percentual varia entre 15% e 20%. Segundo ele, o governo já assumiu definitivamente pacientes de 27 municípios da região do Entorno tratados na rede pública de saúde do DF, geralmente nos casos de média e alta complexidade.
“Sabemos que o serviço está sobrecarregado, mas, querendo ou não, os pacientes vêm para cá. E não há como não tratar casos de alta complexidade, como câncer, derrame ou infarto. Não podemos negar atendimento. Isso, do ponto de vista sanitário e clínico, é crime. Essa é uma situação dramática e complexa, sem solução há mais de dez anos. A única que havia era a do empurra-empurra”, informou Bittencourt à Agência Brasil.
A passadeira Marta Maria Pereira, 62 anos, disse, no entanto, que a realidade é diferente em seu município. “Aqui é muito difícil ser atendido, ainda mais se for de outra cidade. No meu caso, sou da [Cidade] Ocidental. Eles não atendem”, reclamou moradora da cidade goiana, a 45 quilômetros (km) de Brasília. A alternativa que lhe restou foi recorrer ao tratamento no Hospital de Base. A Agência Brasil encontrou Marta Maria na fila de espera da emergência do hospital, no Plano Piloto, principal instituição hospitalar do Distrito Federal.
Em junho de 2011, a presidenta Dilma Rousseff assinou o Decreto 7.508, que criou, oficialmente, as regiões metropolitanas de saúde. Pelo decreto, é possível constituir regiões de saúde independentemente das regiões geopolíticas – que, não necessariamente, são as mesmas. Isso permitiu a parceria por meio de contratos de gestão que viabilizaram financeiramente as demandas de áreas exteriores às geográficas estaduais, previstas no orçamento. Para isso, no entanto, têm de haver o repasse de recursos pelo Ministério da Saúde.
“Um exemplo é a Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) no Novo Gama, para o qual foram destinados R$ 15 milhões para a construção, mas, para manter, precisamos de R$ 1,5 milhão, que não temos. O DF precisa de recursos para financiar a saúde”, explicou o subsecretário, sobre o município de Goiás, a cerca de 40 km de Brasília e distante 178 km de Goiânia. Os pacientes do Novo Gama são usuários do sistema de saúde da capital federal por sua proximidade.
Segundo Bittencourt, as secretarias de Saúde dos estados, não só do DF, têm se mobilizado em relação ao recebimento desse tipo de pacientes independentemente do governo federal. Um projeto de lei (PL) tramita no Congresso e propõe o aumento de R$ 42 bilhões em recursos para o Sistema Único de Saúde (SUS), com o financiamento de 10% da receita corrente bruta brasileira.
O valor proposto pelo Parlamento é uma estimativa do déficit orçamentário do sistema que, atualmente, tem destinação de R$ 90 bilhões. Outra proposta discutida é a que destina percentual dos royalties do pré-sal à saúde.
“Cinquenta bilhões de reais a mais na saúde pública do Brasil é o que é preciso para avançarmos em relação aos problemas crônicos que temos. Mas a destinação de recursos é uma medida-chave para constituirmos regiões de saúde que tenham aportes que permitam melhorias”, defendeu Roberto José Bittencourt.
Carolina Sarres
Repórter da Agência Brasil
Edição: Marcos Chagas
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Doenças do século 19 ainda são desafios para a saúde pública
Brasília - O mesmo Sistema Único de Saúde (SUS) que fez mais de 22 mil cirurgias de transplantes de órgão e lida diariamente com doenças relacionadas a um novo estilo de vida imposto pela modernidade do século 21 - corrido e ao mesmo tempo sedentário -, ainda precisa prestar atendimento a pessoas com enfermidades que se expandiram desde o século 19. De acordo com a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Tânia Araújo Jorge, as chamadas “doenças negligenciadas” têm um determinante social muito forte e suas sequelas alimentam o círculo da pobreza.
