Gente que faz saúde
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    Gente que faz saúde
    Autor: SINDSAÚDE-SP
    06/04/2006

    Crédito Imagem:

    Este ano o Dia Mundial da Saúde é dedicado aos profissionais da saúde. No Brasil, são dois milhões e meio. Na rede pública estadual de São Paulo, são 90 mil.

    E quem são esses trabalhadores e trabalhadoras?

    Parte tem o nível superior. Fazem o diagnóstico, tratam a doença, medicam, ajudam a restabelecer o corpo, a mente, elaboram a dieta alimentar, manipulam medicamentos, pesquisam novos tratamentos, novas formas de melhorar a saúde da população.

    Mas há muito mais profissionais envolvidos. São aqueles que dão a medicação, o banho no paciente, o alimentam. Fazem o curativo, aplicam a injeção, as vacinas. Dirigem as ambulâncias. No subterrâneo dos hospitais, lavam as roupas usadas nos andares de cima. Trocam as lâmpadas queimadas, consertam as torneiras. Fazem os prontuários. Zelam pela segurança dos usuários e trabalhadores. Sem essa gente não se faz saúde.

    Reconhecimento internacional

    Pensando em valorizar essa gente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deliberou homenageá-los neste Dia Mundial da Saúde, partindo do pressuposto de que o investimento nesses profissionais resultará em melhores condições de saúde e qualidade de vida no mundo.

    Descaso em São Paulo

    Na contramão, o Governo do maior Estado do País não tem esse olhar. Há mais de 10 anos, vem desmontando a saúde pública, com o objetivo de transformá-la em serviço rentável, restringindo o acesso da população e relegando os profissionais públicos da área ao descaso.

    Dos hospitais que prestam serviços ao SUS em São Paulo 68% são privados. Portanto, se a gestão privada funcionasse melhor do que a pública o atendimento hospitalar não teria os problemas que tem hoje.

    Mesmo estrangulada, a rede pública estadual responde por mais de 60% do atendimento. Não há uma política de contratação para reposição de pessoal, muito menos para ampliação do quadro. A falta de profissionais tornou-se crônica, submetendo a população à longa espera por atendimento. Não bastasse esse calvário, usuários sofrem com falta de material, medicamentos e equipamentos quebrados.

    Improviso vital

    Para os funcionários, essa realidade é muito mais cruel, pois convivem com ela 24 horas por dia, todos os dias. Ora sem luvas, ora sem medicamentos, ora sem equipamento, ora sem médico, ora sem auxiliar, ora sem segurança... E foram se aperfeiçoando na difícil tarefa de improvisar, burlando a falta de tudo, na urgência de salvar vidas. Na aflição de amenizar a dor e o sofrimento de pacientes e seus familiares encontraram a força para não desistir de sua missão.

    Trabalhando doente

    Essa realidade é o dia-a-dia dessa gente que faz saúde, até que chega a hora de seu próprio calvário e adoecem. Apesar da escassez de dados sobre a saúde do trabalhador da saúde, as péssimas condições de trabalho e atendimento afetam profundamente esse profissional. Para piorar, mesmo doente continua trabalhando, porque se sair de licença médica perde grande parte do salário que já não é muito. Para agravar, recentemente a Secretaria Estadual da Saúde autorizou plantões extras que os funcionários poderão realizar em suas folgas. Quando descansarão?

    Remuneração punitiva

    O salário dos trabalhadores da saúde no Estado é um amontoado de gratificações, que não são bonificações como se conhece na iniciativa privada, mas uma forma de reajustar salário burlando outros encargos relacionados. O salário base representa cerca de 15% do salário total e os outros 85% são gratificações. A GEA (Gratificação Especial de Atividades) é a maior delas.

    Um médico recebe um salário base de R$ 217,05. Um enfermeiro ou psicólogo, R$ 187,82. Um auxiliar de enfermagem, R$ R$ 90,22. Um oficial administrativo, R$ 94,90. Um auxiliar de serviços, R$ 67,14.

    Tomando-se como exemplo o auxiliar de enfermagem, sua remuneração total é de R$ 737,50. Desse valor, R$ 450,75 é a GEA que perde, caso adoeça e seja obrigado a ficar afastado do trabalho mais de 45 dias, restando minguados R$ 286,75, quando mais precisa do dinheiro.

    Enquanto isso, o atual Governo do Estado vem desde o começo de sua gestão valorizando significativamente os cargos de confiança que somente em 2005 tiveram aumento de até R$ 3.000,00. Sem contar que a verba especifica da saúde é desviada para programas de outras secretarias, como o Vivaleite, alimentação de presidiários e aposentadorias.

    A média salarial da Secretaria da Fazenda, que cuida da arrecadação de tributos, é de R$ 5.000,00. Na Saúde, que cuida da população, é de R$ 1.200,00, sendo que 90% dos trabalhadores recebem abaixo dessa média.

    Essa é uma pequena parte da história da gente que faz saúde em São Paulo.

    A homenagem que a OMS presta nesse momento é o justo reconhecimento desse trabalho. Mais do que isso é um estímulo para que esses trabalhadores e os usuários da saúde continuem lutando para acabar com o desrespeito com que a saúde da população é tratada em São Paulo e agora para que essa política nefasta não se alastre pelo País inteiro.

    Célia Regina Costa
    Presidente do Sindsaúde-SP









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