É preciso desconstruir o machismo reinante
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    É preciso desconstruir o machismo reinante
    Autor: Editorial SindSaúde-SP
    23/07/2021

    Duas publicações recentes mostram que a pandemia de Covid-19 recrudesceu todas a formas de violência de gênero e que o confinamento se tornou um verdadeiro martírio para muitas mulheres. O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2021, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que o feminicídio cresceu neste último um ano e meio de crise sanitária, ao mesmo tempo em que caíram as queixas prestadas nas delegacias de polícia, pois a maioria das vítimas está ao lado de seus algozes.

     

    Outro estudo, feito pela Internacional de Serviços Públicos em parceria com o sindicato sueco Kommunal, retrata a violência no ambiente de trabalho de saúde em países como Brasil, Chile, Colômbia e El Salvador. Mais uma vez, as mulheres são as principais vítimas de crimes que vão de assédio moral e sexual a outros tipos de violências.

     

    Não bastasse a existência do coronavírus significar um sofrimento por si só na vida de muitas trabalhadoras da saúde, potencializou-se nesses tempos estranhos que vivemos outros tipos de brutalidades, que infelizmente já eram bastante comuns nos ambientes de trabalho. O estudo da ISP é apenas uma fotografia desse universo duro e cruel, com a finalidade de desvelá-lo para que se busque saídas protetivas a essas trabalhadoras.

     

    Nesse aspecto, o papel dos sindicatos se torna extremamente importante, não somente para falar e colocar todos os dedos nas feridas, mas, principalmente, para ser um espaço de alento no qual as vítimas podem encontrar apoio.

     

    Macho demolidor

    Esses estudos retratam um cenário de crueldade e, quando colocamos a lupa um pouco mais perto, constatamos que ambos trazem no bojo as relações de poder que vigoram em nossa sociedade patriarcal, em que em uma das pontas há a figura do macho e na outra, o objeto que se quer dominar.

     

    Muitas das vítimas de feminicídio foram mortas por seus companheiros ou ex-companheiros, como mostra o anuário (mais de 80% dos casos).  Normalmente, são homens que não aceitam o término da relação ou que simplesmente fazem da mulher o saco de pancada de suas frustrações.

     

    Esse é também o lugar comum nas relações de trabalho. Não é incomum que os machos em cargos de poder, muitas vezes inseguros de sua virilidade, usem de sua posição para tentar dominar a vítima.

     

    A desconstrução do macho

    Porém, quando a sociedade tem a coragem de nomear as coisas pelos nomes que têm, saídas podem ser encontradas.

     

    Há alguns anos, o Ministério Público de São Paulo iniciou um projeto de ressocialização dos agressores de mulheres. Trata-se do projeto “Tempo de Despertar”, que se originou em 2014, em Taboão da Serra, e que tem trazido resultados positivos.

     

    Até 2019, foram atendidos pelo projeto 500 homens autores de violência, principalmente contra suas companheiras ou ex-companheiras.

     

    Por meio das reuniões quinzenais, eles são educados a respeito das leis que tratam de violência doméstica, como a Lei Maria da Penha, a fim de que entendam que não há pequena, média ou grande violência, que um tapa é, afinal, tão violento quanto um tiro ou um xingamento.

     

    Nessa espécie de reabilitação, os homens, juntos, aprendem a romper o ciclo de violência doméstica e a desconstruir as noções equivocadas de masculinidade, agressividade e machismo.

     

    Além disso, também aprendem a sentir culpa, pois somente a partir dela a conscientização, a reflexão, o arrependimento e o perdão são possíveis.

     

    O resultado é que, até 2019, caiu de 65 para 2% a reincidência deles nesses tipos de crimes. É um primeiro passo importante, que dá a chance para o outro lado de confrontar a sua (des)humanidade.

     

    Que mais iniciativas como essa sejam implantadas para que se construa uma sociedade em que a mulher possa existir sem medo de ser quem é. 

     

    Para saber sobre o estudo da ISP, clique em http://sindsaudesp.org.br/novo/noticia.php?id=7066


    Para conhecer o anuário, clique em http://sindsaudesp.org.br/novo/noticia.php?id=7069