“Renda, condições de educação, de saneamento e água influenciam bastante na permanência dessas doenças, por isso são consideradas doenças relacionadas à pobreza”, explica Tânia. As doenças negligenciadas consideradas prioritárias pelo governo federal são dengue, doença de Chagas, leishmaniose, malária, esquistossomose, hanseníase e tuberculose. A pesquisadora destaca que outra característica desses males é que, de forma geral, são negligenciados pela indústria farmacêutica global. “Não tem interesse em investimento de pesquisa para geração de vacina, de medicamentos, porque é um mercado pobre, a atividade econômica não dá sustentação para um mercado global” avaliou.
Tânia Araújo acrescenta ainda que outro componente que contribui para a permanência dessas doenças na agenda do governo é a omissão da rede pública de saúde na atenção a essas populações. “Muitas vezes você tem o medicamento, mas o serviço de saúde não propicia o acesso às soluções já conhecidas”, diz.
A pesquisadora ressaltou que não adianta ter apenas um planejamento do governo federal, “tem que haver ação na ponta. A articulação entre os entes federal, estaduais e municipais é muito importante”. Para ela, as políticas voltadas para a as doenças negligenciadas são tratadas como política de governo e não de Estado, e por isso é muito comum que sejam suspensas a cada troca de governo.
“Esse tema não deve sair da agenda política, ele está muito presente na agenda dos cientistas, mas isso por si só não é o suficiente. Os resultados das pesquisas têm que ser colocado na agenda política do país” frisou Tânia, acrescentando que o investimento em educação é fundamental.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, em 2012 foram registrados mais de 33 mil novos casos de hanseníase, considerada uma das doenças mais antigas que acometem o homem e que tem cura. Os estados de Mato Grosso, Maranhão e do Tocantins apresentaram em 2012 alta incidência da doença, enquanto todos os estados da Região Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, na Região Sudeste, somados ao Rio Grande do Norte, no Nordeste, alcançaram a meta de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública.
A pesquisadora explicou que com o avanço das pesquisas na saúde a letalidade das doenças negligenciadas diminuiu em relação à do século 19, porém, a convivência prolongada com elas traz mais morbidades. “A mortalidade hoje no Brasil é muito mais causada por doenças cardiovasculares, câncer, doenças crônicas. Essas doenças infecciosas da pobreza conseguem ser controladas, menos de 5% da população morrem em consequência delas. No entanto, elas são muito frequentes, em crianças atrapalham o rendimento escolar, atrapalham o crescimento, em adultos atrapalham a inserção no mercado de trabalho, de forma que sustenta um círculo que mantém a pobreza” diz a especialista.
Ao mesmo tempo em que o SUS precisa lidar com essas doenças, aumenta o número de pessoas acometidas por males intimamente relacionados ao ritmo de vida mais acelerado, às cobranças e ao sedentarismo, cada vez mais comuns na vida de quem vive nas metrópoles. “Obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, depressão, problemas de tireoide, dor nas costas, doenças ocupacionais, são as doenças que mais atormentam a sociedade moderna”, avalia Samira Layaun, médica especialista em medicina preventiva e consultora de saúde e qualidade de vida.
Na avaliação da especialista, falta estrutura e investimento em saúde pública para atender à demanda ocasionada por essas doenças. Mesmo figurando em agendas de saúde tão distintas, tanto as doenças negligenciadas como as ditas “da vida moderna” precisam de investimento maciço em educação.
“O governo deveria investir mais em campanhas educativas e ações que estimulem as pessoas a adotar bons hábitos alimentares, de sono, exercícios, entre outros. De outro lado, as pessoas deveriam aderir a esses bons hábitos. Procurar alimentar-se e hidratar-se corretamente, dormir, no mínimo, oito horas por noite, praticar exercícios com regularidade, manter o peso e o estresse sob controle, ficar longe do cigarro, do álcool, das drogas, praticar boas ações e nutrir bons sentimentos. São práticas que colaboram tanto na prevenção como no tratamento das doenças da vida moderna”, reforçou Samira à Agência Brasil.
Doença
Esquistossomose
Descrição do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – Ligada à Fundação Oswaldo Cruz
A esquistossomose, também conhecida como bilharzíase ou "febre do caramujo", é uma doença parasitária, transmitida por caramujos infectados com uma das cinco variedades do parasita Schistosoma. A infecção tem ampla distribuição no hemisfério sul, com uma relativa baixa taxa de mortalidade, e alta morbidade, que debilita milhões de pessoas ao redor do mundo.
Incidência de acordo com o Ministério da Saúde
O maior registro da doença está na Região Nordeste, especificamente em Pernambuco. Em seguida, aparece a Região Sudeste, com maior índice em Minas Gerais. Já a Região Norte não apresentou registro da doença em 2012. Os registros do Ministério da Saúde apontavam 31.744 casos esquistossomose em 2012.
Doença
Hanseníase
Descrição do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – Ligada à Fundação Oswaldo Cruz
Doença infecciosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae que afeta os nervos e a pele e que provoca danos severos. É transmitida por gotículas de saliva. É endêmica em certos países do Hemisfério Sul, principalmente na Ásia.
Incidência de acordo com o Ministério da Saúde
Os estados de Mato Grosso, Maranhão e do Tocantins apresentaram, em 2012, coeficientes de prevalência altos - entre 5 e 9,99 casos por 10 mil habitantes -, enquanto todos os da Região Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, na Região Sudeste, somados ao Rio Grande do Norte, no Nordeste, alcançaram a meta de eliminação da hanseníase como problema de saúde pública.
Em 2012, o registros do Ministério da Saúde apontavam 33.303 casos de hanseníase.
Doença
Dengue
Descrição do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – Ligada à Fundação Oswaldo Cruz
Dengue e a febre hemorrágica da dengue (FHD) são causadas por quatro sorotipos do vírus. A infecção é mais comum nas Américas e na Ásia e em outras regiões tropicais e é transmitida ao homem pela picada de mosquitos infectados. Os sintomas incluem dores de cabeça, febre, dores nas juntas e músculos
Incidência de acordo com o Ministério da Saúde
A transmissão de dengue foi mais intensa na Região Sudeste com 875.457, seguida pela Região Centro-Oeste com 261.541 (os números são referentes ao período de 30/12/2012 a 6/7/2013).Em 2012 houve mais de 590 mil casos de dengue no Brasil.
Doença
Doença de Chagas
Descrição do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – Ligada à Fundação Oswaldo Cruz
A doença de Chagas só é encontrada na América Latina. É a infecção causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Muitas vezes na fase inicial a doença não apresenta sintomas, mas quando aparecem podem ser febre, mal-estar, falta de apetite, dor ganglionar, inchaço ocular e aumento do fígado e baço, entre outros.
Incidência de acordo com o Ministério da Saúde
Atualmente, os casos têm ocorrido principalmente na região amazônica, em especial no estado do Pará, devido à ingestão de alimentos contaminados com o Trypanosoma cruzi, parasita causador da doença. Nas outras regiões, a principal forma de transmissão era a vetorial, quando o inseto transmissor, o barbeiro, infestava e colonizava o interior dos domicílios. Hoje, essa forma de transmissão está interrompida, ocorrendo casos de maneira esporádica, principalmente devido à proximidade com o ciclo silvestre da doença. A estimativa é que no Brasil há entre 2 e 3 milhões de pessoas com a doença.
Doença
Malária
Descrição do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – Ligada à Fundação Oswaldo Cruz
A malária é considerada uma das mais graves infecções parasitárias da humanidade. Presente em 110 países, a doença ameaça metade da população mundial. A cada ano surgem de 350 a 500 mil casos, principalmente no Continente Africano. Causada pelo parasita Plasmodium, a malária é transmitida de pessoa a pessoa por meio da picada de mosquitos Anopheles.
Incidência de acordo com o Ministério da Saúde
Amazonas e Amapá são os estados que apresentam maior número de casos.
Doença
Tuberculose
Descrição do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – Ligada à Fundação Oswaldo Cruz
Doença infectocontagiosa causada por uma bactéria que afeta principalmente os pulmões, mas, também pode ocorrer em outros órgãos, como os rins, e tecidos, como os ossos. É causado pelo Mycobacterium tuberculosis ou bacilo de Koch (BK). Aproximadamente um terço da população do mundo está infectada com o bacilo da tuberculose, que é a principal causa de morte de pessoas que estão infectadas pelo HIV, devido ao enfraquecimento das defesas imunológicas.
Incidência de acordo com o Ministério da Saúde
Os estados de maior incidência são Amazonas e Rio de Janeiro com 67,3 casos por 100 mil habitantes. Já os locais com menor incidência são o Tocantins e o Distrito Federal com 13, 5 casos por 100 mil habitantes. No momento, Cuiabá é a capital com maior incidência, com 100 casos por 100 mil habitantes. A capital com menor índice é Palmas, com 9,5 casos por 100 mil habitantes. Números de 2012 mostram o registro de 71.230 pessoas com tuberculose.
Doença
Leishmaniose
Descrição do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Inovação em Doenças Negligenciadas – Ligada à Fundação Oswaldo Cruz
Doença causada por protozoários parasitas do gênero Leishmania transmitida por meio da picada de certas espécies de flebotomíneos. Os sintomas da infecção incluem feridas na pele, febre, anemia e danos ao fígado e baço. A forma mais grave da doença, a leishmaniose visceral, ocorre quando os parasitas migram para os órgãos vitais. Atualmente, cerca de 90% dos casos de leishmaniose na América Latina ocorrem no Brasil.
Incidência de acordo com o Ministério da Saúde
A Região Norte apresenta a maior incidência, sendo o Tocantins o estado com maior concentração da doença. Em seguida, aparece a Região Nordeste, com casos registrados no Maranhão, Piauí e Ceará, respectivamente. Números de 2012 mostram o registro de 3.043 pessoas com tuberculose.
Aline Leal Valcarenghi
Repórter da Agência Brasil
Edição: Marcos Chagas
Agência Brasil www.agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-08-19/doencas-do-seculo-19-ainda-sao-desafios-para-saude-publica
Criado há 25 anos, SUS ainda enfrenta desafio na qualidade de atendimento
Brasília - Para garantir saúde pública de qualidade a toda população, o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho. Mas, se de um lado tem desafios como a carência de médicos em muitas regiões, a distribuição irregular dos profissionais em seu território e a falta ou inadequação da estrutura de atendimento em diversas unidades, do outro tem o mérito de ser o único país com mais de 100 milhões de habitantes que assumiu o compromisso de contar com um sistema universal, integral, igualitário e gratuito de saúde.
Para conhecer melhor a realidade da saúde pública, a Agência Brasil, em parceria com a TV Brasil, enviou uma equipe de reportagem ao Amazonas, Maranhão e Piauí. Durante sete dias, os repórteres percorreram capitais e cidades do interior dos três estados das regiões Norte e Nordeste para conhecer a realidade dos moradores e de indígenas que dependem da saúde pública. Também foram mobilizadas equipes do Distrito Federal, de São Paulo e do Rio de Janeiro. Durante a semana, a Agência Brasil e a TV Brasil divulgarão uma série - Raio X da Saúde – sobre as carências do Sistema Único de Saúde (SUS) e, também, os hospitais que, mesmo mantidos por dinheiro público, são referências nacionais e internacionais.
No Maranhão, a dona de casa Graça Mendes, 56 anos destacou a importância da população local poder contar com o atendimento integral e gratuito. Segundo ela, embora não tenha nenhum vínculo empregatício, pode recorrer a um posto de saúde ou a um hospital quando precisa de atendimento. Nem sempre foi assim: até há algumas décadas somente pessoas formalmente empregadas e seus dependentes podiam utilizar a rede de saúde mantida pelo Estado, por meio do antigo Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (Inamps). Os outros brasileiros, que quisessem ou precisassem de atendimento, deveriam pagar diretamente por ele.
"A saúde pública, claro, poderia e deveria melhorar, mas é melhor a gente ter esse direito do que ficar sem ele. Temos que cobrar melhoria dos serviços e lutar por isso", disse Graça, que é usuária da rede pública há três anos, desde que ficou viúva e não teve mais como pagar o plano de saúde.
A Constituição Federal de 1988 instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS), que tem sua origem no movimento conhecido como Revolução Sanitária, nascido nos meios acadêmicos na década de 1970. Seu principal pilar era a defesa da saúde como direito de todos. O movimento teve como marco a 8º Conferência Nacional de Saúde, em 1986, que, além de ajudar a propagá-lo, produziu um relatório final que serviu de base para os debates na Assembleia Constituinte.
Defensores da reforma, como o sanitarista Sérgio Arouca, que foi presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), tiveram grande destaque à época e ajudaram o Brasil a implantar o modelo de atenção à saúde como conhecemos hoje.
A lavradora Raimunda Ferreira de Oliveira, de 79 anos, que nunca trabalhou com carteira assinada, lembra como era a saúde antes da criação do SUS. "A gente tinha que pagar para ver o médico. Aqui, em Rosário - município maranhense -, tinha um médico só e a gente ia na casa dele para ser atendida quando acontecia alguma coisa", contou.
Na estratégia adotada pelo SUS não há hierarquia entre os níveis de governo, mas cada uma das esferas - federal, estadual e municipal - tem competências distintas. O principal financiador da saúde pública no país é a União que, também, tem a responsabilidade de formular políticas na área. Essas políticas devem ser implementadas por estados e municípios. Cabe aos governos estaduais organizar o atendimento em seu território e aos municípios gerir as ações e os serviços ofertados à população. Eles - os municípios - são os principais responsáveis pela saúde de seus habitantes. Se um município não tem todos os serviços, deve pactuar com cidades vizinhas o encaminhamento das demandas a outras localidades onde eles são encontrados.
Atualmente, segundo dados do Ministério da Saúde, são feitos, a cada ano, na rede do SUS, 3,7 bilhões de procedimentos ambulatoriais, 531 milhões de consultas médicas e 11 milhões de internações. O Sistema Único de Saúde também é considerado o maior sistema público de transplantes de órgão do mundo, além de responder por 98% do mercado de vacinas e por 97% dos procedimentos de quimioterapia. Entre os anos de 2010 e 2012, foram feitos 32,8 milhões de procedimentos oncológicos por meio do SUS.
Diante da dimensão do SUS, para que a rede funcione em harmonia, a porta de entrada deve ser a atenção básica, formada pelos postos e centros de saúde, além das unidades do Programa Saúde da Família. Estudos demonstram que esse estágio de atendimento é capaz de resolver aproximadamente 80% dos problemas de saúde. Somente após passar pela atenção básica, o paciente deve ser encaminhado, se necessário, a outros serviços de maior complexidade, como hospitais e clínicas especializadas, onde são feitos exames, consultas e algumas cirurgias (média complexidade) e procedimentos que envolvem tecnologia mais avançada, como os de traumato-ortopedia, cardiologia, terapia renal substitutiva e oncologia (alta complexidade).
Um dos principais problemas na implantação do SUS, segundo especialistas, autoridades e profissionais, é que a atenção básica não dá conta desse papel inicial, de funcionar como porta de entrada do sistema, e as unidades de média e alta complexidade acabam sobrecarregadas. Muitas vezes, as doenças dos pacientes encaminhados aos hospitais poderiam ser evitadas, com ações mais efetivas na área da prevenção ou tratadas em estágio inicial. Nesse primeiro nível de atenção à saúde, segundo o modelo brasileiro, a população tem acesso a especialidades básicas: clínica geral, pediatria, obstetrícia e ginecologia.
Thaís Leitão
Repórter da Agência Brasil/EBC
Edição: Marcos Chagas
Agência Brasil/EBC www.agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2013-08-19/criado-ha-25-anos-sus-ainda-enfrenta-desafio-na-qualidade-de-atendimento
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